Moro defende fim da reeleição: "não funciona no Brasil"
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro disse, em sua coluna quinzenal publicada na revista Crusoé, que a reeleição deveria ser extinta para cargos no Executivo no Brasil.
Na avaliação do ex-juiz, que é cotado como candidato à presidência em 2022, o mecanismo "não funciona" no país, "gerando riscos e inconvenientes de toda a espécie".
"Durante toda a República, convivemos bem sem a reeleição de presidentes", escreveu Moro, se referindo à aprovação da emenda em 1997 como consequência de "razões muito circunstanciais - permitir a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso". O ex-ministro ainda citou que o próprio FHC recentemente considerou a aprovação do mecanismo um erro.
Moro acredita que a reeleição pode multiplicar aspectos negativos da política nacional, como o culto à personalidade e a resistência a medidas necessárias, mas impopulares.
"A ambição de ser reeleito pode turvar a capacidade do dirigente de tomar as medidas necessárias para o benefício do país e que contrariem interesses especiais ou aspirações momentâneas", argumentou.
Para Moro, "a reeleição favorece o surgimento de candidatos a caudilhos ou a ditadores", pois "sempre haverá a tentação de um terceiro ou quarto mandato". Ele citou o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales como casos de dirigentes que emendaram mais de dois mandatos consecutivos na América Latina.
No Brasil, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff se reelegeram na presidência, mas nunca houve tentativa de buscar uma alteração para um terceiro mandato.
Especificamente sobre o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), Moro diz que "não raramente os candidatos à presidência passam a campanha eleitoral propondo o fim da reeleição para, depois de assumirem o cargo, não abraçarem a possibilidade".
Por isso, em sua avaliação, uma reforma para o fim da reeleição deveria ser proposta no início do próximo governo. Moro defende a mudança para um mandato de cinco anos para cargos no Executivo, mas que valeria a partir de 2026, não prorrogando assim o período do próximo presidente eleito.
"Em suma, nos países democráticos, com instituições mais consolidadas, a reeleição dos cargos do Executivo não é um grande problema. Na América Latina, onde a estabilidade institucional ainda está em construção, a reeleição é de todo inconveniente, como a história tem nos ensinado. Deve ser suprimida como o primeiro remédio contra os riscos autoritários ou de desvios de poder", disse.
"Prematuro debater nomes"
Sergio Moro abriu o artigo argumentando que é "prematuro debater nomes e partidos" pensando nas eleições de 2022, mas que "nada impede de transformar em rotina permanente o debate de projetos que possam agregar pessoas que acreditam na construção de um futuro melhor para o país".
Conforme noticiado recentemente pela Folha de S.Paulo, Sergio Moro se encontrou com Luciano Huck em outubro para discutir o cenário político de 2022. Os dois são vistos como potenciais candidatos nas próximas eleições presidenciais.
Em entrevista para o jornal O Globo, Moro falou sobre a possibilidade uma aliança para 2022 e citou entre os possíveis "bons candidatos de centro" João Doria (governador de São Paulo, pelo PSDB), Luiz Henrique Mandetta (ex-ministro da Saúde, do DEM), João Amoêdo (liderança do Partido Novo) e Hamilton Mourão (atual vice-presidente, do PRTB).
A denominação centro utilizada por Moro se refere a uma posição mais moderada em relação ao que ele considera os dois extremos da política nacional atual: a esquerda, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como principal expoente, e a direita liderada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No espectro político tradicional, porém, os nomes citados pelo ex-ministro têm histórico mais próximo à direita.
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