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Encontro de Pazuello com grupo para comprar CoronaVac contraria fala na CPI

Do UOL, em São Paulo

16/07/2021 16h34Atualizada em 16/07/2021 17h04

A revelação feita hoje pela Folha de S.Paulo, de que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello negociou, fora da agenda e com um grupo de intermediadores, a aquisição de doses da CoronaVac, contradiz uma fala dada pelo general à CPI da Covid.

Em meados de maio, em oitiva, Pazuello disse que não negociava vacinas diretamente com farmacêuticas. A fala foi uma resposta ao relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre negociações de doses contra a covid-19 da Pfizer (veja no vídeo acima, a partir de 00:26).

Eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor, eu não posso negociar com a empresa [Pfizer]. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro. (...) Eu recebo o presidente da Pfizer socialmente, junto com a administração, mas a negociação é feita no nível da equipe de negociação. Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, à CPI da Covid

A resposta de Pazuello foi seguida por uma irritação do ex-ministro com o senador Renan Calheiros, com o general acusando o relator de querer "conduzir" a conversa, o que levou a um bate-boca entre os membros da CPI.

Segundo a Folha de S.Paulo, em 11 de março, Pazuello prometeu a um grupo de intermediadores comprar 30 milhões de doses da CoronaVac, que foram oferecidas por quase o triplo do preço praticado pelo Instituto Butantan.

O compromisso de Pazuello foi registrado em um vídeo pós-reunião, em que o ex-ministro aparece ao lado de quatro pessoas que se apresentavam como representantes da empresa World Brands, de Santa Catarina.

Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento já assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a nossa população. Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, em vídeo obtido pela Folha de S.Paulo

Ainda conforme o jornal paulistano, o preço oferecido pelos intermediadores era de US$ 28 a dose — quase três vezes o valor que o governo federal pagou ao Butantan por 100 milhões de doses da CoronaVac (US$ 10 a dose).

Nova contradição

Mesmo antes do episódio envolvendo o grupo de intermediadores, a fala de Pazuello em resposta ao senador Renan Calheiros já se mostrava contraditória com as ações do ex-ministro.

Enquanto chefe da pasta, Pazuello esteve ao menos uma vez com a presidente da Pfizer no Brasil, Marta Díez, em reunião na qual foram discutidas tratativas para o acordo de doses contra a covid-19 com o governo, segundo o próprio Ministério da Saúde.

O encontro virtual com Díez aconteceu em 3 de março de 2021, conforme a agenda oficial do ex-ministro. No mesmo dia, Pazuello também se reuniu com Roy Benchimol, presidente da Janssen do Brasil.

Ainda no mesmo dia dos encontros, o Ministério da Saúde divulgou nota em que afirmava que Pazuello discutiu o "possível cronograma e estimativa de entrega das vacinas da Pfizer", ou seja, participou de tratativas que antecederam o acordo final.

Posteriormente, o governo federal anunciou a compra de 100 milhões de doses da vacina da Pfizer e 38 milhões do imunizante de dose única da Janssen.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.