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Caso Nhonho: É a terceira vez que Salles atribui erros e polêmicas a outros

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

29/10/2020 14h22Atualizada em 29/10/2020 14h22

O ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, disse que houve "utilização indevida" da sua conta no Twitter ao chamar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de "Nhonho". Esta é a terceira vez que ele atribui erros e polêmicas que o envolvem diretamente a terceiros.

A referência ao personagem do programa humorístico Chaves foi postada pela conta de Salles na noite de ontem (28). De madrugada, o ministro voltou ao Twitter para dizer que sua conta foi utilizada "indevidamente" no episódio com o presidente da Câmara. O UOL não teve acesso à mensagem enquanto ela esteve no ar. Na manhã de hoje, seu perfil havia sido excluído.

Ao UOL o ministério informou que Salles enviou mensagem diretamente a Rodrigo Maia explicando que não publicou a ofensa e que "vai apurar a utilização indevida de sua conta". A pasta não respondeu, no entanto, se houve confirmação da invasão da conta.

Esta é pelo menos a terceira vez em que Salles atribui a terceiros erros e polêmicas que envolvem seu nome diretamente.

Em fevereiro de 2019, o site The Intercept Brasil revelou que o ministro nunca estudou na Universidade Yale, nos Estados Unidos, e não obteve o título de mestre em direito público pela instituição.

A suposta formação de Salles em Yale havia sido veiculada, à época, pelo programa Roda Viva, da TV Cultura. A produção do programa declarou que a "imprecisão" não partiu de Salles e que as informações foram obtidas de um perfil do ministro publicado no site Nexo.

O Nexo, por sua vez, informou ter usado um currículo de Salles publicado na Folha de S.Paulo. Trata-se de um artigo publicado por ele em 2012, na seção Tendências/Debates, que trazia em sua biografia o mestrado na universidade americana. Salles, então, atribuiu o equívoco à sua assessoria de imprensa.

Neste ano, Salles voltou a se desviar de uma polêmica que o envolvia. Em meio à reunião ministerial de abril que desencadeou em um inquérito que investiga o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ministro disse que a pandemia seria uma chance de "passar a boiada".

O vídeo da reunião foi liberado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em maio após afirmação do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, e teve um impacto muito negativo para o governo. Salles, no entanto, afirmou que a culpa disso era de quem havia divulgado o vídeo.

"A fala foi interna e não deveria ter sido divulgada. Essas declarações foram em uma reunião fechada, entre ministros que conhecem o assunto. Portanto, dá para ser direto, sem explicação. Não se faz essa declaração esperando uma divulgação. Se teve erro, o erro foi de quem divulgou o conteúdo de uma reunião interna", declarou Salles, em entrevista à Rádio Eldorado no início de junho.

Como ministro, também

Não é só no âmbito pessoal. Salles também já delegou responsabilidades por falhas à frente do Meio Ambiente. Em entrevista à Rádio Jovem Pan em setembro, ele afirmou que o aumento das queimadas no Pantanal eram culpa de "visão ideológica".

"Quando você proíbe fazer o uso de fogo preventivo em período adequado, o chamado 'fogo frio' ou 'queima controlada', vai acumulando massa orgânica e, quando pega fogo, ninguém controla. E o pessoal nos estados, ao invés de apoiar e incentivar o uso do fogo controlado, por uma questão de visão ideológica [não incentivou]. Então, temos a ausência do uso controlado do fogo, por questão ideológica", disse.

O ministro apontou a impossibilidade do crescimento de pastagens como motivo. "Houve uma retirada, ou diminuição substancial do gado criado solto, o gado a pasto. Essa perseguição contra a pecuária extensiva no Brasil. Com isso, cresce muito capim, mato, e queima muito", disse.

Na semana passada, Salles afirmou em audiência pública no STF, que o governo Bolsonaro herdou o desmonte ambiental de governos anteriores e culpou a Noruega pela paralisação do Fundo Amazônia, afirmando que o país europeu discordou de modificações feitas pelo governo na gestão dos recursos.