Topo

Esse conteúdo é antigo

'Não sou um censor do presidente'; veja frases de Queiroga na CPI da Covid

Do UOL, em São Paulo

08/06/2021 11h49Atualizada em 08/06/2021 15h58

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, está sendo ouvido hoje na CPI da Covid que investiga a conduta do governo federal durante a pandemia do novo coronavírus. No depoimento, Queiroga está sendo questionado sobre inconsistências em relação às declarações da primeira oitiva, realizada em 6 de maio.

A audiência foi antecipada para hoje devido ao interesse que senadores críticos ao governo federal têm em ouvi-lo antes da iminente realização da Copa América no Brasil.

Segundo ele, "não existe provas de que esta prática [a Copa América] aumente o nível de contaminação dos atletas". Ele ainda disse que o último Campeonato Brasileiro teve apenas um caso positivo de coronavírus, quando na verdade foram mais de 300.

A Copa América foi confirmada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas desperta crítica e resistência de vários setores da sociedade. Ontem (7), na contramão da OMS (Organização Mundial da Saúde), o ministro afirmou considerar que não há "risco adicional" no fato de o país sediar competição esportiva com potencial para provocar aglomerações.

Queiroga também foi confrontado na CPI sobre participação da infectologista Luana Araújo, na semana passada. Aos congressistas a médica afirmou ter sido comunicada pelo próprio ministro de que seu nome havia sido reprovado pelo governo, sem justificativa concreta, para o comando da recém-criada Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid (subpasta do Ministério da Saúde).

O ministro disse que a decisão de não efetivar Luana Araújo na secretaria foi dele.

Queiroga ainda afirmou que não atua como "censor do presidente" ao ser questionado sobre a presença de Bolsonaro em aglomerações em meio à pandemia do novo coronavírus. Ele disse que também não tem "poder de polícia".

O ministro também negou a existência do chamado "gabinete paralelo", nome que tem sido dado a uma suposta "estrutura de assessoramento" ao presidente Bolsonaro, sem vínculo com o Ministério da Saúde, durante a pandemia.

Veja as principais frases de Marcelo Queiroga durante o depoimento:

Postura de Bolsonaro

Sou ministro da Saúde, não um censor do Presidente da República, as recomendações sanitárias estão postas. Cabe a todos aderir a essas recomendações.

(...)

As imagens [de Bolsonaro em algomerações] falam por si só, eu estou aqui como ministro da Saúde para ajudar o meu país e não vou fazer juízo de valor sobre o presidente.

(...)

Todos têm a responsabilidade de cumprir as medidas não farmacológicas. Todos, indistintamente, neste País. Se vão cumprir ou não... Ministro não tem poder de polícia.

Nomeação de Luana Araújo

Eu entendi que, no momento, não seria o perfil mais adequado para ficar à frente da pasta. Eu entendi que, naquele momento, a despeito da qualificação que a Dra. Luana tem, não seria importante a presença dela para contribuir para a harmonização nesse contexto [de divergências].

Vacina é prioridade

Acredito fortemente que o caráter pandêmico dessa doença só será cessado com eficiente campanha de vacinação. É por isso que trabalho todos os dias no Ministério da Saúde para prover mais doses de vacinas, para acelerar nossa campanha

Copa América no Brasil

A minha função, nesse episódio, não foi dar aval para acontecer ou não a Copa América no Brasil, porque isso não é a função do Ministério da Saúde. O que o presidente me pediu foi que avaliasse os protocolos, e nós avaliamos os protocolos da CBF e da Conmebol, e são protocolos que permitem a segurança para a ocorrência dos jogos no Brasil.

"Gabinete paralelo"

Eu desconheço essa atuação em paralelo na minha gestão. Nunca vi esse grupo atuando de forma alguma.

(...)

Ele [Osmar Terra] me procurou uma vez no ministério para falar acerca de estudos sorológicos, não tratamos de medicações. A doutora Nise [Yamaguchi], eu recebi no Ministério da Saúde uma vez e me entregou um protocolo de cloroquina que era usado em Cuba e eu recebi.

Testes de covid-19 vencidos

Cerca de 2 milhões de testes foram vencidos, mas a empresa que produz vai repor esses testes. (...) [A fabricante] é sensível em face de ter vencido os testes dentro de um contexto de milhões e vai repor, está em trâmite.

Cloroquina e ivermectina

Essas medicações não têm eficácia comprovada [contra a covid-19]. Esse assunto é motivo de discussão na Conitec [Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS]. (...) Se eu ficar discutindo a discussão do ano passado, eu não vou em frente.

Vale lembrar: não há qualquer medicamento comprovadamente eficaz para prevenção ou tratamento precoce da covid-19. Há aqueles que controlam os sintomas, como febre.

Em outubro, a OMS publicou que havia evidências conclusivas da ineficácia da hidroxicloroquina para a covid-19. Além disso, desde dezembro, tanto a cloroquina como a hidroxicloroquina são contraindicadas pelo órgão para pacientes da doença. A maioria dos fabricantes brasileiros de cloroquina não recomenda o remédio para covid-19.

Embate com Otto Alencar (PSD-BA)

Senador [Otto Alencar], Vossa Excelência não pode querer desqualificar a autoridade sanitária do Brasil por ter lido ou não uma bula de uma vacina. (...) Senador, eu distribuí 70 milhões de doses de vacinas para os brasileiros. Não tem pseudovacinação nenhuma. A sociedade brasileira reconhece os esforços que nós temos feito aqui, e não aceito que seja desqualificado.

Autonomia como ministro

O presidente [Bolsonaro] me deu autonomia para eu conduzir o Ministério da Saúde. Isso não significa uma carta branca para fazer tudo que quer, não existe isso.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.