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Após prisão, Cristiane Brasil critica cadeias e cogita deixar política

Cristiane Brasil era pré-candidata à prefeitura do Rio de Janeiro, mas agora quer abandonar a política - Reprodução/Twitter
Cristiane Brasil era pré-candidata à prefeitura do Rio de Janeiro, mas agora quer abandonar a política Imagem: Reprodução/Twitter

Colaboração para o UOL

23/10/2020 09h40Atualizada em 23/10/2020 10h43

Cristiane Brasil, ex-deputada federal pelo PTB, ficou na cadeia por um mês e disse ter se assustado com a situação das presas do país. Ela comentou que viveu momentos de terror e pânico, por isso cogita mudar completamente de vida: deve desistir da política e fazer um projeto social para ajudar presidiárias e suas famílias. Em entrevista à revista Época, a filha de Roberto Jefferson (PTB) criticou o sistema judiciário do Brasil e também a Operação Lava Jato, que ela sempre defendeu.

A ex-deputada e outras cinco pessoas são suspeitas de terem participado de um esquema de fraudes entre 2013 e 2018 que desviou R$ 120 milhões do governo e da prefeitura do Rio, segundo investigação do Ministério Público do Rio. Ela nega as acusações e se diz inocente.

Cristiane reclamou de toda estrutura da prisão onde ficou, o Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Ela relatou problemas com esgoto, comida e até bichos, mesmo estando na melhor parte da prisão, para pessoas com diploma (Cristiane é formada em direito).

"É terror e pânico. Na cela em que fiquei confinada 14 dias, caía esgoto da galeria de cima. O prédio está caindo aos pedaços, cheio de barata, rato e cupim. Eu fiquei num confinamento dentro do confinamento. As presas novas têm de passar esse tempo separadas por causa da Covid. A alimentação é ruim. Eu sou vegetariana. Só vinha uma carne, arroz, feijão e farofa. Então eu comia arroz e feijão todo dia, além de pão. Não tem café. É uma mistura de cevada com um pouco de pó de café com sei lá o quê, vem melado... Não tem como as pessoas ficarem com saúde ali, entendeu? É bizarro. Às vezes vinha pedra de sal no arroz e feijão. Você pensa: 'Meu Deus, querem matar os presos'. Mas dentro do possível a administração fazia o melhor", disse Cristiane na entrevista.

Cristiane disse ter entendido que a prisão não faz a função de recuperar os presos para que eles voltem a viver em sociedade.

"Não existe ressocializar ninguém ali. Um dia eu caí no chão ao subir para a cama de cima. Fez até barulho. Sorte que sou faixa preta de caratê. A parede estava forrada de cupim. Enchi tanto o saco que colocaram remédio. Foi um absurdo de barata morta no dia seguinte. Tiravam pás de baratas", relatou a ex-deputada.

Críticas à Lava Jato

Em outro momento da entrevista, Cristiane criticou a Operação Lava Jato, dizendo que "estamos vivendo um novo período de inquisidores", e afirmou que o poder Judiciário comete exageros.

"Fiquei perplexa com o entendimento do Judiciário de que prender todo mundo é bom, de que precisa prender em massa. Fizeram um espetáculo no meu prédio em Copacabana. Sorte que eu tinha dormido na casa de uma pessoa naquela noite. A sociedade incrimina, bota o dedo na cara, na ferida, diz: 'Se ela foi acusada, tem alguma coisa a ver com isso, ninguém vai preso à toa'. Vai, vai preso à toa, sim. E isso é irreparável", analisou ela.

"Sou pobre"

Cristiane, que chegou a ser pré-candidata à Prefeitura do Rio pelo PTB, afirmou que não deve seguir na política, pois ficou "pobre" e tem outros objetivos.

Eu não tenho mais carro, tenho dívida no banco, de cartão de crédito. Saindo hoje da política, terei tido mais prejuízo do que vantagem. Sou pobre. Os advogados que advogam para mim trabalham de graça. Não tenho fortuna
Cristiane Brasil

"Vou me dedicar a estudar. De repente fazer alguns cursos, ou até voltar a advogar, entendeu? Me aprimorar em direito penal. Quem sabe eu não abra um projeto social para ajudar os familiares dos presos, principalmente das presas? Para que as famílias saibam o que fazer quando têm um familiar preso. A quem recorrer? Como são as regras do presídio tal? Como levar alimentos e bens duráveis? É infernal".