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Com avanço do centro, Bolsonaro busca partido para unir eleitor da direita

15.nov.2020 - Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vota no Rio de Janeiro - THIAGO RIBEIRO/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
15.nov.2020 - Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vota no Rio de Janeiro Imagem: THIAGO RIBEIRO/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Guilherme Mazieiro*

Do UOL, em Brasília

17/11/2020 04h00

Com o avanço de partidos de centro nos municípios brasileiros, Jair Bolsonaro, hoje sem partido, trabalha para unir suas bandeiras em uma legenda de direita e ter estrutura partidária para as eleições de 2022. Segundo aliados do presidente, o resultado das urnas preocupou a base porque o eleitorado se dissolveu em diferentes siglas, como Republicanos, Patriota, Podemos e PSL.

Como cabo eleitoral, Bolsonaro defendeu 13 candidatos a prefeito, 9 deles fracassaram. Mão Santa (DEM) e Gustavo Nunes (PSL) se elegeram em Parnaíba (PI) e Ipatinga (MG). Outros dois foram para o segundo turno, Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio de Janeiro e Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza.

Desde que deixou o PSL, há um ano, Bolsonaro tenta criar o Aliança Pelo Brasil. A legenda não foi estruturada a tempo das eleições deste ano, com isso, aliados do presidente se dividiram em diferentes grupos de centro-direita.

Ex-aliados de Bolsonaro, como o ex-ministro Sergio Moro, também buscam o eleitorado à direita. Recentemente, o ex-juiz da Lava Jato se reuniu com o apresentador da Globo Luciano Huck, cotado por partidos de centro para disputar a Presidência em 2022. Dentro do MBL (Movimento Brasil Livre), por exemplo, a interpretação dos resultados das urnas é a de que conseguiram abocanhar parte do eleitorado bolsonarista.

Interlocutores do presidente disseram ao UOL que há movimentação para que Bolsonaro tenha, o quanto antes, um partido que aglutine suas forças, seja o Aliança ou outra legenda. O entendimento é que o centrão serve como sustentação política do governo e não como cabo eleitoral para as eleições.

Integrantes da ala ideológica do governo fizeram autocrítica nas redes sociais, pedindo uma estruturação do grupo. O grupo critica os militares do governo, a quem atribuem uma participação política sem glutinar forças e sem a preocupação de trazer votos.

Na semana passada, o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, deram declarações públicas para afirmar que as Forças Armadas não têm papel político no governo.

O assessor especial para Assuntos Internacionais Filipe Martins, entende que "a esquerda se renovou e assimilou as lições de 2018" e o preço a ser pago pode ser ainda maior pela sua ala política.

Aliança de Bolsonaro

O secretário-geral do Aliança, Admar Gonzaga, disse ao UOL que ainda não há uma avaliação do grupo sobre as eleições, mas pessoalmente entende que o eleitor ainda não tem representatividade à direita no estilo Bolsonaro.

"O problema é que a direita não tem um partido ainda. Não tem local para abrigar seus candidatos, as pessoas ligadas a questão mais à direita na ordem política. Então a coisa ficou muito solta entre partidos diversos que não trazem esse tipo de representação", disse Admar.

Para Admar, o PSL cumpriria esse papel, mas o partido que Bolsonaro abandonou há um ano, não tem mais identidade com o presidente. Segundo ele, o Aliança será um partido de "centro-direita, porque partido de direita todo mundo já quer associar a golpe de estado, essas coisas que não são intenção de quem é de direita", disse.

"[O Aliança pode representar o presidente] com certeza, a não ser que um outro partido queira fazer um realinhamento para absorver esse eleitorado. Mas não vejo esse movimento. Seria um movimento interessante, porque existe cliente. Existe um eleitorado muito interessado nesse tipo de espaço", afirmou.

Centrão

Na política institucional do Congresso, Bolsonaro conta com base de apoio do centrão — grupo informal formado por PP, PSD, Republicanos, Pros. O discurso entre os políticos do grupo é de que Bolsonaro foi vencedor junto com o centro.

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), em entrevista ao UOL disse que, na avaliação dele, o presidente foi vitorioso com o avanço do centro, por ter diminuído o espaço da esquerda.

"Dizer que o presidente Bolsonaro perdeu as eleições é uma falácia. Pelo contrário, ele foi vitorioso, porque o seu adversário ele conseguiu combater. Não eliminou, mas reduziu muito, especialmente o Partido dos Trabalhadores", disse Barros aos colunistas Chico Alves e Tales Faria.

Na mesma linha, o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO) entende que o presidente aumentou a capilaridade com apoio do centrão.

"Hoje o projeto que tem nesse campo do centro-direita e direita é o do presidente Bolsonaro. É errado dizer que ele perdeu, os partidos que o apoiam hoje fizeram o maior número de prefeituras e eles podem possibilitar esse apoio em 2022", afirmou Gomes.

*Colaborou Fábio Regula, do UOL, em São Paulo