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Bolsonaro volta a atacar imprensa para dizer que Fux está 'desinformado'

Do UOL, em São Paulo

05/08/2021 19h49Atualizada em 05/08/2021 20h38

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar a imprensa para criticar uma declaração do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luiz Fux, que hoje cancelou uma reunião entre os chefes dos três Poderes anunciada ainda em meados de julho. A decisão, segundo Fux, foi motivada pelos reiterados ataques de Bolsonaro ao Judiciário diariamente veiculados na mídia.

"Daí vem a imprensa, imprensa esta que lamentavelmente o ministro Fux se alimenta dela para fazer uma nota. Como diz a nota do ministro Fux: 'Contudo, como tem noticiado a imprensa brasileira'... Ora, prezado ministro Fux, se o senhor se basear na imprensa brasileira, o senhor está desinformado", disse o presidente durante sua live semanal.

Apesar de criticar a imprensa, Bolsonaro dedica boa parte de suas transmissões ao vivo para comentar matérias publicadas em grandes veículos quando são de seu interesse. Hoje, por exemplo, o presidente usou uma reportagem do jornal espanhol El País para criticar o governo de esquerda de Alberto Fernández, presidente da Argentina.

Um velho ditado que diz e que vale aqui para o Brasil: se você não lê jornal, você não tem informação; se você lê, você está desinformado. Quando sai coisa na imprensa que tem a ver com chefe de poder ou autoridades, a primeira coisa que eu faço: chamo o assessor e [peço] 'verifica isso aí'. Em 99% das vezes é mentira, é tentativa de intrigar eu [sic] com alguém. Não entro nessa.
Jair Bolsonaro, durante live

Bolsonaro reconheceu, porém, que Fux "tem razão" no que diz respeito ao diálogo entre os Poderes e disse estar aberto a conversar com Fux — sozinho ou também na presença dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG). A única condição, acrescentou, é que o conteúdo da reunião não seja divulgado depois à imprensa.

"Até em guerra os comandantes adversários conversam, até para saber se o outro quer armistício", comparou Bolsonaro. "Vamos rasgar o verbo, [mas] com um compromisso: não sair dali tagarelando para a imprensa. Meu dever é trazer felicidade ao povo brasileiro, eu e o Supremo. É fazer consciência de onde porventura erramos. É o que o povo está pensando, e não o que a imprensa escreve. Só fake news o tempo todo".

Anúncio de Fux

Em resposta aos frequentes ataques do presidente Jair Bolsonaro a ministros do STF, o presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, anunciou hoje o cancelamento de uma reunião entre os chefes dos três Poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário —, combinada em 12 de julho. (Assista ao pronunciamento de Fux abaixo)

"Sua Excelência [Bolsonaro] mantém a divulgação de interpretações equivocadas de decisões do plenário, bem como insiste colocar sob suspeição a higidez do processo eleitoral brasileiro. Diante dessas circunstâncias, o STF informa que está cancelada a reunião outrora anunciada entre chefes de Poderes, entre eles o presidente da República", disse Fux na tarde de hoje.

A decisão vem horas depois de Bolsonaro subir o tom contra Alexandre de Moraes, do STF, e dizer que "a hora dele vai chegar" — uma resposta à decisão do ministro de acolher uma notícia-crime do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e determinar a inclusão do presidente no inquérito das fake news, que investiga o financiamento e a disseminação de notícias falsas.

O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, também tem sido alvo dos ataques.

O presidente da República tem reiterado ofensas e ataques de inverdades a integrantes desta Corte, em especial os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Quando se atinge um dos integrantes, se atinge a Corte por inteira. (...) Diálogo eficiente [entre Poderes] pressupõe compromisso permanente com as próprias palavras, o que infelizmente não temos visto no cenário atual.
Luiz Fux, presidente do STF