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Soraya Thronicke: Direita irracional afastou população dos conservadores

Leonardo Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/03/2021 13h07

A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), integrante da base aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Congresso Nacional, analisou hoje durante o UOL Entrevista que a "direita irracional", grupo descrito por ela como "apaixonado" e "desinformado", acaba criando um repúdio da população aos conservadores e, assim, prejudicando ainda mais o governo federal. A entrevista foi comandada pelos repórteres do UOL Luciana Amaral e Eduardo Militão.

"Essa polarização que hoje nós temos, e que muito eu jogo nas costas de aliados do próprio presidente Jair Bolsonaro que se dividem entre aliados de uma direita racional, e temos uma direita que eu já vou para dizer para vocês que eu nem considero direita. Eles nem sabem o que é isso. Virou um discurso político raso, e que atrapalha o próprio presidente. Se querem ajudar o presidente, saibam que estão atrapalhando", disse.

Esse movimento, continua a parlamentar, pavimenta o surgimento de uma terceira via nas eleições de 2022 e, assim, a derrota da direita no pleito. "Essa terceira via se desenha, é bem possível porque já tem gente criando até uma certa ojeriza de pessoas que se dizem de direita e já passaram pro campo do irracional. Eu quero alertar, essas pessoas não são de direita, são fanáticas que não entendem absolutamente nada".

Soraya Thronicke afirma que a "direita racional" é encontrada dentro do PSL, ex-partido do presidente, e que o mandatário deve saber "separar o joio do trigo" no que diz respeito aos seus apoiadores.

"Acredito que, quando a gente fala em uma direita irracional, são apenas gente que gritam e não sabem nem o que é direita, o que é liberalismo econômico. Hoje todo mundo tem voz. A paixão cega a pessoas e domina as pessoas. Não é isso que vai nos trazer um Brasil melhor", concluiu.

'Corrupto está nadando de braçada'

Ao comentar supostos esquemas de corrupção durante a pandemia de covid-19 no país, Thronicke disse que "quem é corrupto está nadando de braçada" no Brasil atualmente.

Desde a morte do senador Major Olimpio (PSL), junto ao colapso no sistema de saúde nacional, a pressão pela abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre as atuações de mandatários na pandemia — principalmente o governo federal — aumentou.

"Eu acho que tem que ter, sim, uma fiscalização por meio de CPI. O que acho que não é correto é apenas em cima do governo federal. Os ordenadores de despesa são também os governadores e prefeitos, e os recursos foram enviados. O problema está na gestão dos recursos", disse a senadora.

Quem é corrupto está nadando de braçada, infelizmente. A minoria faz a maioria pagar um preço muito alto, que são vidas. Senadora Soraya Thronicke (PSL-MS)

Vacinas dos EUA

Soraya afirmou estar empenhada na compra das vacinas contra a covid-19 estocadas nos Estados Unidos. Na semana passada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), enviou uma carta à vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, requisitando ajuda no combate à pandemia no Brasil.

"Nós queremos comprar as vacinas que estão estocadas nos Estados Unidos e também vamos fazer esse apelo a outros países. A importância do Brasil em termos de economia, nós não somos um país qualquer. Somos uma grande nação, uma nação que alimenta 1.5 bilhão de pessoas. [A pandemia] É um problema do mundo, não é um problema só do Brasil. É mais do que correto e justo, é uma questão de primeira necessidade pedir ajuda para quem pode nos ajudar nesse momento", disse ela.

Ministro já poderia ter sido cassado e impedido a crise

A senadora comentou que a "temperatura está esquentando" para o lado dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), que estariam na mira dos parlamentares para um possível impeachment.

"Tem um grupinho que tem se movimentado para ter uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes, ter uma conversa com os 11 [ministros], para que a gente entre num momento de respeito às ciências jurídicas para que isso aconteça. Não é uma ameaça, nada, mas acho que fazer essa conversa anterior é importante porque só o senado pode conter".

"A temperatura está esquentando, a partir do momento que o Senado fechar com um nome para impeachar, aí nós vamos mostrar. Já tem membros do STF que abusaram, a gente consegue com pé nas costas", afirmou a parlamentar.

Como exemplo de abuso, Soraya citou o caso do deputado Daniel Silveira, preso por decisão do ministro Alexandre de Moraes. "Eu sou contra abusos e atos. O caso do Daniel Silveira é um caso, eu assisti todo o vídeo do Daniel Silveira, vi que foi absolutamente fora de todo o padrão, sou absolutamente contra o que ele fez, mas por outro lado houve abuso do outro poder também. Essas coisas, precisamos coibir", disse.

'Liberdade não é anarquia'

Ao comentar sobre a liberação de armas no país, a senadora ressaltou que o assunto é delicado e que a liberação ainda é irrisória pelo preço do armamento. Mas disse ser a favor, desde que o controle seja rígido.

"Sou a favor de um acesso responsável, tudo de forma de responsável. Liberdade não significa anarquia, é muito diferente uma coisa da outra. É lógico que não é para todo mundo, tem um monte de regras, então não é assim", disse.

Soraya afirmou que a sociedade tem a impressão de que há uma liberação total de armas. "Já vi delegados da Polícia Federal que me disseram que nunca deram um porte. Não está sendo feito da forma que as pessoas pensam, não, principalmente porque tem que passar pelo Congresso, e o Congresso está sendo bem equilibrado", disse.

'Indígenas destroem plantações e furtam propriedades'

A senadora comentou ainda o debate em torno da demarcação de terras indígenas, o qual a parlamentar de Mato Grosso do Sul vê um "problema gravíssimo".

"Envolve também uma questão de não haver respeito às decisões judiciais. Temos um problema sério de despeito de medidas judiciais de reintegração de posse que, quando nós vamos cumprir, inclusive com reforço policial, chegamos nessas propriedades e encontramos membros do Ministério Publico Federal que atuam não para promover a justiça, mas eles têm bandeiras politicas e ideológicas", afirmou.

Soraya disse que "entende que os índios evoquem suas propriedades", mas que não podem adentrar áreas privadas.

"Quando a gente chega lá pra cumprir essa medida judicial encontramos esses membros que deveriam estar cumprindo porque o juiz mandou, mas eles estão atrapalhando. Além disso, encontramos membros da Funai [Fundação Nacional do Índio] atrapalhando o cumprimento de decisão judicial. Decisões judiciais não são cumpridas, e quem não cumpre tem que ser preso".

A senadora acusou indígenas de furto e roubo em propriedades privadas, mas não deu detalhes de locais onde isso aconteceu. "Os indígenas são jogados nessas terras, então eles defendem que tem direito àquela propriedade de terra, porém, entram nas terras e destroem toda a plantação, destroem o maquinário, roubam, furtam, fazem o estrago. Eles não têm esse direito e ninguém fala nada", concluiu.

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