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Dominguetti diz à CPI que pode ter sido induzido a erro em áudio de Miranda

Gilvan Marques e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

01/07/2021 18h04Atualizada em 01/07/2021 20h46

O policial militar e suposto representante da Davati, Luiz Dominguetti, recuou em seu depoimento à CPI da Covid, nesta quinta-feira (1), e disse que pode ter sido induzido ao erro ao apresentar o áudio durante a sessão da comissão e relacioná-lo a possível envolvimento do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) com negociação de vacinas.

Dominguetti relatou à Folha de S.Paulo um esquema de corrupção na compra de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca. Ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose de vacina, em 25 de fevereiro, um dia depois de o Brasil bater a marca de 250 mil óbitos pela covid-19.

Na CPI, além de reafirmar as denúncias feitas ao jornal, o vendedor autônomo exibiu ainda um áudio sugerindo que o deputado Miranda também havia tentado adquirir vacinas com a Davati. Não é possível ter certeza sobre quais assuntos tratavam na ocasião. Senadores então passaram a questioná-lo sobre o conteúdo desse áudio, já que não se ouve a palavra "vacina" em nenhum momento.

Eu recebi o áudio e acreditei no áudio de boa-fé. Da mesma forma que me foi postado e induzido a acreditar que eram vinculadas, pois eram postagens uma embaixo da outra, dando a entender a mim que eram vinculadas ao mesmo fato
Luiz Dominguetti, em depoimento à CPI da Covid

"Como eu disse, a contextualização de como eu recebi do Cristiano era a conotação. Se eu enviasse a Vossa Excelência. um print da publicação do deputado no Twitter e, logo em seguida, um print do áudio, o que eu entendi...", concluiu.

Luis Miranda afirma que os diálogos do áudio são de outubro do ano passado e não se referem à negociação de vacinas, mas, sim, de luvas cirúrgicas. Ele, inclusive, registrou hoje em um cartório de Brasília conversas mantidas por meio do aplicativo WhatsApp que abordavam, de acordo com o parlamentar, negociações para aquisição de luvas hospitalares com o objetivo de desmentir a versão dada por Dominguetti.

O empresário Cristiano Alberto Carvalho, representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil, disse ao jornal O Globo que Luiz Paulo Dominguetti "quer aparecer" e que a mensagem se trata "sobre os negócios dele [Luis Miranda] nos EUA". Disse, também, que o áudio citado durante o depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito não tem nenhuma relação com a Davati.

Por meio de nota, a Davati infomou não ser representante do laboratório AstraZeneca. "[A emrpesa] jamais se apresentou ao governo federal ou a qualquer outro órgão como tal. Como esclarece o documento de oferta (Full Corporate Offer) feita ao Ministério da Saúde, a Davati Medical Supply não detinha a posse das vacinas, atuando na aproximação entre o governo federal e "allocation holder" que possuía créditos vacinas do laboratório AstraZeneca".

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que o vendedor prestou um desserviço e lhe acusou de cometer o crime de falso testemunho durante depoimento.

E o senhor se prestou a um desserviço para a Nação. Eu lamento e, Sr. Presidente, ao final desse procedimento todo, eu peço que a Presidência avalie a hipótese de prisão em flagrante pelo falso testemunho Senador Alessandro Vieira

Tanto o Código Penal quanto a legislação que regula as CPIs estabelecem que "fazer afirmação falsa" como testemunha pode ser configurado como crime. A Constituição Federal e o Código de Processo Penal preveem a prisão em flagrante.

Denúncia de propina

Em reportagem publicada anteontem pela Folha, Dominguetti contou que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por vacina para fechar a compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. Segundo ele, o pedido foi feito em um jantar no Brasília Shopping, em 25 de fevereiro.

A AstraZeneca nega que a Davati a represente. A empresa já chegou a ser desautorizada pela farmacêutica no Canadá.

Paralelamente, reportagens publicadas na imprensa mineira indicam que a Davati pode estar fraudando o processo de aquisição de vacinas. A empresa teria negociado com várias prefeituras, com o objetivo de conseguir uma carta de intenção demonstrando interesse na compra de vacinas da AstraZeneca. Depois de conseguir a carta, porém, as conversas emperraram.

Roberto Ferreira Dias teve sua exoneração anunciada ontem à noite, após a publicação da reportagem. O Ministério da Saúde afirma que a decisão foi tomada pela manhã.