Molon: Bolsonaro vai usar 1ª oportunidade para dar golpe, evitado até agora
O líder da oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usará a primeira oportunidade que tiver para dar um golpe de Estado. A declaração foi dada durante conversa com o colunista Leonardo Sakamoto no UOL Entrevista.
"Nossa percepção é essa, sim. O presidente, na primeira oportunidade que tiver, tentará um autogolpe para ameaçar tanto Judiciário quanto Legislativo. O Legislativo que não se engane: esse momento de calmaria do presidente com o Legislativo é passageiro. No primeiro momento em que ele se sentir afrontado, ele pode perfeitamente querer usar as Forças Armadas contra o Congresso também", disse o parlamentar.
Molon também afirmou que a "escalada autoritária do governo" deixa claro que o golpe de Estado é algo que Bolsonaro gostaria de concretizar. "Para isso, ele precisa contar com o apoio das Forças Armadas", mas, segundo o político, "felizmente" o comportamento dessa cúpula não permitiu que os planos do presidente Jair Bolsonaro se consolidassem até agora.
O deputado defende haver um "compromisso" do então ministro da Defesa e de chefes das três Forças (Aeronáutica, Exército e Marinha) com o "papel constitucional" das três instituições. Assim, o movimento do presidente gerou um fato inédito desde a redemocratização, em 1985: a troca simultânea destes quatro líderes.
"Isso mostra a gravidade do momento e o quanto o Bolsonaro, ao contrário do que tenta mostrar, tem de desencontro com as Forças Armadas", disse Molon.
Ele reforça as decisões de Edson Leal Pujol (Exército) e do ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva (substituído por Braga Netto, comandante da intervenção federal na segurança pública do Rio) não cumprirem ordens de se alinharem ao governo.
O presidente acabou sendo felizmente derrotado pelas Forças Armadas.
Alessandro Molon (PSB-RJ), deputado federal e líder da oposição
Bolsonaro queria que o ministro da Defesa se posicionasse publicamente contra a decisão que liberou que o ex-presidente Lula (PT) seja candidato nas eleições de 2022.
"Ficou evidente que o alto comando não permitiu que o presidente escolhesse alguém que ele imaginava que iria se prestar ao papel de usar o Exército para pressionar Congresso e Judiciário", afirma Molon. Para ele, a tentativa do presidente em aparelhar as Forças Armadas "constitui crime de responsabilidade" e motivou o mais recente pedido de impeachment, protocolado nesta semana pela oposição.
Futuro político até 2022
Em meio às tentativas de Bolsonaro, Molon defende que o Congresso Nacional se dará conta de que o impeachment é a única solução. Justifica sua tese com base na falta de diálogo e de mudança nas atitudes tomadas pelo presidente, a exemplo o discurso mais recente sobre a pandemia de covid-19. Após recuar em fala na TV e rádio, o presidente voltou a dar falas negacionistas à ciência minutos depois da transmissão.
"O Congresso vai pouco a pouco percebendo que não tem jeito, o presidente da República não vai mudar, ele se recusa a melhorar, a se tornar um presidente melhor, um ser humano melhor. Ele insiste nos seus piores comportamentos, isso vai aumentar a pressão do povo sobre o Congresso", afirma o oposicionista.
Com isso, a maior possibilidade é de o Centrão abandonar o barco do presidente, como avalia Molon. Ainda que ministérios sejam alocados para partidos desse grupo político, nem todos aceitariam fazer parte de um "suicídio político", como ele define a manutenção do apoio a Jair Bolsonaro.
Após cinco mudanças ministeriais em uma única semana, ele avalia que a dança nas cadeiras ainda não acabou, principalmente para os apoiadores mais radicais. Um dos próximos alvos, elenca Molon, é o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, cuja gestão é definida como "desastrosa, que arruinou e destruiu completamente a imagem do Brasil como potência ambiental".
"Aquilo que o Brasil tinha acumulado nos últimos dez anos como um país que poderia prestar um grande serviço ao planeta pela preservação de sua biodiversidade, suas florestas, aquilo que tinha sido construído foi destruído rapidamente pelo ministro Ricardo Salles", sustenta.
Cenário para eleições presidenciais
Molon se mostra favorável a uma união da esquerda para evitar uma reeleição de Bolsonaro. Junto dos partidos alinhados com ideais socialistas, como o seu PSB, PT, PSOL, entre outros, a investida será para agregar grupos mais próximos ao Centrão em uma única chapa.
"O PSB certamente vai discutir com essas duas forças, avaliar a viabilidade delas, acho que vai fazer um esforço para uni-las, não sei se bem-sucedido, mas, se por acaso isso não for possível, o PSB tomará essa decisão bem mais a frente considerando uma série de outros fatores", explica.
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