Aziz diz que Bolsonaro não vai parar CPI e cobra respostas sobre denúncias
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse hoje que Jair Bolsonaro (sem partido) não vai parar os trabalhos da comissão e pediu que o presidente da República responda se são falsas as acusações de corrupção em contratos de vacinas contra a covid-19.
Aziz também disse que a cúpula da Comissão Parlamentar de Inquérito enviará hoje carta ao presidente cobrando resposta sobre a denúncia dos irmãos Miranda. A carta foi assinada por ele, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL).
Em depoimento à CPI, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, afirmaram que o presidente Bolsonaro teria citado o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), por possível envolvimento em "rolo" ao ouvir denúncia de pressão atípica para a importação de doses da Covaxin.
"O senhor [Bolsonaro] não responde. Passa 50 minutos querendo desqualificar a CPI", declarou Aziz. "Por favor, presidente, diga para a gente que o deputado Luis Miranda é um mentiroso. Diga. Diga à nação brasileira que o deputado Luis Miranda está mentindo, que seu líder na Câmara é um homem honesto. Vossa Excelência está perdendo uma oportunidade."
"Não é o senhor que vai parar esta CPI. A CPI vai se aprofundar. Não tenho nem uma linha para falar sobre Vossa Excelência em relação a roubo, à genocida. Eu o acuso de ser contra a ciência - isso aí está claro. Eu o acuso de não querer fazer propaganda para a vacinação do povo brasileiro. Eu o acuso de tentar desqualificar as vacinas que estão salvando vidas. Disso eu o acuso, porque isso é verdade, isso é científico. Não o acuso de ser ladrão, não o acuso de fazer parte de rachadinha", continuou.
Peço a Vossa Excelência: quando estiver no cercadinho, pense duas vezes no que vai falar. O senhor é o chefe de uma grande nação, dê o exemplo para o bem do Brasil."
Omar Aziz, em fala ao presidente Jair Bolsonaro na CPI da Covid
Mais cedo, Bolsonaro criticou Aziz e o acusou de desviar R$ 260 milhões do Amazonas. A afirmação baseia-se na investigação do Ministério Público na operação "Maus Caminhos", deflagrada em 2016 para apurar desvios na área da saúde no estado. O parlamentar é um dos suspeitos de participar do esquema, mas nunca foi condenado.
O presidente da República fez a declaração enquanto se defendia novamente das acusações de superfaturamento na compra de doses da vacina indiana Covaxin. Ele citou parâmetros técnicos do Ministério da Saúde e os trabalhos de órgãos de controle como impeditivos à corrupção na aquisição dos imunizantes.
Bolsonaro disse que "não tem cabimento" denúncias apresentadas contra ele.
"Só na cabeça de um cara que desvia do seu estado R$ 260 milhões, como Omar Aziz desviou, que pode falar isso aí. Só um cara que tem 17 inquéritos no STF, como Renan Calheiros, faz. Virou CPI da cloroquina, CPI do ministério paralelo, CPI do orçamento secreto, é isso que os caras fazem. Não to reclamando não, sabia que ia ser assim", declarou.
Bolsonaro ainda saiu em defesa das Forças Armadas após Aziz fazer declarações em que atribui a militares "podres" as denúncias de corrupção no Ministério da Saúde envolvendo a compra de vacinas contra o coronavírus.
Ontem, durante sessão da CPI que ouviu o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, Aziz afirmou que "fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo".
Em resposta, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas emitiram uma nota conjunta na qual classificaram as declarações do senador como "graves" e "irresponsáveis".
Ainda na CPI, Aziz rebateu a nota de repúdio contra ele e afirmou que não será intimidado. O senador ainda criticou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que defendeu as Forças Armadas, numa tentativa de apaziguar os ânimos.
A CPI recebeu hoje a ex-coordenadora do PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde Francieli Fontana Fantinato. No depoimento, ela disse que o processo de vacinação contra a covid-19 no país teve dois problemas principais: número insuficiente de doses e falta de comunicação publicitária efetiva e uniforme.
*Com Estadão Conteúdo
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