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Bolsonaro já deveria ter afastado Ricardo Barros, diz Randolfe

É "o mínimo que devia ocorrer a essa altura", disse Ranfolfe Rodrigues - Marcos Oliveira/Agência Senado
É 'o mínimo que devia ocorrer a essa altura', disse Ranfolfe Rodrigues Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

29/06/2021 15h26Atualizada em 29/06/2021 20h25

O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), criticou os ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à comissão e disse que, "a essa altura", o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) já deveria ter sido retirado da liderança do governo na Câmara.

"O mínimo que devia ocorrer a essa altura, já que o presidente admite que teve encontro [com os irmãos Miranda], era pelo menos afastar seu líder do governo, mas nenhuma providência é tomada", disse Randolfe Rodrigues à GloboNews.

"Em nenhum momento o presidente da República desmentiu que teve encontro com os irmãos Miranda e que deixou de avisar do esquema que estava em curso no Ministério da Saúde", continuou.

Os irmãos Miranda, no caso, são o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, que, na última sexta-feira (25), prestaram depoimento à CPI da Covid.

Na ocasião, os irmãos relataram indícios de irregularidades na aquisição da Covaxin, com pressão atípica para a importação do imunizante desenvolvido pela farmacêutica indiana Bharat Biotech, representada no Brasil pela Precisa Medicamentos.

No depoimento, o deputado disse ter se reunido com Jair Bolsonaro para relatar as suspeitas que tinha e, no encontro, o presidente citou o nome de Barros ao ouvir as denúncias, utilizando ainda a palavra "rolo", como se houvesse um esquema ilícito comandado pelo paranaense.

Logo após o depoimento dos irmãos Miranda, Barros negou qualquer participação em algum esquema ilícito no Ministério da Saúde. Hoje, afirmou que as acusações que recaem sobre ele "não possuem embasamento".

Por enquanto, a posição do governo é a de manter Ricardo Barros na liderança na Câmara, já que a retirada do deputado do posto poderia criar sinais de que Bolsonaro estaria admitindo uma certa culpa em algum possível esquema do parlamentar do PP.

Versões

Randolfe também criticou as versões veiculadas pelo governo federal e auxiliares para sustentar que foram tomadas providências para apurar a existência de um possível esquema ilícito na aquisição da Covaxin.

Ontem, em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que não tem como saber tudo que acontece nos ministérios. "Nem sabia como estava questão da tratativa da Covaxin", afirmou, não citando o nome de Ricardo Barros.

Já hoje, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse que Bolsonaro pediu, no fim de março, que o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello investigasse a denúncia de irregularidades na aquisição das doses da Covaxin

Fernando Bezerra Coelho ainda afirmou que Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, foi o encarregado de apurar os termos do contrato em uma apuração "cautelosa e criteriosa".

Pazuello, relatou o senador pernambucano, recebeu a ordem presidencial em 22 de março — mas, em 14 de março, o militar já havia pedido demissão da chefia do Ministério da Saúde, e, no dia 23 do mesmo mês, Marcelo Queiroga já estava em posse do cargo.

Elcio Franco, que era o braço direito de Pazuello na Saúde, foi exonerado pouco tempo depois, no dia 26 de março. "Nenhuma [versão do Planalto] tem razoabilidade para explicar o porquê não foi tomado providências pelo governo", argumentou Randolfe.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.