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Ex-secretário diz que crise do oxigênio no AM durou dois dias

Do UOL, em São Paulo

15/06/2021 12h01Atualizada em 15/06/2021 15h09

O ex-secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, disse hoje na CPI da Covid que o desabastecimento de oxigênio no estado durou apenas dois dias. Diferentemente do que alega o ex-secretário, porém, a falta de oxigênio durou bem mais que dois dias no Amazonas — e o próprio Campêlo e o governo do estado reconheceram isso ainda em janeiro.

"Na nossa rede pública e estadual nós temos registro de intermitência de oxigênio nos dias 14 e 15 [de janeiro]", disse Campêlo.

Questionado por senadores sobre mortes por falta de oxigênio no Hospital 28 de Agosto, Câmpelo negou que os pacientes tenham morrido por desabastecimento após o dia 15 de janeiro. "Não há registro."

O ex-secretário afirmou que houve apenas falta de oxigênio no mercado, onde as pessoas procuravam cilindros para levar para casa. "Uma coisa é faltar oxigênio na rede de saúde hospitalar. Outra é o paciente que está tratando em casa porque não tem vaga no hospital, tenta comprar o cilindro de oxigênio na rua e ele não existir".

Uma nota publicada no site do governo do Amazonas em 14 de janeiro atribui ao governador Wilson Lima (PSC) —que evitou falar à CPI ao recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal)— a informação de que a demanda por oxigênio no estado "passou a ser cinco vezes maior nos últimos 15 dias" — ou seja, desde 31 de dezembro.

Em 27 de janeiro —12 dias após a data final mencionada pelo ex-secretário— o UOL noticiou uma fala do próprio ex-secretário admitindo que Manaus não havia reduzido a demanda e que ela havia aumentado no interior do estado. A reportagem foi citada na CPI pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).

Campêlo buscou restringir sua fala à rede estadual e aos dois dias citados, omitindo que bem antes o próprio governo do Amazonas já tinha conhecimento do risco de falta de oxigênio. O alerta veio no dia 7 de janeiro pela White Martins, fornecedora de oxigênio, e o governo amazonense encaminhou o comunicado ao Ministério da Saúde — o que Campêlo inclusive relatou na CPI hoje. O documento mandado pela White Martins foi divulgado ainda em janeiro em reportagem da Agência Pública.

Também antes das datas citadas por Campêlo, no dia 10 de janeiro, o governador Wilson Lima fez um apelo ao governo federal e a outros estados para que doassem oxigênio: "Hoje, as empresas que fornecem oxigênio para o estado não conseguem suprir essa demanda".

Mais adiante no depoimento, Campêlo reconheceu que a crise de oxigênio "no mercado" durou pelo menos "20 dias" e que a população procurava oxigênio desde o começo de janeiro, mas continuou diferenciando o que chamou de "crise nas unidades de saúde por falta de oxigênio, ou intermitência no fornecimento, e no mercado local."

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.