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Militares que estiveram na CPI 'não contaminam Forças Armadas', diz Renan

Luciana Amaral e Rayanne Albuquerque

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

08/07/2021 14h46Atualizada em 08/07/2021 18h07

O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), declarou hoje que os militares que prestaram depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito não "contaminaram as Forças Armadas".

A declaração do parlamentar acontece um dia após o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmar que há muitos anos "membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo".

O Brasil todo respeita as Forças Armadas. Mas não pode confundir nosso papel, nem achar que vai nos intimidar, e vamos investigar, haja o que houver. Se [Eduardo] Pazuello, [Jair] Bolsonaro e Élcio [Franco] participaram de morticínio, participaram do morticínio, mas não contaminaram as Forças Armadas. Não vamos paralisar as investigações
Renan Calheiros, relator da CPI da Covid

Ontem, durante a sessão da CPI, Omar Aziz havia dito que os "bons" das Forças Armadas deviam estar "muito envergonhados" com alguns dos convocados à comissão, como o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e o ex-secretário-executivo da pasta, coronel Élcio Franco.

Não tenho nem notícia disso [corrupção] na época da exceção [ditadura militar] que houve no Brasil (...). E eu estava, naquele momento, do outro lado, contra eles. Uma coisa de que a gente não os acusava era de corrupção, mas, agora, Força Aérea Brasileira, coronel Guerra, coronel Elcio, general Pazuello... E haja envolvimento de militares
Omar Aziz, presidente da CPI da Covid

Em resposta, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas emitiram uma nota conjunta na qual classificaram as declarações do senador como "graves" e "irresponsáveis".

Pacheco se reúne com Braga Netto e fala em mal-entendido

Em tom conciliador, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) afirmou ter se reunido com o ministro da Defesa, general Braga Netto, na manhã de hoje. Os dois trataram sobre as declarações feitas por Aziz a respeito das Forças Armadas.

Pacheco afirmou que as declarações do líder da Comissão Parlamentar de Inquérito não passaram de um "mal-entendido". De acordo com o presidente do Senado, o assunto foi "suficientemente esclarecido" e está "encerrado".

Deixei claro o nosso reconhecimento aos valores das Forças Armadas, inclusive éticos e morais, e afirmei, também, que a independência e as prerrogativas de parlamentares são os principais valores do Legislativo
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado

Hoje mais cedo, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), saiu em defesa das Forças Armadas e criticou Aziz, além de o acusar de desviar R$ 260 milhões do Amazonas. A afirmação baseia-se na investigação do Ministério Público na operação "Maus Caminhos", deflagrada em 2016 para apurar desvios na área da saúde no estado. O parlamentar é um dos suspeitos de participar do esquema, mas nunca foi condenado.

Aziz, por sua vez, disse que o presidente Bolsonaro não vai parar os trabalhos da comissão e pediu que o mandatário responda se são falsas as acusações de corrupção em contratos de vacinas contra a covid-19.

Em depoimento à CPI, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, afirmaram que o presidente Bolsonaro teria citado o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), por possível envolvimento em "rolo" ao ouvir denúncia de pressão atípica para a importação de doses da Covaxin.

A cúpula da CPI pretende enviar carta ao presidente cobrando resposta sobre a denúncia dos irmãos Miranda. A carta foi assinada por Aziz, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e Renan Calheiros.

A CPI recebeu hoje a ex-coordenadora do PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde Francieli Fontana Fantinato. No depoimento, ela disse que o processo de vacinação contra a covid-19 no país teve dois problemas principais: número insuficiente de doses e falta de comunicação publicitária efetiva e uniforme.

* Com a colaboração de Gabriel Toueg

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.