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Após festa na pandemia, Castro usa vacinação como aceno ao bolsonarismo

O governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC) - Daniel Resende/Futura Press/Estadão Conteúdo
O governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC) Imagem: Daniel Resende/Futura Press/Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

31/03/2021 04h00

Menos de 48 horas após comemorar o aniversário em meio ao feriado de dez dias anunciado por si próprio para conter o avanço da covid-19, o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC), fez acenos ao eleitorado bolsonarista ao anunciar vacinação prioritária para as forças de segurança no estado. A medida foi encarada como uma sinalização tendo em vista as eleições de 2022.

O decreto, que prevê um calendário único de vacinação no estado, também dá prioridade a profissionais de educação e de saúde que ainda não foram imunizados. Porém, apenas os profissionais da segurança mereceram uma postagem do governador em suas redes sociais. O decreto —publicado em edição extra do Diário Oficial— também prevê que os agentes de segurança comecem a ser imunizados antes dos professores.

Na última semana, Castro criou mal-estar com os prefeitos do Rio, Eduardo Paes (DEM), e de Niterói, Axel Grael (PDT), ao se negar a implementar medidas mais rígidas de isolamento. A postura dele foi encarada como um aceno ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com o qual conta com o apoio nas eleições do ano que vem, e que é contra decretos que restrinjam atividades comerciais.

Anúncio sem prefeitos e com bolsonaristas

No anúncio de ontem (30), Castro esteve acompanhado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL), conhecido por ter destruído em 2018 uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL) e defensor das forças de segurança na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Na semana passada, em outro pronunciamento, Castro esteve ao lado do deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), considerado um dos homens mais fiéis a Bolsonaro na Câmara Federal.

Em contraste a essas presenças, nenhum prefeito da região metropolitana esteve com ele na coletiva de ontem —Castro deixou o local antes de ser questionado sobre sua festa de aniversário, pela qual se desculpou nas redes sociais.

De acordo com o texto do decreto, os profissionais da educação começarão a ser imunizados a partir da segunda quinzena de abril. Já os agentes de segurança serão vacinados em postos montados nos batalhões da PM a partir do dia 12, segundo Castro.

Além do Rio de Janeiro, outros cinco estados estabeleceram prioridade para profissionais de segurança: São Paulo, Pará, Distrito Federal, Goiás e Espírito Santo, segundo mostrou levantamento feito pela Folha de S.Paulo.

'Proteger aqueles que nos protegem'

Antes do anúncio no Palácio Guanabara, Castro já havia adiantado que policiais e demais profissionais das forças de segurança seriam incluídos entre as prioridades da vacinação contra a covid-19.

"Vamos proteger aqueles que nos protegem. As forças de segurança do estado do Rio de Janeiro terão prioridade no calendário de vacinação contra a covid-19. São profissionais com alta exposição em suas atividades diárias e que colocam suas vidas a serviço da população", disse.

Policiais militares, civis, federais, rodoviários federais, bombeiros e oficiais de Justiça serão contemplados.

'A demanda é dos prefeitos'

"Não queremos gerar corrida, nem aglomerações nos postos. Não queremos que ninguém precise procurar imunizante na cidade vizinha. Mas, nosso foco agora é vacinar os 324 mil profissionais da saúde que ainda não foram imunizados, os profissionais de segurança e os profissionais de educação de todo o estado" afirmou.

De acordo com Castro, a criação de um calendário único de imunização foi uma demanda dos próprios prefeitos que relataram falta de vacinas, diante da procura de moradores de cidades vizinhas —a capital fluminense chegou a enfrentar escassez de doses por esse motivo.

"Vacinando profissionais da saúde, teremos mais pessoas disponíveis para o atendimento à população. Vacinando profissionais da segurança, que não pararam de trabalhar, estamos evitando que eles se tornem vetores da doença. Já em relação aos profissionais de educação, deixo claro que compactuo com a ideia de que escolas não devem fechar, mas precisamos ter segurança no ensino. Portanto, esses são os motivos que fazem dessas categorias prioritárias", completou.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Por um erro de digitação, a vereadora assassinada Marielle Franco apareceu no texto como filiada ao PSL. Na verdade, ela era do PSOL. O texto foi corrigido.