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Ministro do STF suspende lei que autoriza uso de mercúrio no garimpo em RR

O ministro Alexandre de Moraes (foto), em decisão liminar, determinou a suspensão dos efeitos de lei estadual de Roraima que autoriza o uso de mercúrio no garimpo - Reprodução
O ministro Alexandre de Moraes (foto), em decisão liminar, determinou a suspensão dos efeitos de lei estadual de Roraima que autoriza o uso de mercúrio no garimpo Imagem: Reprodução

Do UOL, em Brasília

20/02/2021 20h00Atualizada em 20/02/2021 21h54

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão da Lei estadual 1.453/2021, de Roraima, que autorizava o uso de mercúrio no garimpo. A decisão foi tomada em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Partido Rede Sustentabilidade.

A liberação do mineral no garimpo no estado foi sancionada pelo governador Antonio Denarium (sem partido) no último dia 8, que alega que a lei regulariza a situação de 30 mil famílias que dependem do garimpo e melhora a arrecadação. O Ministério Público Federal e o MP estadual abriram procedimentos para apurar se a lei estadual é constitucional.

O mercúrio é tradicionalmente usado para separar o ouro de sedimentos, como areia e cascalho. Ele adere ao outro, facilitando sua visualização durante o garimpo e extração. No entanto, é tido como um metal extremamente tóxico ao meio ambiente e aos seres humanos, podendo causar problemas neurológicos graves.

Na ação, a Rede argumentou que a lei aprovada pelo legislativo estadual afronta o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e que o procedimento de licença de operação única para autorização da atividade, ao dispensar a apresentação do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental, contraria as normas federais que admitem o licenciamento simplificado apenas para atividades de baixo impacto.

O partido ressalta que a autorização para o uso do mercúrio no garimpo representa retrocesso em relação aos consensos mínimos estabelecidos em nível internacional.

Afirma, ainda, que o Conselho Indígena de Roraima e outras 39 instituições se manifestaram contra a aprovação, em razão dos impactos sobre o meio ambiente e a qualidade de vida das populações indígenas e não indígenas, em razão da poluição dos rios e dos peixes e da destruição da biodiversidade local pela degradação das florestas, rios, lagos e igarapés.

"Afronta à competência da União"

Na análise preliminar do caso, o ministro Alexandre de Moraes considerou aceitáveis os argumentos apresentados pelo partido, no sentido de que a norma estadual destoou do modelo federal de proteção ambiental, representando afronta à competência da União para estabelecer normas gerais sobre a temática.

Em sua decisão, o ministro ressaltou que a Constituição Federal de 1988 determinou como obrigação do Poder Público a defesa, preservação e garantia de efetividade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Ele destacou que a Lei 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, elegeu o licenciamento como relevante instrumento de política ambiental, conferindo competência ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para o estabelecimento de normas e critérios para o licenciamento de atividades potencialmente poluidoras.

A expedição de licenças ambientais específicas para as fases de planejamento, instalação e operacionalização de empreendimentos potencialmente poluidores como os garimpos representa, segundo o ministro, uma cautela necessária para a efetividade do controle exercido pelo órgão ambiental competente.

"O meio ambiente deve, portanto, ser considerado patrimônio comum de toda a humanidade para garantia de sua integral proteção, especialmente em relação às gerações futuras, direcionando todas as condutas do Poder Público estatal no sentido de integral proteção legislativa", afirmou Moraes na decisão.

Roraima é um dos estados com as maiores reservas indígenas e áreas protegidas do país. Em setembro do ano passado, a Folha de S.Paulo publicou que "nos últimos anos tem havido um aumento da mineração ilegal em Roraima, especialmente na reserva indígena Yanomami". Segundo estudos do governo, quase todos os garimpeiros da Amazônia brasileira usam mercúrio.

A reportagem estimava, ainda, que milhares de garimpeiros têm extraído ouro das reservas indígenas de Roraima, destruindo habitats e colocando em perigo as populações locais, risco que aumentou com a possibilidade de contaminação de de indígenas, inclusive pela covid-19.