Bolsonarismo manchou o conservadorismo, diz Felipe Moura Brasil
Para o jornalista e âncora da Band News FM Felipe Moura Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os bolsonaristas tentaram usurpar o conservadorismo e ajudaram a "manchar" o significado desse pensamento político no país.
Convidado desta edição do programa "Jornalistas e Etc.", exibido hoje, Moura Brasil afirma que o bolsonarismo buscou "surfar em uma onda de intelectuais que estavam em atividade —muitos na internet, já trazendo esse tipo de elemento para o debate público— para fins eleitorais".
"Eles escolheram esse caminho percebendo que havia uma lacuna de representatividade na política em relação a certas posições", afirmou o jornalista à colunista do UOL Thaís Oyama, que conduz o programa. Você pode assistir a todos os programas do UOL no Canal UOL.
Como exemplos dessas posições, Moura Brasil citou a defesa da redução da maioridade penal e a contrariedade à legalização das drogas e do aborto. Ele destacou, no entanto, que a tradição do pensamento conservador "não tem nada a ver com uma cartilha de posições que você é a favor ou contra".
O conservadorismo, em muitos casos, é o oposto do bolsonarismo. Ele, na verdade, é uma certa predisposição contra sistemas abstratos que buscam impor o poder à força, seja por meios revolucionários, seja por meio dos reacionários.
Felipe Moura Brasil, jornalista
Na avaliação dele, há reacionários que, assim como aqueles que se dizem revolucionários, aceitam cometer "atrocidades" em nome de um passado idílico e idealizado —"como o resgate de uma ditadura militar, por exemplo". "Os fins, para eles, justificam os meios. Isso não é conservadorismo", afirmou.
Em meio a essa análise, Moura Brasil —que se declara como uma pessoa politicamente conservadora— afirmou ainda não acreditar que o conservadorismo tenha sido desmoralizado pelo bolsonarismo.
"Ele [o bolsonarismo] ajudou a manchar o conservadorismo. Mas o conservadorismo, como tradição do pensamento, não está desmoralizado, porque não é imoral. O que é imoral é a usurpação de uma tradição moral de pensamento por um grupo político que tenta se enobrecer por meio dela", declarou.
Impeachment de Bolsonaro é 'imperativo moral'
Questionado sobre a possibilidade de impeachment contra Bolsonaro, o jornalista disse ser favorável à remoção do presidente do poder, desde que respeitados os caminhos legais.
"Eu considero o impeachment de Jair Bolsonaro, neste momento, um imperativo moral", afirmou, fazendo referência às omissões do governo federal em meio à pandemia do coronavírus.
"Prudência foi aquilo que Jair Bolsonaro não teve na conduta da pandemia. E foi exatamente isso que gerou mais de 500 mil mortos por covid-19 no Brasil", disse.
Crítico dos governos do PT, Moura Brasil também afirmou que as questões que estão sendo discutidas hoje no país não se limitam à dualidade entre esquerda e direita, "até porque as práticas bolsonaristas são muito similares às práticas que nós combatíamos nos governos de esquerda".
"Outro dia, por exemplo, o Eduardo Bolsonaro [deputado federal e filho do presidente] estava falando que não vai ter mais esse negócio de compra de apoio de artista de esquerda. Bom, no lugar da compra de apoio de artista, você tem a compra de apoio de policial militar, parlamentar, midiático", afirmou o jornalista, que disse ser "contra todas essas práticas, seja qual for o grupo".
Processo contra Olavo é 'apenas mais um'
Organizador do livro "O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota", que reúne artigos de Olavo de Carvalho, Moura Brasil afirmou que isso não faz com que ele deva concordar ou ficar submisso às ideias do escritor eternamente. "Não faz sentido nenhum", declarou.
Hoje, o jornalista tem na Justiça um processo por danos morais contra Olavo de Carvalho. Segundo ele, a ação não é fruto de algo "específico" contra o escritor, mas sim uma resposta aos ataques e ameaças que vem sofrendo na internet. "Foi o conjunto da obra. Ele fez vários ataques contra mim", disse.
Afirmou encaminhar todos os ataques, sem distinção, para seus advogados. "Quando eles me dizem: 'Felipe, vale a pena nesse caso', eu falo OK, pode processar. E esse [o caso do Olavo] foi apenas mais um", afirmou.
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