Queiroga poupa Bolsonaro, 'foge' de cloroquina e irrita senadores em CPI
Alvo de cobranças na CPI da Covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, esquivou-se de perguntas sobre temas como cloroquina e isolamento "vertical". A postura titubeante gerou irritação entre os congressistas que participaram da audiência, realizada hoje, presencialmente, no Senado. A reunião durou mais de dez horas.
O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a fazer uma provocação e pedir que o depoente respondesse com "sim ou não" aos questionamentos. Já o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ironizou: "Até minha filha de 12 anos falaria sim ou não".
"O senhor compartilha ou não das opiniões do presidente? É uma pergunta objetiva. O senhor pode dizer sim ou não", persistiu Calheiros ante à resistência de Queiroga.
O ministro foi cobrado por declarações e atitudes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia do coronavírus —o vírus começou a se espalhar pelo país entre fevereiro e março de 2020. Queiroga assumiu o cargo em março deste ano. Antes dele, o comando do ministério foi trocado outras duas vezes.
Desde o ano passado, há reclamações de diferentes setores da sociedade em relação a posturas tidas como negacionistas e/ou reducionistas por parte da chefia do Executivo federal. O presidente chegou a chamar a doença de "gripezinha".
Queiroga foi contestado principalmente a respeito das polêmicas que envolvem a defesa da cloroquina, medicamento do qual Bolsonaro é entusiasta, mesmo sem eficácia científica comprovada no combate à covid-19.
Diferentemente de seu antecessor no cargo, o general de Exército Eduardo Pazuello, o atual ministro é médico e especialista da área.
Queiroga evitou contrariar publicamente o presidente da República e, buscou dizer que há duas correntes na medicina, a favor e contra, sobre a validade da cloroquina para tratar a covid-19 e que a questão é técnica.
Também tentou alegar que a pergunta sugeria um juízo de valor, e não uma análise técnica e objetiva da permissibilidade ou não da cloroquina.
A estratégia usada por Queiroga para fugir das perguntas espinhosas foi bater na tecla da vacinação, que segundo ele, é prioridade total da pasta. O argumento foi utilizado, inclusive, no momento em que o depoente afirmou não saber se havia um "estoque de cloroquina" à ocasião de sua posse do cargo.
Após se esquivar das perguntas sobre cloroquina, ainda em meio a discordâncias de governistas entre oposicionistas, o ministro disse que não pretende julgar os posicionamentos de Bolsonaro. Disse, por outro lado, não ter autorizado a adoção do medicamento e não ter conhecimento dela em sua gestão
Não tenho que fazer juízo de valor a respeito das opiniões do presidente da República"
O ministro repetiu que não poderia opinar sobre declarações e algumas ações de Bolsonaro, como sugestão de novo decreto contra políticas de isolamento social, ao longo do depoimento.
Após insistência de Renan sobre o decreto, Queiroga disse que Bolsonaro se preocupa com a liberdade das pessoas e, com isso, concordaria.
Como o depoimento de Queiroga acabou se estendendo, a participação do diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, prevista para hoje à tarde, foi remarcada para a próxima terça-feira (11).
Quebra de patente
Deputados de oposição ao governo federal criticaram Queiroga depois de ele ter se posicionado, durante a reunião de hoje da CPI, de forma contrária à quebra de patentes das vacinas para a covid-19.
Os parlamentares classificaram a posição do ministro como "absurda" e "na contramão do mundo e do bom senso".
País tem 430 milhões de vacinas contratadas, diz Queiroga
O ministro da Saúde disse que 430 milhões de doses da vacina contra o coronavírus foram contratadas e que essas doses devem estar prontas até o final do ano. O gestor informou que informações imprecisas sobre o tema foram repassadas por um técnico anteriormente, mas que o processo será apurado.
O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), cobrou do ministro um cronograma mais realista acerca da disponibilização das vacinas. Queiroga avaliou que há variáveis, como atraso de entregas de insumos, doses prontas, aprovação da Anvisa e questões técnicas de laboratórios, mas que o ministério repassa as vacinas a estados e municípios assim que recebidas, e deve estar vigilante para agilizar o processo.
Na fala aos senadores, Queiroga procurou mostrar o trabalho da pasta e exaltar a importância da vacinação, além de transmitir uma imagem de união.
"Destaco que a solução que nós temos para o problema da pandemia é a campanha de vacinação. Então, precisamos vacinar a nossa população. A vacina contra a covid é uma resposta da ciência", disse.
Ao ser indagado sobre testes para a detecção da covid-19, inclusive comprados pelo ministério e que estariam prestes a vencer, Queiroga afirmou ser preciso adotar uma política de testagem e, assim, estabelecer uma política de isolamento de pacientes contaminados e de pessoas que entraram em contato com esses pacientes.
Ele também buscou lembrar que os testes são entregues pelo governo federal sob demanda de estados e municípios, embora tenha admitido que o ministério vai procurar ter um "papel mais ativo" no encaminhamento dos produtos.
À CPI, o ministro afirmou ter tido autonomia para escolher os secretários da saúde, conforme "critérios técnicos".
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) questionou Queiroga se ele concorda com o direito de estados e municípios adotarem medidas de restrição de circulação e de distanciamento social, se necessárias, ao que o ministro afirmou:
Claro que eu concordo, senador"
Queiroga diz desconhecer "guerra química"
Ao também ser questionado por Tasso sobre as declarações de Bolsonaro em haver uma "guerra química", o ministro alegou que desconhece a situação.
Em complemento, afirmou que o presidente não citou diretamente a China e, por esse motivo, não haveria preocupações sobre os impactos nas relações internacionais entre o país asiático e o Brasil.
Este é o terceiro dia de depoimentos à CPI da Covid. Nos últimos dois dias, falaram à Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado os ex-chefes do Ministério da Saúde no governo Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.
* Com a colaboração de Nathan Lopes, do UOL, em São Paulo
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