Bolsonaro virou refém de deputado com denúncia sobre Covaxin, diz Dino
O governador do Maranhão Flávio Dino (PSB) disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está "refém" do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) com a denúncia sobre um suposto esquema de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin.
Em entrevista à revista Fórum, Flávio Dino declarou que "é muito feio" o presidente da República ficar com "cangalha, com coleira", e que Bolsonaro não tem mais condições de continuar no exercício do cargo até as eleições de 2022.
"Esse deputado [Luís Miranda] aparentemente tem uma gravação, ou diz ter uma gravação [que comprovaria que Bolsonaro foi avisado sobre o suposto esquema no ministério da Saúde]", disse o governador maranhense. "Eu acho que é muito feio o presidente da república refém, com cangalha, com coleira, é muito feio, incompatível com o exercício do cargo", continuou.
"Aí o deputado diz 'eu tenho uma gravação', aí ele [Bolsonaro] baixa o tom, fica calminho, tranquilinho. Quer dizer, ele se põe na condição de refém em relação ao deputado denunciante. Então, realmente, se já não havia governo, agora mesmo é que não há", opinou.
Para Flávio Dino, as revelações de Luís Miranda e seu irmão Luis Ricardo Miranda, servidor do ministério da Saúde, recolocaram a pauta do impeachment no centro do debate.
Ainda, o governador elogiou o trabalho da CPI da Covid e disse que, ao seu ver, o trabalho realizado pelos senadores na comissão se tornou uma forma de se "estabelecer a construção da verdade no meio do governo baseado em mentiras, falseamentos e fake news".
"A CPI conseguiu reconstituir um itinerário criminoso que vem desde a premissa da gripezinha e desencadeou uma sequência de atos e omissões que levou com que tenhamos esse péssimo desempenho [no combate ao coronavírus]", afirmou.
"Agora temos o ápice do dolo. Não era apenas imperícia ou negligência, havia dolo na perpetração de certos atos. O episódio da Covaxin se insere nesse contexto e torna tudo muito mais plausível, faz mais sentido. Antes parecia que era porque o Bolsonaro não gostava do governador (de São Paulo) João Doria, mas agora ficou evidente que não era apenas isto", completou.
Irmãos Miranda
Os irmãos Luis Cláudio Miranda e Luis Ricardo Miranda, deputado federal e servidor do ministério da Saúde, respectivamente, denunciaram um suposto esquema de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin.
Em depoimento à CPI da Covid, eles disseram ter avisado ao presidente Jair Bolsonaro há três meses sobre as suspeitas e sobre uma "pressão atípica" que Luis Ricardo estava sofrendo para acelerar a importação do imunizante. Ainda segundo os irmãos, o presidente teria citado o nome do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, como o parlamentar que queria fazer "rolo" no ministério.
À Folha de S.Paulo, o deputado Luis Miranda afirmou que o suposto esquema de corrupção do ministério da Saúde pode ser "muito maior" do que o caso da vacina Covaxin. Segundo o parlamentar, seu irmão relatou vê indícios de operação "100% fraudulenta" para a compra de testes de covid-19. Para ele, Bolsonaro "demonstra claramente que não tem controle sobre essa pasta".
Após as revelações, os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Jorge Kajuru (Podemos-GO) e Fabio Contarato (Rede-ES) enviaram um pedido de abertura de notícia-crime ao STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar as supostas irregularidades envolvendo a compra do imunizante da farmacêutica indiana Bharat Biotech. A ministra Rose Weber foi sorteada para relatar o pedido.
Na semana passada, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, negou as denúncias dos irmãos Miranda. O deputado Ricardo Barros afirmou não tem "relação com os fatos narrados" na CPI e que "a investigação provará isso".
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