Pasternak diz que cloroquina não foi testada em emas 'porque elas fugiram'
A microbiologista Natalia Pasternak disse hoje durante o seu depoimento na CPI da Covid, no Senado Federal, que a cloroquina "já foi testada em tudo, [incluindo] animais, humanos, só não testaram em emas porque as emas fugiram". O remédio, frequentemente divulgado para combate à covid por membros do Governo Bolsonaro, não possui evidência científica comprovada contra o vírus.
A fala da pesquisadora faz referência a uma foto tirada em julho do ano passado quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi flagrado exibindo uma caixa de cloroquina para as emas que vivem no Palácio da Alvorada, em Brasília. Frequentemente, o mandatário diz que toma e indica o uso do medicamento.
À época a foto causou grande repercussão nas redes sociais e virou alvo de memes dos internautas. Duas semanas antes do registro, o atual mandatário havia recebido o resultado positivo para a doença.
Esse foi um estudo muito completo, publicado também no meio do ano passado, onde foi avaliada a ação da cloroquina nas células genéricas, nas células do trato respiratório, em animais, em combinação ou não com [o medicamento] azitromicina, de todas as maneiras que os senhores podem imaginar: foi uso profilático, foi uso profilático pós-exposição, que é o tratamento precoce, é logo que a pessoa ou o animal é exposto, foi para casos leves, foi para casos graves, cobriu tudo."
[A cloroquina] Não funciona em células do trato respiratório. Não funciona em camundongos, não funciona em macacos, e também já sabemos que não funciona em humanos. Senhores, a cloroquina já foi testada em tudo. A gente testou em animais, a gente testou em humanos. A gente só não testou em emas porque as emas fugiram, mas, no resto, a gente testou em tudo, e não funcionou."
Natalia Pasternak, microbiologista e pesquisadora, na CPI da Covid
Complementando a fala, Pasternak ainda explicou que os estudos realizados com o medicamento foram feitos com diferentes animais, mas ele não se mostrou eficaz para o tratamento, inclusive precoce, da doença.
"Não contentes com isso, mesmo com todos esses estudos em animais, que já teriam sido suficientes em qualquer outro medicamento para descartar e nem continuar com os estudos em humanos, a gente fez estudos em humanos inclusive de tratamento precoce, que são os estudos de PEP e PrEP. PEP é a exposição profilática pós-exposição, ou seja, a pessoa foi exposta ao vírus e já começa o tratamento — não dá para ser mais precoce do que isso. Não funcionou", começou a explicar a pesquisadora e divulgadora científica.
E completou: "Aí a gente teve os de PrEP, que é profilático. Vamos dar para profissionais de saúde porque eles são muitos expostos: também não funcionou. Ou seja, a gente testou isso tudo no ano passado".
Negacionismo
Ainda durante a sua apresentação, Pasternak criticou o negacionismo e apontou que o descrédito à ciência não é "falta de informação".
"Isso é negacionismo, senhores. Isso não é falta de informação. Negar a ciência e usar esse negacionismo em políticas públicas não é falta de informação, é uma mentira e, no caso triste do Brasil, é uma mentira orquestrada, orquestrada pelo Governo Federal e pelo Ministério da Saúde."
A depoente ainda declarou que as mentiras sobre a pandemia provoca a morte de cidadãos e leva a "comportamentos irracionais" que não se baseiam na ciência.
"E essa mentira mata, porque ele leva pessoas a comportamentos irracionais, que não são baseados em ciência. Isso não é só para a cloroquina. A cloroquina aqui é apenas um exemplo. Isso serve para o uso de máscaras, isso serve para o distanciamento social, isso serve para a compra de vacinas que não foi feita em tempo para proteger a nossa população. Esse negacionismo da ciência perpetuado pelo próprio Governo mata."
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