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Sou ministro da Saúde, não censor do presidente, diz Queiroga

Thaís Augusto e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em São Paulo e em Brasília*

08/06/2021 10h30Atualizada em 08/06/2021 14h15

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, declarou hoje, em depoimento à CPI da Covid, que não é "censor do presidente" Jair Bolsonaro (sem partido) e evitou criticá-lo pelo descumprimento de protocolos básicos como o não uso de máscaras e a promoção de aglomerações.

O depoente relatou, no entanto, que buscou orientar Bolsonaro a respeito da importância das chamadas "medidas não farmacológicas". O governante, mesmo assim, optou por contrariar as recomendações, de acordo com a versão apresentada por Queiroga.

"Sou ministro da Saúde, não um censor do Presidente da República, as recomendações sanitárias estão postas. Cabem a todos aderir a essas recomendações", afirmou o ministro.

"Não me compete julgar os atos do Presidente da República. Já falei com ele, é um ato individual", completou.

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), exibiu vídeo de um passeio de moto feito pelo presidente Bolsonaro ao lado do ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello no Rio de Janeiro, no último dia 23.

Ambos circularam sem máscara, fizeram discursos para apoiadores do alto de um carro de som e provocaram aglomerações.

As imagens falam por si só, eu estou aqui como ministro da Saúde para ajudar o meu país e não vou fazer juízo de valor sobre o presidente"
Marcelo Queiroga, ministro da Saúde

"Todos têm a responsabilidade de cumprir as medidas não farmacológicas. Todos indistintamente nesse pais. Se vão cumprir ou não...o ministro não tem poder de polícia", defendeu Queiroga, novamente, ao ser questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) sobre "motociatas" incentivadas por Jair Bolsonaro.

O depoimento do ministro Queiroga foi antecipado para hoje devido ao interesse que senadores críticos ao governo federal têm em ouvi-lo antes da iminente realização da Copa América no Brasil. A expectativa é de que ele seja pressionado a responder sobre assuntos incômodos ao governo Bolsonaro.

Aziz pede união após ataques em Manaus

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), pediu a Bolsonaro que ele "deixe diferenças de lado" em função da série de atos de violência que ocorreram nos últimos dias em Manaus —base eleitoral do parlamentar. A declaração ocorreu pouco antes do início do depoimento de Queiroga, na abertura da audiência.

Aziz disse ter sido "cobrado" publicamente por Bolsonaro em meio à repercussão dos ataques na capital amazonense. Em resposta, o congressista declarou que seria "importante" superar as divergências políticas em prol de um planejamento eficaz na área de segurança pública.

"(...) Ou fazemos um programa nacional de segurança pública senão vamos padecer para facções criminosas. Eu não falo da capital Manaus não, falo do estado inteiro, do interior do Brasil, onde a droga comanda."

"Faço esse apelo ao presidente da República, ele se elegeu com essa pauta [da segurança]. Independente de termos divergências, é importante a gente se unir, governadores, prefeitos, presidente, Congresso Nacional, para que a gente não permita que facções controlem o estado e deixam a população à mercê do terrorismo que hoje acontece em Manaus", completou.

O senador ressaltou que o Brasil "não tem nenhuma proteção nas fronteiras".

Segundo Aziz, é por ali que entram as drogas e armas pesadas no país. "Além de cuidar da pandemia, temos que cuidar das pessoas de bem que querem sair para trabalhar e são aterrorizadas".

Até ontem, 31 suspeitos de envolvimento nos ataques foram presos, incluindo dois traficantes em posição de chefia na facção.

Ao menos 29 veículos, sete agências bancárias e oito prédios públicos foram alvo dos ataques ordenados pela facção criminosa em Manaus e cidades do interior do estado. Entre os veículos, foram incendiados 18 ônibus, duas viaturas policiais, duas carretas e uma ambulância.

*Colaborou Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.