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"Ganhe quem ganhar", diz Bolsonaro ao defender voto impresso

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

09/05/2021 12h24Atualizada em 09/05/2021 18h56

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu o voto impresso ou "auditável" nas eleições de 2022 "ganhe quem ganhar". "Ganhe quem ganhar, mas na certeza, e não da suspeição da fraude", disse ele, depois de um passeio de motocicleta neste domingo de Dia das Mães (9). "Não podemos admitir isso porque o voto é a essência da democracia." O presidente não apresentou provas de que o atual sistema está sujeito a fraudes.

Bolsonaro estava sem máscara, assim como vários políticos ao seu lado, diante de uma aglomeração de pessoas no Palácio da Alvorada. Até apoiadores criticaram sua "teimosia" (veja mais abaixo).

Três policiais militares do Distrito Federal analisaram as imagens a pedido do UOL. Reservadamente, um deles garantiu que havia cerca de 4.500 pessoas no Alvorada. No passeio de moto, foram aproximadamente 3.000 motociclistas, informou. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência não prestou esclarecimentos à reportagem até o momento.

Bolsonaro ganhou um beijo da deputada Bia Kicis (PSL-DF), a quem chamou de "mãe do voto auditável". Ela estava sem máscara.

Sem apresentar provas há 14 meses, Bolsonaro disse nos Estados Unidos que houve fraude nas eleições de 2018. Segundo ele, a vitória foi no primeiro turno. A Polícia Federal, o Ministério Público e o Tribunal Superior Eleitoral tampouco identificaram qualquer adulteração nos votos.

Numa ação judicial em São Paulo, a Procuradoria da República cobrou que o presidente apresente as provas da acusação que fez há mais de um ano.

Bolsonaro venceu eleições nos últimos 30 anos, a maior parte delas com o uso da urna eletrônica. Desde 2018, passou a desacreditar o mecanismo de votação.

Em Brasília, uma comissão especial para analisar proposta de mudança na Constituição para a criação do voto auditável será criada na Câmara. Pela proposta, da deputada Bia Kicis, uma cédula seria impressa depois que o eleitor apertasse os botões na urna eletrônica.

As pesquisas de opinião, como Datafolha e Datapoder, identificaram índices de popularidade mais baixos de Bolsonaro no início do ano e intenção de voto para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre os opositores do presidente, o temor é que ele não reconheça o resultado das eleições de 2022 caso venha a perder a disputa pela reeleição.

Ao final do evento, um dos amigos do presidente, o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ), segurou uma criança no colo e colocou-a ao microfone. A criança elogiou Bolsonaro e disse que desejava que o influenciador digital Felipe Neto fosse preso. Lopes e a criança estavam sem máscara.

Neto é adversário de Bolsonaro e sempre critica as ações do governo. Quando a garota terminou de falar, o presidente da República retomou o microfone, se despediu da multidão e passou a cumprimentar mais pessoas enquanto caminhava até o portão do Alvorada.

Economia se recupera "aos poucos", diz Bolsonaro

O presidente disse que o ato não era uma uma "demonstração política", mas de "amor à Pátria". Destacou que o povo brasileiro é "unido", "cristão" e "trabalhador" em busca de valores como paz, tranquilidade e liberdade.

Num gesto de pedido de paciência, Bolsonaro disse que, na sua visão, assumiu o país com crise ética e econômica. "Aos poucos, vamos recuperando", afirmou o presidente diante da multidão no Alvorada. Antes da pandemia, a economia do Brasil desacelerou. No último ano do governo de Michel Temer (MDB), 2018, o crescimento do PIB foi de 1,8%. No primeiro ano de Bolsonaro, 2019, a taxa baixou para 1,1%.

Em 2020, o Brasil acompanhou o mau desempenho do resto do mundo, com recessão na pandemia. O PIB caiu 4,1%.

O PIB do primeiro trimestre deste ano só será divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em junho, mas o IBC-Br, indicador divulgado pelo Banco Central e considerado uma prévia do PIB, ficou em 0,23% no acumulado de janeiro e fevereiro.

Entre dezembro e fevereiro, a taxa média de desemprego no Brasil foi de 14,4%. Isso significa que 14,4 milhões de pessoas estão na fila por um trabalho no país, o maior contingente desde 2012, quando começou a série histórica do IBGE.

09.mai.2021 - Apoiadora do presidente reclama de "teimosia" de Bolsonaro por não usar máscara - Reprodução/Instagram/@flaviobolsonaro - Reprodução/Instagram/@flaviobolsonaro
Bolsonaro não usa máscara por "teimosia", diz apoiadora
Imagem: Reprodução/Instagram/@flaviobolsonaro

Até apoiadores do presidente criticaram a aglomeração sem máscara no Alvorada. Uma deles disse que havia "teimosia" de Bolsonaro e que ele precisaria "ajudar" seus militantes a evitar críticas.

"Flávio por favor pede ao seu pai o nosso Presidente pra usar máscara, e mito [muito] trista [triste] ver as pessoas falarem mau dele , por essa teimosia de não usar. Nós brasileiros o amamos nas [mas] precisa ajudar", disse ela, ao comentar vídeo divulgado pelo primogênito de Bolsonaro.