Josias: Bolsonaro não ficará bem após depoimento dos irmãos Miranda na CPI
O colunista do UOL, Josias de Souza, disse hoje que a situação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não será boa após o depoimento do servidor da área técnica do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e do irmão dele, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) na CPI da Covid. O parlamentar diz ter alertado o presidente Bolsonaro sobre indícios de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.
"A turma do G7 [senadores da oposição] está ali com a faca nos dentes para extrair do servidor o máximo de informações que ele puder oferecer. Acho que ao final do depoimento não vai ficar bem para o presidente da República não", disse Josias ao UOL News.
Ele também comentou sobre a estratégia definida ontem por senadores governistas da CPI com o ministro Onyx Lorenzoni. "[Eles combinaram] uma linha muito precária porque coloca no enredo o ministro Pazuello [ex-ministro da Saúde]. Ora, se o presidente da República tem compromisso mínimo com a ética, ele utilizaria as ferramentas à disposição para verificar a verdade. Ele teria comunicado a Polícia Federal para que verificasse, mas o presidente acionou o Pazuello, que estava de saída".
Acionar o Pazuello é algo tão concreto quanto acionar o cachorro da Alvorada, o Faísca. Não resolve nada. Governistas estão municiados nessa versão, mas se utilizarem isso na CPI é algo muito próximo da desmoralização."
Josias de Souza, colunista do UOL
Josias lembra que Pazuello deixou o cargo em 23 de março e que os irmãos Miranda alegam ter encontrado Bolsonaro em 20 de março. "[O ex-ministro] teria apenas 2 dias para verificar essa informação de que havia grande irregularidade no contrato de compra da Covaxin. Em 2 dias, ninguém apura nada, mas governo hoje insiste que não há nada irregular no contrato. A realidade mostra o oposto, tanto que o governo namora a ideia de cancelar [a compra]".
Entenda o caso
Segundo o parlamentar Luis Miranda, o irmão foi pressionado a dar celeridade ao processo burocrático para que as 20 milhões de doses adquiridas chegassem ao Brasil —mesmo com aval, o governo ainda dependeria de autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). No entanto, Luís Ricardo teria se recusado a agir dessa forma e disse que sua equipe havia identificado falhas de documentação e inconsistências no contrato.
Em depoimento à Procuradoria Regional da República do Distrito Federal, que investiga o caso, o servidor apontou pressão atípica para a importação da Covaxin, fabricada pela Bharat Biotech e negociada com o governo federal pela Precisa Medicamentos. Para a Procuradoria, há indícios de crime no contrato, como superfaturamento.
O deputado Miranda revelou ter repassado em 20 de março as informações tanto ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, comandante da pasta à época dos fatos, quanto ao presidente Bolsonaro — quase um mês após o governo assinar o contrato para a compra da vacina.
O ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, disse na quarta (23) que Bolsonaro determinou à Polícia Federal que investigue a declaração do deputado. Segundo o ministro, as declarações de Luis Miranda são "mentirosas" e foram construídas para "atingir a imagem do presidente Jair Bolsonaro". O parlamentar é um dos principais aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que, por sua vez, foi eleito ao cargo com a ajuda do Palácio do Planalto em fevereiro.
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