Bolsonaro chama Renan de picareta e vagabundo e diz que CPI é 'um crime'
Em viagem a Alagoas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chamou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, de "picareta" e "vagabundo". Bolsonaro não citou nominalmente o senador, mas a referência foi clara. Ao longo do evento em Maceió, ele chegou a incentivar coros do público contra o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito.
"Se esse indivíduo quer fazer um show tentando me derrubar, não o fará. Somente Deus me tira daquela cadeira (presidencial)", disse logo após ouvir um coro de "Renan vagabundo".
Ontem, o filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) já havia chamado Renan de vagabundo em uma discussão durante a CPI da Covid. Bolsonaro, que também postou uma mensagem no Twitter contra o senador, reproduziu a ofensa no discurso em Maceió e disse que o que "vem acontecendo na CPI é crime".
Sempre tem algum picareta, vagabundo, querendo atrapalhar o trabalho daqueles que produzem. Se Jesus teve um traidor, temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem no nosso país. É um crime o que vem acontecendo nessa CPI.
Jair Bolsonaro, presidente da República.
Bolsonaro foi à capital do estado do parlamentar, Maceió, entregar 500 unidades habitacionais. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador e ex-presidente Fernando Collor (Pros) ambos adversários políticos do emedebista no estado, fizeram questão de aparecerem, lado a lado, do presidente nas entregas feitas por meio do programa "Casa Verde e Amarela", antigo "Minha Casa, Minha Vida".
A viagem do presidente acontece um dia após o depoimento do ex-secretário-executivo de Comunicação Fábio Wajngarten à CPI, ameaçado de ser preso depois de ser acusado de mentir ao colegiado.
Em alguns momentos do evento, a plateia gritou "fora Renan" e "Renan vagabundo", enquanto o presidente fez um gesto com as mãos como se estivesse 'regendo' os apoiadores. Ele ainda simulou um "chute" com as mãos.
Já na sessão de hoje da CPI da Covid, ao iniciar os questionamentos ao representante da Pfizer, Renan Calheiros disse considerar a viagem do presidente ao Nordeste como uma provocação à CPI.
"Hoje mesmo o presidente da República foi a Alagoas inaugurar obras estaduais, em uma evidente provocação a esta Comissão Parlamentar de Inquérito. A resposta a essas ofensas é aprofundar a investigação", considerou.
Ataques também a Lula e PT
Todos os ministros que discursaram no evento mantiveram um discurso mais efusivo e em tom agressivo, em especial, contra governos passados e contra a atuação da CPI.
Jair Bolsonaro também não poupou ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem chamou de "ladrão de nove dedos".
"Meu amigo Pedro Guimarães (presidente da Caixa). A Caixa lá atrás, com aquele ladrão de nove dedos, dava prejuízo, e nosso governo com a liberdade que você tem, apresentou mais lucro, o que traz benefícios para o Brasil", disse.
O público presente também se manifestou com coros contra o ex-presidente e o PT, como "Lula ladrão" e "nossa bandeira jamais será vermelha".
Ao falar, o ministro do Turismo, Gilson Machado, atacou as gestões petistas e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e declarou que nenhum presidente "fez pelo Nordeste o que Bolsonaro tem feito".
"Eles são intolerantes com um homem que é patriota, é 'incorruptível' e que tem o verdadeiro apoio do povo brasileiro e do (povo) nordestino. O nordestino gosta é de governo e não do PT", afirmou.
Os ataques ao PT ocorrem um dia depois da divulgação da pesquisa Datafolha que mostra Lula liderando as intenções de voto para a corrida presidencial no primeiro turno das eleições de 2022, com 41% contra 23% de Bolsonaro.
Ainda segundo o levantamento, Lula venceria o atual presidente com folga de mais de 20 pontos percentuais (55% a 32%) no segundo turno. Bolsonaro também aparece com a maior rejeição, com 54% dos entrevistados dizendo que não votariam nele de jeito nenhum.
Antes do evento, Bolsonaro causou aglomeração ao cumprimentar, sem máscara, apoiadores que o aguardavam no local. As cenas têm sido recorrentes em viagens do presidente, apesar da recomendação de especialistas de saúde para o uso de máscaras e distanciamento social como formas de evitar a disseminação do novo coronavírus no Brasil.
Os ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, também estiveram presentes na cerimônia de entrega.
Reinauguração
Logo após a entrega das unidades habitacionais, Bolsonaro participou da "inauguração" do viaduto da PRF, no bairro Tabuleiro do Martins, em Maceió, que já está aberto ao público desde dezembro de 2020. O ato não durou mais que 20 minutos.
A obra, que inclui também pequenos túneis, foi inaugurada pelo governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), filho do senador Renan Calheiros, e por aliados do mdbista.
O viaduto custou R$ 102 milhões e teve investimento de R$ 77,4 milhões do governo federal, quantia que foi totalmente empenhada durante a gestão de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), com contrapartida de R$ 25 milhões do governo de Alagoas.
Ao UOL, o Ministério da Infraestrutura disse que Renan Filho inaugurou o viaduto de forma parcial em 2020 — ou seja: a obra não estava completa durante o ato realizado no ano passado.
"A liberação, em dezembro, consistiu em parte da passagem superior, com duas faixas de cada lado, uma faixa em cada trincheira do subsolo, além de segmento da rotatória", disse a pasta.
"A gente está tendo o privilégio no governo Bolsonaro de estar tendo uma entrega a cada semana, muitas vezes a cada dia", disse Tarcísio de Freitas no evento.
"Tem o túnel, tem a ciclovia. É uma obra de mobilidade urbana que vai diminuir o tempo de viagem, que vai diminuir acidentes, que vai salvar vidas", afirmou o engenheiro e militar da reserva.
Bolsonaro não discursou durante o ato. Na chegada ao evento, cumprimentou apoiadores. Na saída, recebeu duas camisas do CRB, clube de futebol de Maceió: uma com o próprio nome e outra grafada com o de Michelle Bolsonaro.
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