Esposa de Moro diz que apagou post pró-Mandetta após Bolsonaro reclamar
A advogada Rosangela Wolff Moro, esposa do ex-juiz Sergio Moro, se disse decepcionada com o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), do qual o marido fez parte como ministro da Justiça e Segurança Pública, e afirmou que quem discorda na administração "acaba sendo visto como inimigo número um".
Prestes a lançar o livro "Os dias mais intensos - Uma história pessoal de Sergio Moro", Rosangela relembrou, em entrevista à coluna de Bela Megale, no jornal O Globo, uma discussão que teve com o marido, ainda ministro, por causa de uma postagem que fez nas redes sociais dizendo que, entre ciência e achismos, ficava com a ciência, em defesa do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. "Sergio me pediu para apagar, porque a situação causou um desconforto no Planalto", disse ela.
"Nesse governo, todo mundo já percebeu que não se pode discordar, ainda que tecnicamente, o que é saudável. Se você discorda, acaba sendo visto como inimigo número um. A saúde, para mim, é uma coisa muito cara. Eu me assustei muito com a covid-19, não acho normal 1.400 pessoas morrerem em um único dia. Não dá para achar isso normal", afirmou.
Ela explicou que fez a postagem como cidadã e que se sentia "segura e feliz" em ver Mandetta, que é médico, como titular da pasta. Ele foi demitido em abril após uma série de embates com o presidente por causa da pandemia.
"Eu e Moro tivemos uma discussão naquele momento. Eu tenho o direito de me manifestar. Por outro lado, existia a possibilidade daquilo ser interpretado como uma fala do próprio ministro, que fazia parte de um governo que ninguém podia discordar. Quando fiz aquele post, foi como uma cidadã. Eu me sentia segura e feliz em ver, no meio de uma pandemia, o Brasil ter um ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta) efetivamente da área de saúde. Sergio me pediu para apagar, porque a situação causou um desconforto no Planalto", relembrou.
Em outra entrevista, à revista Veja, Rosangela falou sobre o caso e disse que foi Bolsonaro que reclamou da postagem. "O presidente mostrou um print da minha manifestação a favor do ministro Luiz Henrique Mandetta ao Sergio e cobrou satisfação. Ele me pediu para apagar para não criar problemas e brigamos", lembrou.
A advogada disse ao Globo que apoiou Moro quando ele foi convidado por Bolsonaro para ser ministro porque, naquele momento, o presidente "tinha um projeto para o Brasil, para a justiça e para a segurança pública, que eram convergentes com projetos que Sergio poderia implementar". Moro deixou o governo em abril acusando Bolsonaro de interferência política.
Voto em Lula em 2002
Rosangela contou ainda que votou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2002, quando ele foi eleito pela primeira vez. Anos depois, Lula foi condenado por Moro na Operação Lava Jato.
Questionada sobre o que a motivou a votar no líder petista, ela disse não saber. "Sabe aquela frase, 'brasileiro tem memória curta?'. Eu não saberia te dizer porque votei no Lula. Comecei a prestar mais atenção em política, em direitos do cidadão, em 2009, quando me envolvi com organizações da sociedade civil. Fiquei uma pessoa mais interessada e mais atenta aos projetos e ao cenário político", justificou.
Quando indagada se se sente enganada por Bolsonaro, ela respondeu que vê que "ele se afastou da pauta da campanha eleitoral."
'Fritura'
No livro, a advogada disse ter sofrido mais com a "fritura" do marido no governo do que com os ataques na época em que ele era responsável pelos processos da Lava Jato porque "entra nessa conta a decepção com o governo".
"Sei que Moro, como juiz da Lava Jato, era amado por uns e odiado por outros. Quando ele vai para o governo, acreditei que tinha um time de peso, trabalhando junto, buscando o resultado. Quando você vê a fritura, a colocação de uma frase desrespeitosa, tem um sentimento menos de cidadã e mais de esposa. Claro que isso desagrada", explicou.
Questionada sobre a postagem que fez em fevereiro, em que afirmou enxergar "uma coisa só" em relação ao marido e ao presidente, Rosangela disse que se expressou mal.
"O que quis dizer é que a gente via o Planalto como um time, com Moro e Bolsonaro e os outros ministros. No começo do governo eu disse 'agora vai'. Infelizmente, isso se perdeu."
Eleições em 2022
Sobre uma possível candidatura de Moro à Presidência em 2022, a advogada disse que eles estão agora focados na família e com ele se inserindo na iniciativa privada.
"Não há nenhuma vaidade, nenhuma pretensão nesse sentido eleitoral. Vejo que ele tem vontade de participar do debate, como de fato ele faz. Isso é uma coisa, ser candidato em 2022 é outra", afirmou.
"O fato de Sergio estar preocupado com o país, discutindo uma terceira via, não quer dizer que ele é candidato. As pessoas falam, podem até querer, mas ninguém está colocando isso agora", acrescentou ela sobre o assunto.
No início do mês, reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que o ex-juiz e o apresentador Luciano Huck iniciaram conversas para formar uma aliança na eleição.
Lava Jato
Rosangela disse que não interfere no trabalho de Moro e que nunca pediu para ele deixar os processos da Lava Jato nem para que aceitasse o convite para integrar o governo.
"Eu já via o Sergio com sinais de cansaço e de esgotamento nos seus quatro anos na Lava Jato, o volume de trabalho era muito grande, somado aos ataques. Diante disso, eu torcia para que abrisse a vaga de algum titular em Curitiba, quem sabe a gente pudesse dar um tempo, sair da berlinda e dos ataques. Talvez, quando ele chegasse no limite da exaustão, pegasse uma licença e fôssemos passar um tempo fora", relembrou.
Ela contou ainda sobre a dificuldade em razão do clima de celebridade que se formou ao redor marido. "Isso foi uma coisa difícil e agora posso dizer. Juiz não é celebridade. Cantor é, artista é. Um juiz fica trancado no gabinete, aplicando a lei, e pronto. Foi uma situação nova", disse.
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