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Fala de Luana deixa "cristalina falta de autonomia da Saúde", avalia Renan

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

02/06/2021 15h10

A fala da médica infectologista Luana Araújo hoje à CPI da Covid deixa "cristalina, mais uma vez, a falta de autonomia do Ministério e do ministro da Saúde, tanto na formação de suas equipes, quanto no estabelecimento de políticas públicas de saúde", avaliou o relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), em documento distribuído por sua assessoria.

Luana ocupou a cadeira de secretária de enfrentamento à pandemia da covid-19 por apenas dez dias. No depoimento aos senadores, ela relatou não ter sido informada da razão pela qual foi desligada.

De acordo com a médica, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a quem ela buscou poupar durante o depoimento, informou que o seu nome "não passaria" pelo crivo da Casa Civil. Ela justificou ter usado o termo "Casa Civil" por "entender que é onde o nome deve ser aprovado ou não".

Luana exerceu a função apenas informalmente entre 12 e 22 de maio. A saída ocorreu antes que o nome dela fosse publicado em ato no Diário Oficial da União. Segundo informações publicadas pela imprensa à época dos fatos, houve divergências entre as partes relacionadas a supostas condições estabelecidas pelo Palácio do Planalto.

A médica tem um posicionamento expressamente contrário a questões que são caras ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como o incentivo ao uso de medicamentos sem eficácia no tratamento da covid-19, como cloroquina e hidroxicloroquina, e o respeito às medidas de restrição fundamentais no combate ao alastramento do vírus.

Essa hipótese me deixa, nem frustrada, mas extremamente envergonhada. Me coloquei à disposição do atual governo para que a gente junto chegasse a uma solução. Se o veto ao meu nome foi por conta da minha posição científica técnica, necessária, a mim só me resta lamentar. Eu não sei se foi, mas se foi, eu considero isso trágico."
Luana Araújo

Segundo Renan Calheiros, também em documento distribuído por sua assessoria, as declarações da médica demonstram que ela "ficou isolada em relação ao tratamento precoce e ao uso da cloroquina".

Ele considera que o depoimento da médica "ajuda a compreender a insistência do governo em priorizar a utilização do medicamento, mesmo contra posições científicas, dando espaço, somente, aos profissionais que defendiam a cloroquina como política pública".

Aos senadores na CPI, a médica afirmou ainda que teve dificuldade para montar uma equipe após ter sido escolhida pelo ministro e que, "infelizmente, por tudo o que vem acontecendo, essa polarização esdrúxula, essa politização incabível, as melhores cabeças que temos nessas áreas não estavam à disposição para trabalhar nessa secretaria", a acrescentar ter procurado "fora e dentro do ministério".

"Pleiteei autonomia, e não insubordinação e anarquia", declarou. Luana relatou à CPI ter ouvido de Queiroga, "de forma afirmativa e concreta", que teria autonomia para trabalhar. Mas, logo depois, foi avisada de que seu nome não seria aprovado oficialmente para a secretaria de combate à pandemia.

Na audiência, Renan disse que Luana "parece muito lúcida para integrar esse governo".

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.