G20: Bolsonaro cita 'ataques injustificados' de países 'menos competitivos'
Em reunião do G20 hoje pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) citou "ataques injustificados proferidos por nações menos competitivas e menos sustentáveis" ligados à área ambiental e disse que trabalhará para repeli-los, sem falar nomes de países diretamente.
O presidente usou o discurso no encontro virtual, sediado pela Arábia Saudita, para dizer que a atual agricultura no Brasil é resultado da incorporação de ganhos tecnológicos em eficiência e produtividade ao longo de décadas, o que permite que o país exporte um "volume imenso de produtos agrícolas e pecuários sustentáveis e de qualidade".
Em seguida, disse que o governo trabalhará para "repelir ataques injustificados" por países que não seriam tão competitivos e sustentáveis quanto o Brasil. A tese do Planalto é de que, por não conseguirem competir tão bem quanto o Brasil no setor, alguns países agem dessa maneira.
"Ressalto que essa verdadeira revolução agrícola no Brasil foi realizada utilizando apenas 8% de nossas terras para a agricultura e 19% para a pecuária. Por isso, cerca de 66% de nosso território se encontra preservado com vegetação nativa. Tenho orgulho de apresentar esses números e reafirmar que trabalharemos sempre para manter esse elevado nível de preservação, bem como repelir ataques injustificados proferidos por nações menos competitivas e menos sustentáveis", declarou Bolsonaro.
Ao longo da fala, Bolsonaro defendeu que o governo brasileiro se preocupa com o meio ambiente e promove o desenvolvimento sustentável. Ele classificou o Brasil como um "país resiliente". Segundo o presidente, sua gestão quer uma abertura econômica cada vez maior e está ciente de que os acordos comerciais sofrem cada vez mais influência da agenda ambiental.
Bolsonaro disse que a agropecuária brasileira se manteve ativa e produtiva durante a pandemia e todos os contratos foram honrados. Ainda na defesa do país, disse que o Brasil é responsável por menos de 3% da emissão de carbono, mesmo estando entre as 10 maiores economias do mundo, e tem a matriz energética mais limpa entre os países integrantes do G20.
"Mantemos o firme compromisso de continuar a preservar nosso patrimônio ambiental. [...] O que apresento aqui são fatos, e não narrativas. São dados concretos e não frases demagógicas que rebaixam o debate público e, no limite, ferem a própria causa que fingem apoiar", afirmou.
Ao final da fala, lembrou que o Hino Nacional ressalta que o Brasil é "gigante pela própria natureza" e falou que os demais países podem estar "certos de que nada mudará isso", citando a preservação da Amazônia, do Pantanal e demais biomas.
Críticas de países a desmatamento e incêndios
Nos últimos meses, o Brasil tem sido criticado pelo desmatamento e pelos incêndios tanto na Amazônia quanto no Pantanal, especialmente por países da União Europeia. Para embaixadores europeus, o Brasil deveria ter uma política ambiental mais rígida e se esforçar mais no combate a crimes ambientais.
Apesar do aumento no desmatamento no país, as sanções impostas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) caíram 60% nos seis primeiros meses deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Numa tentativa de amenizar a situação, no início do mês, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) e os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Agricultura, Tereza Cristina, chegaram a levar embaixadores de países da Europa para um tour pela Amazônia. Mourão é presidente do Conselho Nacional da Amazônia. A ONG (Organização Não-Governamental) Greenpeace propôs um rota "alternativa" afirmando que o roteiro seguido pelas autoridades não mostrava a extensão dos danos que já atingiram o bioma.
A ministra Tereza Cristina já chamou a situação do fogo no Pantanal de "desastre" em comissão do Senado sobre o tema. Na ocasião, defendeu que o boi é o "bombeiro do Pantanal" e, se tivesse mais gado no bioma, os incêndios poderiam ser menores do que os deste ano. Isso porque o gado come o capim seco de alta inflamabilidade e, assim, deixaria menos massa seca no chão para a propagação rápida das chamas. Especialistas, porém divergem quanto à tese e a Polícia Federal investigou fazendeiros que poderiam ter contribuído para o fogo descontrolado.
As críticas à atuação do governo brasileiro, porém, não vêm somente do continente europeu. Quando candidato, antes de vencer as eleições presidenciais dos Estados Unidos, Joe Biden disse que poderia organizar US$ 20 bilhões (R$ 112 bilhões) para a Amazônia junto a outros países e haver consequências econômicas significativas se o Brasil não parar de permitir incêndios na região. Na época, em resposta, Bolsonaro citou uma cobiça de outros países pela Amazônia e disse que não aceitará "subornos".
Depois de afirmar que iria divulgar a lista de países que compram madeira ilegal do Brasil, Bolsonaro recuou e afirmou que apontará empresas estrangeiras que estariam importando o material de forma irregular. Até o momento, a lista não foi apresentada. Ao ser questionado pelo jornalista Augusto Nunes se a polícia sabe qual é a "quantidade de madeira extraída ilegalmente comprada por empresas francesas", Bolsonaro classificou o país europeu como uma "concorrente de commodities".
"O grande problema nosso para avançar no acordo da União Europeia com o Mercosul é justamente a França. Estamos fazendo o possível, mas a França, em defesa própria, nos atrapalha no tocante", completou.
Em setembro, o governo da França se declarou contrário ao acordo comercial. O país alega que falta mecanismos para garantir que os compromissos assumidos contra o desmatamento sejam respeitados. A declaração foi considerado um revés para a diplomacia brasileira, que julga que aspectos econômicos e protecionistas sejam os reais motivos da recusa por parte dos franceses.
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