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"Peça pra não mentir dessa vez", diz Omar sobre Queiroga em confusão na CPI

Luciana Amaral*

Do UOL, em Brasília

02/06/2021 17h08

Em confusão que envolveu ao menos cinco senadores da CPI da Covid presentes à sessão hoje, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), declarou que seja pedido ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que não "minta" no novo depoimento dele marcado para a próxima terça-feira (8).

"Peça para ele não mentir dessa vez. Peça para ele não mentir", disse Omar ao senador governista Marcos Rogério (DEM-RO).

Queiroga prestou depoimento à CPI em 6 de maio. Alvo de cobranças, ele esquivou-se de perguntas sobre temas como cloroquina e isolamento "vertical". A postura titubeante gerou irritação entre parte dos congressistas que participaram da audiência.

Os senadores receberam hoje a médica infectologista Luana Araújo, que ocupou a cadeira de secretária de enfrentamento à pandemia da covid-19 do Ministério da Saúde por apenas dez dias. No depoimento aos senadores, ela relatou não ter sido informada da razão pela qual foi desligada.

A discussão começou quando o senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) afirmou que o Amapá adota a vacinação e o tratamento precoce no combate à covid-19 e, por isso, teria a menor letalidade do país. O chamado "kit covid" é composto por medicamentos sem eficácia comprovada no combate à doença.

Heinze é defensor do uso de cloroquina e da hidroxicloroquina, além de estudos sobre medicamentos contra a covid-19 que já foram rechaçados pela comunidade científica, como o liderado pelo francês Didier Raoult. Para Heinze, há uma "criminalização de um governo" e uma politização em torno do tratamento precoce que não permite que o tema seja visto como algo positivo.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), logo afirmou que Heinze apresentava dados falsos e mentirosos. O senador gaúcho disse que as informações eram do governo do estado do Amapá, ao que Randolfe rebateu que o dado estava errado, com fraude.

Ambos elevaram o tom de voz e começaram a bater boca.

Randolfe: 'O senhor está mentindo'.

Heinze: 'Não me chame de mentiroso. Não sou. Aqueles médicos que vossa excelência quis condecorar estão p* da cara com você...'

Randolfe: 'O senhor está mentindo e muito'.

Heinze: 'Não estou mentindo, aqui estão dados do governo do estado do Amapá, do seu estado'.

Randolfe: 'Veja qual foi o prêmio que o Didier Raoult ganhou. É o Framboesa de Ouro da ciência'.

Após muito bate-boca entre os dois, Omar Aziz cortou os microfones de Randolfe e Heinze e pediu respeito à médica Luana Araújo.

Informações dos estados

Omar fez ponderações sobre dados apresentados por Heinze e houve um novo bate-boca sobre a veracidade das informações. O senador então afirmou que a CPI poderia pedir informações oficiais de todos os estados brasileiros, além de questionar o ministro Queiroga sobre isso na próxima terça.

O senador Marcos Rogério, membro da tropa de choque governista na CPI, então questionou se Omar estava antecipando o novo depoimento de Queiroga. Isso porque a nova fala de Queiroga foi marcada ontem à noite após reunião entre senadores independentes e opositores da CPI.

Omar confirmou o depoimento de Queiroga para terça e negou o apelo de Marcos Rogério, ao que este disse que o ministro "está na linha de frente" do combate à pandemia e pediu que deixassem o ministro "trabalhar", numa tentativa de adiar a fala.

Ah não está não [na linha de frente do combate à pandemia]". "Sabe o que ele [Queiroga] estava fazendo ontem? Anunciando a Copa ao lado do presidente. Não pode estar na linha de frente. Estava anunciando a Copa América."
Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão

Nisso, começaram a reclamar Heinze e Marcos Rogério de um lado, e Humberto Costa (PT-PE) de outro.

Omar reiterou o calendário com Queiroga na CPI na terça e foi questionado de novo por Marcos Rogério para que não tirasse "o ministro da linha de frente".

Com os nervos mais exaltados, Omar repetiu diversas vezes: "Peça para ele não mentir dessa vez. Peça para ele não mentir".

"Vossa Excelência não tem autoridade para dizer que ele estava mentindo", disse Marcos Rogério.

"Você vai ver se eu não tenho", rebateu Omar, fora do microfone.

Marcos Rogério continuou a questionar a fala de Omar, que disse que o senador "não respeita ninguém". Entre mais bate-boca, Randolfe e o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), ficaram ao lado de Omar.

A discussão só arrefeceu quando Heinze concluiu seu tempo de fala e o microfone foi aberto à senadora Leila Barros (PSB-DF) para que fizesse perguntas à depoente.

*Com colaboração de Andréia Martins e Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.