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Oposição vê ação de Trump como precedente grave à democracia e ao Brasil

Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, em reunião em Washington D.C, em 2019 - Mark Wilson/Getty Images
Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, em reunião em Washington D.C, em 2019 Imagem: Mark Wilson/Getty Images

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

04/11/2020 10h22

Líderes da oposição no Congresso Nacional veem a ação do presidente e candidato à reeleição, Donald Trump, em se autodeclarar vitorioso na eleição americana como um precedente grave à democracia e ao clima político no Brasil, já levando em consideração a eleição presidencial de 2022.

Embora Trump tenha se declarado vencedor, o resultado ainda está indefinido. Ele quer parar a contagem de votos que chegarem pelos correios — forma de envio estimulada pelo concorrente Joe Biden aos próprios eleitores em meio à pandemia — e ameaça ir à Justiça.

A oposição tem receio de que a atitude de Trump seja imitada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no próximo pleito, dado o histórico de falas dele sobre o sistema eleitoral brasileiro e ações semelhantes às de Trump. Sem apresentar provas, em março deste ano, Bolsonaro disse que as eleições de 2018 foram fraudadas e que ele deveria ter ganho no primeiro turno. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nega quaisquer irregularidades.

O líder da Minoria no Senado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), diz que a atitude de Trump é uma "ameaça à democracia em escala global", pois líderes que se inspiram nele podem passar a se comportar assim em seus respectivos países, avalia.

"Espero que a situação nos Estados Unidos se estabilize, seja qual for o resultado. Que esse vencedor seja proclamado dentro das regras do jogo democrático. Estamos em um momento crucial, com reflexos não só para o Brasil", falou.

O líder da Minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), considera que a ação de Trump é uma "tentativa de golpe" e um "gravíssimo precedente" que altera o jogo político mundial, caso Biden seja o verdadeiro vencedor pelos votos e colégios eleitorais. "Esse precedente pode virar moda no Brasil", afirmou.

A líder do Psol na Câmara, deputada Sâmia Bomfim (SP), lembra que, assim como Trump, Bolsonaro questiona o modelo e a confiabilidade das eleições. No caso do Brasil, a suspeita é especialmente em relação às urnas eletrônicas. Ela também cita similaridades entre discursos em que se projetam como sendo "antipolítica" e líderes do que classifica como extrema-direita.

"Por isso, é sim preocupante para o Brasil a autodeclaração de vencedor de Trump, pois Bolsonaro tende a reconhecê-lo como reeleito e pode reproduzir o mesmo em 2022. São partes do mesmo projeto político internacional, autoritário, auto centrado, sem compromisso com a verdade, sem respeito à soberania popular. Devemos nos atentar para que aqui as eleições possam ser preservadas e respeitadas", declarou.

A líder do Cidadania no Senado, senadora Eliziane Gama (MA), concorda que posturas de Trump tem servido de inspiração a Bolsonaro e vê semelhanças em discursos e comportamentos, como tendência a duvidar das instituições. No entanto, ressalta diferenças nos sistemas eleitorais americano e brasileiro.

"Para os dois, as instituições só são válidas se estiverem ao lado deles. Pensando dessa forma, há um risco grande de as atitudes do presidente Trump contaminarem o ambiente político brasileiro e as eleições de 2022. Entretanto, o sistema eleitoral americano é muito distinto do nosso. As ameaças que Trump fez de judicializar as eleições e a autodeclaração de vitória antes da apuração total de votos não cabem na democracia brasileira. Mesmo que o presidente Bolsonaro se sinta encorajado pelas atitudes de Trump, não acredito que a mesma fórmula funcione na nossa democracia", afirmou.

Para a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), Trump dá claro sinal de que não aceita perder e, por isso, mobiliza sua base a não acatar um eventual resultado negativo para ele.

"Se tivéssemos um Itamaraty sério, já teria se pronunciado demonstrando preocupação com essa postura de não aceitar resultados eleitorais", disse.