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Jesus, Tiradentes e mãe chorando: principais momentos do discurso de Witzel

Governador afastado Wilson Witzel (PSC-RJ) durante defesa por videoconferência na Alerj - Reprodução/TV Alerj
Governador afastado Wilson Witzel (PSC-RJ) durante defesa por videoconferência na Alerj Imagem: Reprodução/TV Alerj

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

24/09/2020 04h00

O governador afastado do Rio de Janeiro do Rio, Wilson Witzel (PSC), fez a sua defesa contra o relatório de impeachment na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) por videoconferência na noite de ontem. Entre as suas palavras se destacam: a comparação com Tiradentes e Jesus Cristo e "filho de empregada".

Por unanimidade, a Alerj aprovou a admissão do processo de impeachment contra Witzel. "O que tem acontecido é algo absolutamente injusto. Não tive o direito de falar nem na Assembleia nem nos tribunais. Estou sendo linchado moralmente, linchado politicamente, sem direito de defesa", disse ao abrir o discurso.

Segundo ele, a "injustiça" que vive é comparável à vivida pelo herói da inconfidência mineira, Tiradentes, e também Jesus Cristo: "Agradeço a oportunidade, senhor presidente André Ceciliano, por exercer o meu sagrado direito de defesa nessa histórica tribuna, ainda que virtualmente, do Palácio que leva o nome de Tiradentes, símbolo da luta pela liberdade e contra a opressão. Tiradentes que foi delatado, vendido, morreu enforcado e as partes do seu corpo foram jogadas em praça pública para servir de exemplo para a tirania".

A tirania escolhe suas vítimas e as expõem para que outras não mais se atrevam. Felizmente, a História mostra que mártires nunca morrem. Exemplos sempre são seguidos e exemplo maior nosso [é] Cristo Jesus, delatado e vendido entre seus apóstolos."

Witzel citou os processos de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Fernando Collor. "Eu tenho exemplos de erros que a História não pode reparar. O presidente Collor foi vítima de um impeachment. Em 2014, ele foi absolvido. A frase dele no Senado foi: 'Quem poderá me devolver o que me tiraram?'".

Ele citou ainda a sua história familiar, citando sua mãe e seu pai: "A minha vida sempre foi igual à de muitos brasileiros, muitos aí que vieram das comunidades, do morro, sonhando com dias melhores. Não são diferentes de mim. Passei por vários cargos públicos, mas sou filho de uma empregada doméstica, que hoje chora pelo que está acontecendo comigo. Meu pai, metalúrgico, chora pelo que está acontecendo comigo."

Ao se defender, acusou os deputados ali presentes de também de terem sido omissos e convidou para que todos renunciassem junto com ele. "Se as máfias continuaram atuando no estado do Rio de Janeiro, não é só a minha omissão que deve ser considerada, mas a de todos nós. Por aí dizem: 'Governador, renuncie'. Então vamos fazer o seguinte: renunciamos todos e fazemos eleição no Rio de Janeiro para deputado e para governador".

Porque todos somos omissos, todos aqui temos responsabilidade. Não queiram colocar só nos meus ombros a responsabilidade porque os senhores e as senhoras também foram omissos. Infelizmente, até o presente momento, só eu estou sofrendo linchamento moral."

Ele questionou o papel de fiscalização dos deputados a quem se referiu como "engenheiros de obra pronta." "Só eu não vi isso? Os senhores, as senhoras [parlamentares] foram a algum hospital? Foram lá contar quantos médicos estavam de serviço? Foram checar os contratos? O senhor foi lá, seu Renan Ferreirinha? Pegou o contrato das OSs? O senhor, como deputado, era seu papel", afirmou o governador.

Em mais de uma vez, o governador se exaltou ao falar com os deputados. "A porta sempre esteve aberta, mas quantos sentaram comigo? Poucos estiveram lá. Se eu fui omisso, todos os senhores são omissos. Se prevalecer esse entendimento, não teremos mais mandatos terminados no Brasil. O governador de Santa Catarina, que não agrada a base dos deputados porque talvez não faça a política que assim desejam, já está no mesmo processo que hoje me encontro. A esquerda que diz que a presidenta Dilma teve um golpe de estado, hoje não vi nenhuma voz ser levantada."

"Peço perdão pela minha sinceridade, mas como magistrado que fui, minhas decisões sempre foram justas, baseadas em meus princípios, e eu não poderia deixar aqui, sem ofender esse parlamento, mas chamar-lhes à responsabilidade. Vossas excelências pouco compareceram ao Palácio Guanabara. Durante a pandemia, eu fiquei praticamente isolado para tomar as decisões. Ninguém apareceu para discutir os projetos dos hospitais de campanha. Mas iam para a imprensa para reclamar."

Não abrirei mão da minha defesa. Não abrirei mão do meu mandato."

O processo de impeachment

O plenário da Alerj aprovou ontem o encaminhamento do processo de impeachment do governador afastado do Rio ao TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).

Depois que o TJ acolher o documento, Witzel passará a ficar "duplamente afastado" — isso porque ele já havia sido afastado do cargo por 180 dias pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) no final de agosto. Ele terá até seis meses para fornecer suas alegações a um tribunal misto —composto por cinco deputados e cinco desembargadores.

Os parlamentares aprovaram o relatório produzido pela Comissão de Impeachment da Alerj, que aponta supostas irregularidades cometidas por Witzel em compras e renovações de contratos para a área da saúde durante a pandemia do coronavírus. Em 77 páginas, o relator do processo de impeachment, Rodrigo Bacelar (Solidariedade), recomendou na semana passada que o plenário da Alerj opinasse em relação a supostas irregularidades praticadas pelo governo afastado.

A revogação por Witzel da desqualificação do contrato do Instituto Unir Saúde —que teria como sócio oculto o empresário Mário Peixoto, preso em maio— e supostos superfaturamentos em compras para combate à pandemia são mencionados. Em um trecho, Bacelar afirma não encontrar motivos para repasses de "vultuosos valores a uma empresa que foi punida por comprovadamente não prestar o serviço em sua plenitude" e diz que há "fortes indícios de dano ao erário".