Novo senador do RJ critica a "criminalização da amizade" na política
Novo senador pelo Rio de Janeiro, o advogado Carlos Portinho (PSD), 47, chega a Brasília defendendo um "expurgo" dos maus políticos, mas com críticas à "criminalização da amizade" na política.
Portinho assumiu nesta terça-feira (3) a vaga no Senado deixada por Arolde de Oliveira (PSD-RJ), morto ao 83 anos, no mês passado, em decorrência de complicações da covid-19. Ele era o primeiro suplente na chapa de Arolde. O estado do Rio tem três senadores —Flávio Bolsonaro (Republicanos) e Romário (Podemos) são os outros dois.
Advogado especializado em direito esportivo, o atual senador trabalhou na diretoria do Flamengo em 2001 e 2002. Na política, foi assessor parlamentar do então deputado federal Indio da Costa, também um dos fundadores do PSD. Teria partido de Indio, preso no ano passado, a sua indicação para a suplência na candidatura encabeçada por Arolde.
Ele também foi secretário de Eduardo Paes (DEM), que tenta voltar à Prefeitura do Rio, e subsecretário de Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, além de integrar o governo de Luiz Fernando Pezão (MDB). Nas eleições de 2016, tentou, sem sucesso, como vereador do Rio.
"Acho que criminalizar as amizades não é correto. Como agente público, por onde passei, tive uma gestão elogiada", disse Portinho, em entrevista por telefone ao UOL, ontem (5).
Quais as prioridades do senhor como senador?
A questão da partilha dos royalties [do petróleo]. Não é só uma questão que afeta e impacta ao Rio, mas a outros estados. A Lei do Gás, de igual forma, é uma pauta muito importante para os estados. Temos o desafio do desenvolvimento econômico do Rio. A questão do saneamento, das comunidades e como os estados vão poder enfrentar isso.
O senhor não é uma figura muito conhecida do eleitorado do Rio. Como fazer com que o eleitor se sinta representado?
A política vem sendo muito criminalizada, embora seja a maneira de resolver e poder contribuir para as questões sociais e econômicas. Acredito que minha posse representa a oportunidade para uma nova geração. Me preparei para estar aqui.
Tinha uma vida muito confortável na iniciativa privada, mas, em 2014, enxerguei este momento que a gente vive hoje. Havia a necessidade de pessoas que se prepararam, que têm boas intenções, que possam ocupar seu lugar na política justamente porque acho que a gente vai viver o momento do expurgo, digamos assim, dos maus políticos e é preciso que haja essa renovação.
O PSD é um partido tido integrante do centrão, que se aproximou de Jair Bolsonaro. O senhor é um aliado do presidente?
Votei no presidente Bolsonaro, mas confesso que a posição do meu partido tem diversas matizes, e nunca foi um problema isso para o posicionamento tanto do partido quanto de seus parlamentares.
Em relação à pauta de costumes, bastante defendida pelos bolsonaristas, qual a sua opinião?
Respeito opiniões diversas. Não tenho nenhum problema em dialogar com pautas sociais ou ditas de esquerda. Mas, sem dúvida, tinha uma convergência com o Arolde na questão da família. A gente tem que preservar os valores de família e principalmente da pátria. Dentro disso, posso ter pontos de divergência, como tenho, com relação à política de gênero. Estou preocupado em preservar os direitos e as garantias fundamentais das pessoas.
Como enxerga a investigação de Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas?
Tudo o que é revelado pela imprensa e pelo Poder Judiciário, que tenha fundamento, é absolutamente relevante para que o eleitor possa, com clareza, compreender. Não falo pessoalmente do senador Flávio, mas dos políticos de modo geral. As práticas velhas da política estão perdendo espaço hoje na sociedade. Defendo que cada um responda pelos seus atos.
A criminalização da amizade não é uma coisa correta. Falo isso até porque não tenho amizade pessoal com o senador Flávio. Não tenho relação próxima nem política com ele. Vou tratá-lo como vou tratar todos os senadores, porque é um dever institucional.
Como o senhor enxerga a situação de Flávio no Conselho de Ética?
Eles vão dar o seu curso assim que as atividades voltarem ao normal. Não vejo de outra forma.
Acredita que ele deve ter o processo aberto?
Não vou personificar, até porque não há só esse processo. Vou tomar pé quando retomarem o andamento desses processos e vou poder avaliar do ponto de vista jurídico.
O senhor trabalhou com Pezão e Indio da Costa, ambos foram presos por suspeita de corrupção. Como explicar ao eleitor que votou em Arolde de Oliveira, que se disse alinhado ao bolsonarismo e representaria uma nova política, que práticas antigas não vão ocorrer no seu mandato?
Tenho um relacionamento, e devo ter pela função de vice-presidente do meu partido, com toda a classe política, mas cada um responde por si. Como disse, criminalizar as amizades não é correto. Como agente público, por onde passei, tive uma gestão elogiada. Nenhum dos eventos que podem estar relacionados às pessoas a que se referiu diz respeito a mim.
Qual a sua opinião sobre o processo de impeachment contra o governador afastado Wilson Witzel?
É uma crise política institucional que o Rio de Janeiro vive. A gente vai ver um expurgo na política, onde os maus políticos, e se for o caso do governador, como ao que parece pelo que tenho lido pela imprensa, ele será também vítima desse expurgo. Vejo positivamente, porque assim é que a gente vai renovar.
A Prefeitura do Rio anunciou a última etapa da flexibilização do isolamento social na cidade. É o momento para relaxar o isolamento?
Até a vacina, o risco existe, está no ar, é o mesmo que havia no início da pandemia. Acho que a gente pode hoje ter mais medidas protetivas e, principalmente, o que defendo é o distanciamento físico.
O Rio de Janeiro demorou para fazer o seu lockdown no início. Pagou caro por isso ocasionando um número maior de mortes. Não pode cometer o mesmo erro.
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