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Advogado critica Bolsonaro por desfile de tanques de guerra: 'Covardia'

Colaboração para o UOL

09/08/2021 18h35

Em participação ao UOL News, o advogado Augusto de Arruda Botelho classificou o comboio de tanques de guerra e lança-mísseis que será recebido amanhã pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como "covardia". Os blindados vão percorrer a Esplanada dos Ministérios e vão estacionar em frente ao Palácio do Planalto.

"Eu vejo como uma atitude gravíssima. Tenho dificuldade em afirmar que é uma demonstração de força, acho mais fácil dizer que é uma demonstração de covardia. Essa parada militar, com esse aparato militar, nunca de fato entrou no centro de Brasília, e curiosamente ou não, bem no dia em que uma votação importante, que não deveria nem sequer existir, vai acontecer", avaliou Botelho.

O evento vai acontecer no mesmo dia em que está prevista a votação da PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso no plenário da Câmara dos Deputados. O comandante do comboio vai entregar a Bolsonaro um convite para presenciar o maior treinamento militar da Marinha no Planalto Central.

Botelho ainda falou sobre a simbologia de um acontecimento como este num país como o Brasil. "Nós não estamos acostumados com lança-mísseis entrando, em belo dia fora de um feriado federal na capital federal, para entregar um convite para quem quer que seja", disse.

"Portanto, é de um simbolismo muito grande e me preocupa bastante esse tipo de atitude, e me preocupa bastante este tipo de atitude principalmente porque o governo Bolsonaro vive em campanha, vive trazendo para sua cada vez menor base de apoio, esse inimigo oculto, a pauta de costumes. Então, a tentativa de se colocar militares ali, no centro de Brasília, numa data como essa, é bastante marcante para esse tipo de apoiadores", complementou.

PEC do voto impresso

Ao UOL News, o advogado também falou sobre as expectativas da PEC do voto impresso, que será votada amanhã no plenário da Câmara. Para ele, o projeto não passará.

Na avaliação de Botelho, é "curioso" quando o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), diz que o presidente Bolsonaro "garantiu" que respeitará o resultado do plenário.

"É curioso que a gente tenha que ouvir do presidente da Câmara uma afirmação de tranquilidade de que o presidente vai respeitar a votação daqueles que efetivamente são representantes do povo. Isso já me causa preocupação. Com relação ao resultado, acredito, e a história recente tem nos mostrado isso, que o presidente tem dificuldade de emplacar, por sua completa inabilidade política, uma pauta se quer. Não conseguiu a aprovação da maioria das reformas que se propôs fazer, não conseguiu fazer uma composição política mínima, mesmo agora se aliando de forma bastante firme com o Centrão, e mesmo com essa aliança que durante anos reputou como indecente, tenho a impressão e a expectativa de que esse projeto amanhã não passará."

Fraudes nas eleições

O governo federal não apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal) provas de fraudes nas eleições de 2014 e 2018, como o presidente Bolsonaro havia dito que provaria.

"Até agora nada e não veremos essas provas, muito provavelmente. Eu acredito que isso será uma narrativa constante do presidente e seus apoiadores, que mesmo diante da ausência completa de provas vão tentar requentar fatos velhos, como já fizeram num passado recente, pegando um suposto inquérito que existiu mas que não concluiu nada daquilo que eles afirmaram ter concluído em 2018, de que teria havido uma invasão às urnas eletrônicas e que teria conseguido o código-fonte", avaliou Botelho.

Para o advogado, o novo pleito eleitoral será marcado por uma sequência de narrativas falsas, "que tem como base informações que são falsas ou completamente distorcidas".