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Diretor de Saúde deu aval para reverendo negociar compra de vacina, diz TV

Fachada do Ministério da Saúde na Esplanada dos Ministérios - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Fachada do Ministério da Saúde na Esplanada dos Ministérios Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

03/07/2021 21h14

O diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, deu aval para que o reverendo Amilton Gomes de Paula, que preside a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (ou Senah), negociasse a compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca em nome do governo brasileiro com a empresa Davati Medical Supply. A informação foi revelada pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, que teve acesso a troca de emails.

Segundo a reportagem, Monteiro Cruz enviou mensagem no dia 23 de fevereiro e tendo como assunto principal: "lista de presença e carta de proposta para fornecimento".

Inicialmente agradecemos a disponibilidade da Senah, representada por sua pessoa (...) Na apresentação da proposta comercial para fornecimento de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. Todos os processos de aquisição de vacinas no âmbito do Ministério da Saúde estão sendo direcionados pela Secretaria Executiva Trecho de email enviado por Monteiro Cruz, diretor de Imunização do Ministério da Saúde

Nove dias depois, no dia 4 de março, o reverendo publicou a foto de uma reunião no Ministério da Saúde. O diretor da pasta aparece na imagem, ao lado dele.

Senah faz reunião no ministério para articulação mundial em busca de vacinas e para a consecução de uma grande quantidade dos imunizantes a ser disponibilizada no Brasil Reverendo comemora reunião em post nas redes sociais

Ainda de acordo com a reportagem, Monteiro Cruz enviou email para o presidente da Davati nos Estados Unidos, Hernan Cardenas, no dia 9 de março.

"Informo que o Instituto Nacional de Assuntos Humanitários, representado pelo seu presidente Amilton Gomes, esteve no Ministério da Saúde em agenda oficial da Secretaria de Vigilância em Saúde e no Departamento de Logística com a discussão sobre as tratativas sobre a vacina da AstraZenica (sic) e que o mesmo foi encaminhado para a Secretaria Executiva do Ministério da Saúde."

Em um dos emails, em 10 de março, o reverendo enviou mensagem para o presidente da Davati nos Estados Unidos. E, em inglês, agradece a "confiança depositada em nossa instituição em conduzir negociações com o Ministério da Saúde do Brasil". No fim, ele cita ainda que o valor acordado na reunião do dia 05 de março foi US$ 17,50 por cada dose.

Suspeita de corrupção e irregularidades

O policial militar e suposto representante da Davati, Luiz Dominghetti, relatou à Folha de S.Paulo um esquema de corrupção na compra de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca. Ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose de vacina, em 25 de fevereiro, um dia depois de o Brasil bater a marca de 250 mil óbitos pela covid-19.

Em depoimento à CPI, além de reafirmar as denúncias feitas ao jornal, o vendedor autônomo exibiu ainda um áudio sugerindo que o deputado Miranda também havia tentado adquirir vacinas com a Davati. Não é possível ter certeza sobre quais assuntos tratavam na ocasião. Senadores então passaram a questioná-lo sobre o conteúdo desse áudio, já que não se ouve a palavra "vacina" em nenhum momento.

Por meio de nota, a Davati informou não ser representante do laboratório AstraZeneca. "[A emrpesa] jamais se apresentou ao governo federal ou a qualquer outro órgão como tal. Como esclarece o documento de oferta (Full Corporate Offer) feita ao Ministério da Saúde, a Davati Medical Supply não detinha a posse das vacinas, atuando na aproximação entre o governo federal e "allocation holder" que possuía créditos vacinas do laboratório AstraZeneca".

Denúncia de propina

Em reportagem publicada anteontem pela Folha, Dominghetti contou que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por vacina para fechar a compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. Segundo ele, o pedido foi feito em um jantar no Brasília Shopping, em 25 de fevereiro.

A AstraZeneca nega que a Davati a represente. A empresa já chegou a ser desautorizada pela farmacêutica no Canadá.

Paralelamente, reportagens publicadas na imprensa mineira indicam que a Davati pode estar fraudando o processo de aquisição de vacinas. A empresa teria negociado com várias prefeituras, com o objetivo de conseguir uma carta de intenção demonstrando interesse na compra de vacinas da AstraZeneca. Depois de conseguir a carta, porém, as conversas emperraram.

Roberto Ferreira Dias teve sua exoneração anunciada ontem à noite, após a publicação da reportagem. O Ministério da Saúde afirma que a decisão foi tomada pela manhã.