Bolsonaro posa para foto com vice-líder da extrema-direita alemã
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) posou para foto ao lado da deputada alemã Beatrix von Storch, vice-presidente do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha, na sigla em português).
Em mensagem publicada hoje nas redes sociais, a parlamentar de extrema-direita agradeceu a Bolsonaro "pela amistosa recepção" e disse ter ficado impressionada com a "clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos do nosso tempo" que o presidente mostrou.
"Em um momento em que a esquerda está promovendo sua ideologia por meio de suas redes e organizações internacionais em nível global, nós conservadores devemos trabalhar mais estreitamente em rede e defender nossos valores em nível internacional", disse.
Na última quinta (22), a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) já havia exibido, também nas redes sociais, uma foto com a parlamentar alemã, feita durante um encontro em Brasília. Horas depois, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, fez o mesmo.
A deputada também se encontrou com Marcos Pontes, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, na última quinta-feira. A reportagem do UOL verificou a agenda no site do Ministério da Ciência que aponta que o encontro entre Pontes e von Storch teria ocorrido, às 15h45, no gabinete do ministro.
A reunião está descrita na agenda oficial como "Audiência com Deputada Federal Alemã, Beatrix Amelie Ehrengard Eilika Von Storch". Fotos do encontro foram publicadas no Flickr oficial da pasta e, em uma delas, Pontes sorri ao lado da deputada.
Beatrix von Storch é, pelo lado materno, neta de Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, que serviu como ministro das Finanças da ditadura nazista de Adolf Hitler por mais de 12 anos.
Quem foi o avô de Beatrix von Storch
Inicialmente um conservador tradicional, Schwerin von Krosigk foi nomeado para o posto nos derradeiros meses da República de Weimar, mas acabou abraçando o nazismo com a ascensão de Hitler em 1933.
Na posição de ministro das Finanças, Schwerin von Krosigk foi responsável por confiscar propriedades de judeus e explorar financeiramente áreas conquistadas pela Alemanha nazista.
Após o suicídio de Hitler, em abril de 1945, Schwerin von Krosigk foi ainda alçado ao posto de "ministro-chefe" (equivalente a chanceler) no efêmero governo do almirante Karl Dönitz, que havia assumido o cargo de presidente do que restava da Alemanha.
Concentrado em uma área do norte do país que ainda não havia sido conquistada pelos Aliados, o gabinete durou apenas alguns dias, e logo seus membros foram capturados por tropas britânicas.
Von Krosigk seria mais tarde julgado e condenado pelo Tribunal de Nuremberg, na etapa conhecida como o "julgamento dos ministros", entre 1948 e 1949. Ele foi sentenciado a dez anos de prisão por crimes de guerra, mas foi beneficiado por uma anistia em 1951. Em 1977, morreu.
Histórico da vice-líder da AfD
Ativa em círculos de direita desde os tempos de faculdade, Beatrix von Storch, de 50 anos, chegou a trabalhar como advogada, mas, no fim dos anos 2000, deixou a profissão para se dedicar à política em tempo integral.
O passado nazista da família de Beatrix von Storch passou a ser destacado pela imprensa alemã a partir de 2014, quando ela foi eleita deputada europeia pela AfD — três anos depois, em 2017, ela foi eleita para o Bundestag (Parlamento alemão), representando Berlim.
Em 2016, Von Storch manifestou aprovação à mensagem de um usuário do Facebook que havia perguntado se guardas de fronteira deveriam atirar em refugiados que chegassem ao país, inclusive mulheres com crianças.
Em janeiro de 2018, ela voltou a causar controvérsia ao reclamar publicamente de tuítes da Polícia de Colônia que desejavam feliz ano novo em várias línguas, inclusive o árabe.
"O que diabos está acontecendo neste país? Por que um site oficial da polícia da Renânia do Norte-Vestfália (estado em que fica Colônia) tuíta em árabe?" indagou na ocasião.
"Eles pretendem apaziguar as hordas de homens bárbaros, muçulmanos e estupradores em massa dessa maneira?", escreveu. A rede social apagou a mensagem por violação das regras.
Dentro da AfD, a deputada costuma ser apontada como membro da ala "cristã ultraconservadora". Em 2014, quando os ultradireitistas tomaram o partido, ela afirmou que via a sigla como um veículo para "uma visão cristã da humanidade".
* Com informações de Jean-Philip Struck, da DW Brasil
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