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Pequi, o "ouro do Cerrado", vira tema de disputa entre deputados de MG e GO

Os deputados José Nelto (Podemos) e Marcelo de Freitas (PSL) disputam por pequi na Câmara - Divulgação/Câmara dos Deputados
Os deputados José Nelto (Podemos) e Marcelo de Freitas (PSL) disputam por pequi na Câmara Imagem: Divulgação/Câmara dos Deputados

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

10/02/2021 04h00

A Câmara dos Deputados tem uma agenda cheia para os próximos meses, notadamente com as reformas tributárias e administrativa. Mas, além dos temas de interesse nacional, os deputados terão também de se debruçar sobre assuntos como a primazia do pequi: dois projetos na Câmara dos Deputados discutem a questão.

Na quinta-feira (4), o deputado Delegado Marcelo de Freitas (PSL-MG) apresentou projeto para que Montes Claros (MG), distante 424 km de Belo Horizonte, receba o título de "Capital Nacional do Pequi".

A justificativa do parlamentar, natural do município, é que a cidade promove anualmente a Festa Nacional do Pequi e o fruto identifica a culinária local.

O pequi fornece identificação gastronômica ao município [Montes Claros], fomenta o turismo, e atrai investimentos que impulsionam a geração de emprego e renda no norte de Minas Gerais."
Delegado Marcelo de Freitas (PSL-MG)

A resposta do deputado José Nelto (Podemos-GO) foi imediata. Após ser acionado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), no fim de semana, o parlamentar apresentou nesta segunda-feira (8) um projeto na Câmara dos Deputados que torna o "Pequi Goiano" patrimônio cultural, ambiental e ecológico nacional.

"Cada estado tem a sua tradição culinária. Em Minas Gerais, é o queijo. E, em Goiás, é o pequi. O pequi é uma tradição goiana. Um dos pratos típicos mais conhecidos do estado é o arroz com pequi", afirmou o parlamentar goiano.

Trem, pequi e pão de queijo

No fim de semana, Caiado, utilizando um linguajar tipicamente mineiro, ironizou a iniciativa de Freitas para declarar Montes Claros "Capital do Pequi".

Já vamos fazer um acordo aqui: a gente deixa o 'trem' e o pão de queijo para vocês mineiros, e em troca ninguém mexe no nosso pequi. Combinado?"
Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás, no Twitter

Caiado disse ainda que estava "rolando de rir no chão" porque o pequi está no "DNA goiano". "Muito mais que símbolo de nossa culinária, (o pequi) faz parte de nossa cultura. Acionei o deputado José Nelto (Podemos-GO) para mobilizar nossa bancada."

Por meio de sua assessoria, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), informou que ele não comentaria o imbróglio.

Nascido em Goiás; produzido em Minas Gerais

O pequi (Caryocar brasiliense) é encontrado em quase todo o centro-oeste brasileiro e em partes de Rondônia, Tocantins, Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, São Paulo e Paraná.

A produção brasileira do fruto, porém, está concentrada, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em:

  • Minas Gerais, com cerca de 80% do total, ou 14.815 toneladas anuais;
  • Goiás, com aproximadamente 14% da produção nacional, ou 2.623 toneladas;
  • E Ceará, com 1.018 toneladas produzidas.
Pequi - iStock - iStock
Pequi
Imagem: iStock

Conhecido como "Ouro do Cerrado" devido à polpa amarela, o fruto dos pequizeiros tem o tamanho aproximado de um abacate e também uma casca verde. Embaixo da polpa amarela, macia e comestível, porém, há uma camada de espinhos muito finos e perigosos.

O pequi ficou com uma fama negativa no Senado Federal, no início dos anos 2000, por conta de um almoço do então senador Saturnino Braga (PSB-RJ), ex-prefeito do Rio de Janeiro, em Pirenópolis (GO), onde foi servido frango com pequi.

Braga caiu de boca na iguaria da culinária goiana, mordeu a polpa de um pequi e ficou com os lábios deformados pelo fruto. Sua foto, com os lábios machucados foi para as primeiras páginas dos principais jornais do país.

Além de ter de suportar cinco sessões numa clínica de Brasília para a retirada dos espinhos — só na primeira consulta foram 30 espinhos extraídos — Braga teve de aguentar as charges e caricaturas de sua desventura estampadas em toda a imprensa brasileira, e os trocadilhos maldosos repetidos nos corredores da Casa: "E sua missão espinhosa a Goiás?".

À época, o ex-senador comentou o caso: "Quando mordi, senti a dor e fui ao banheiro ver o estrago. Não como pequi nunca mais na vida".