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Bolsonaro questiona honestidade de representante da Davati e ataca CPI

Do UOL, em São Paulo

15/07/2021 17h08Atualizada em 15/07/2021 20h08

O perfil do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em uma rede social questionou hoje as declarações de Cristiano Carvalho, representante da Davati Medical Supply no Brasil, à CPI da Covid e voltou a atacar senadores que compõem a comissão. Nos posts, Bolsonaro ainda chamou a CPI de "circo" e se referiu de forma ofensiva ao vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

As publicações acontecem enquanto o presidente segue internado no Hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo, para tratar uma obstrução intestinal. Segundo último boletim médico, seu quadro está evoluindo de forma "satisfatória", mas ainda não há previsão de alta.

"Segundo Cristiano, a Davati nunca pagou despesas do [Luiz Paulo] Dominghetti [vendedor de vacinas], nem a própria. Cristiano diz ainda que até sua passagem aérea para Brasília pagou com milhas próprias (quanta 'honestidade'). Um 'negócio' bilionário onde Cristiano, para 'sobreviver', usa do artifício de se beneficiar do auxílio emergencial (sacou e não devolveu R$ 4.100 em 2020)", dizem as postagens no Twitter.

O que frustra o G7 [da CPI] é não encontrar um só indício de corrupção em meu governo. No caso atual, querem nos acusar de corrupção onde nada foi comprado, ou um só real foi pago. No circo da CPI, Renan [Calheiros], Omar [Aziz] e Saltitante [Randolfe] estão mais para três otários que três patetas.
Jair Bolsonaro, no Twitter

Questionado por Bolsonaro, Cristiano Carvalho depôs hoje à CPI na condição de testemunha. Durante a sessão, ele primeiro disse que uma "amiga" teria feito o cadastro em seu nome para que ele recebesse o auxílio emergencial; depois, Carvalho mudou sua versão e admitiu ter feito a solicitação para o benefício por conta própria.

"Na verdade, senador [Marcos Rogério (DEM-RO)]... Excelência, eu vou retificar a informação e dizer que fui eu mesmo que fiz [o cadastro], tá? Infelizmente, eu estou sendo colocado em uma situação constrangedora. No momento, eu precisava. Não me orgulho disso. Já falei que já entrei em contato exclusivamente para devolver", afirmou o depoente.

Carvalho foi convocado para falar à CPI após o policial militar Luiz Paulo Dominghetti, também da Davati, denunciar à Folha de S.Paulo um suposto esquema de corrupção envolvendo a venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. Segundo ele, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria cobrado propina de US$ 1 por dose para fechar o acordo — o que Dias nega.

Randolfe e Aziz rebatem

Randolfe Rodrigues - Pedro França/Agência Senado - Pedro França/Agência Senado
Imagem: Pedro França/Agência Senado

Logo após o fim da sessão da CPI, Randolfe Rodrigues (foto acima) minimizou os ataques feitos pelo presidente no Twitter, dizendo que a única coisa que o frustra é ser o segundo país com mais mortes por covid-19 no mundo. Para vice-presidente da comissão, Bolsonaro deveria "se preocupar em governar o Brasil" — a "única coisa" que a sociedade espera dele.

"É insistente o adjetivo do tratamento que o presidente da República usa a meu respeito. Eu quero dizer a Sua Excelência e seus apoiadores que eu não me importo. Eu me importo de ser chamado de 'corrupto' e "miliciano", mas como eu não tenho esses adjetivos...", rebateu o senador durante coletiva.

Já Omar Aziz se negou a responder às críticas de Bolsonaro e disse que torce pela sua saúde, porque quer debater politicamente com o presidente "em plena forma física", e não "convalescendo". "Sei que ele está sofrendo muito, porque você ter soluços por dias, e as dores que ele deve estar sentindo...", lembrou.

Ataques reiterados

Não é a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro faz ataques à CPI da Covid — em especial, ao presidente Omar Aziz, ao vice-presidente Randolfe Rodrigues (a quem chama, em tom ofensivo, de "saltitante") e ao relator Renan Calheiros. Na semana passada, Bolsonaro anunciou que não responderia a uma carta enviada pelos senadores para questionar-lhe sobre o caso da vacina Covaxin.

"Hoje foi o Renan, o Omar e o saltitante, fizeram uma festa lá embaixo, na Presidência, entregando um documento para eu responder. Sabe qual a minha resposta, pessoal? Caguei", disse o presidente durante sua live semanal.

Depois, Bolsonaro ainda ironizou as denúncias sobre a Covaxin, principal crise pela qual passa seu governo, e voltou a atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece a sua frente em pesquisas sobre as eleições de 2022: "Agora sou corrupto sem ter gasto um centavo com vacina. Zero. (...) Não vou responder nada para esses caras, não vou responder nada para esse tipo de gente".

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.