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Senadores batem boca após Barros acusar CPI de afastar vacinas do Brasil

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

12/08/2021 13h50Atualizada em 12/08/2021 17h16

Senadores bateram boca na CPI da Covid após o depoente de hoje, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), acusar que a comissão estaria afastando do Brasil empresas que vendem vacinas contra o novo coronavírus.

A declaração causou reação imediata de senadores contrários ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que não concordaram com o líder e, após muito bate-boca, a sessão acabou suspensa pelo presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM). A sessão foi retomada por volta das 15h15 e, então, encerrada.

"Quero lembrar aos senhores senadores que o mundo inteiro quer comprar vacinas, e espero que essa CPI traga bons resultados para o Brasil, que produza um efeito positivo para o Brasil. Porque o negativo já produziu muito: afastou muitas empresas interessadas em vender vacina ao Brasil", declarou Barros.

A primeira a reagir à fala de Barros foi a senadora Simone Tebet (MDB-MS): "Isso não é verdade". Em seguida, ela foi acompanhada por diversos senadores independentes e de oposição.

Omar Aziz disse que "afastamos as vacinas que vocês do governo queriam tirar proveito, rapaz". O bate-boca continuou e, diante da falta de diálogo e da irritação da maioria dos senadores, Aziz decidiu suspender a sessão.

O presidente da CPI também vai reavaliar se transforma o convite a Barros em uma convocação, com peso maior e sem a possibilidade de que o depoente falte. No entanto, o próprio Barros tem dito ter interesse em "esclarecer os fatos".

Quando Aziz já tinha comunicado a decisão de suspender a sessão, Simone afirmou ainda ao microfone que não poderia "ficar calada" ao ouvir Barros, porque, antes de a CPI começar os trabalhos, há menos de três meses, o Brasil já registrava quase 400 mil vidas perdidas para a covid-19.

Senadores governistas rebateram com "aceite a realidade" e um novo bate-boca se formou.

Em coletiva após a confusão, Ricardo Barros disse que estar à disposição da CPI, mas que seu "direito de opinião não pode ser cerceado em nenhum momento".

Ele deu as declarações à imprensa ao lado dos senadores governistas da comissão, como Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Jorginho Mello (PL-SC) e Marcos Rogério (DEM-RO).

Deputado diz que Bolsonaro teria citado Barros em 'rolo'

Em depoimento na CPI da Covid, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro citou o nome de Barros por possível envolvimento em eventuais irregularidades no Ministério da Saúde ao ouvir a denúncia sobre pressão para a importação da vacina indiana Covaxin.

Segundo Miranda, Bolsonaro teria, inclusive, usado o termo "rolo" ao se referir a Barros.

Ricardo Barros nega qualquer envolvimento com supostas irregularidades no processo da Covaxin e afirma não ser o parlamentar citado por Bolsonaro.

A suposta pressão pela importação da Covaxin foi revelada pelo servidor Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda, que atua na área técnica do Ministério da Saúde responsável por autorizar ou não pedidos de importação.

Supostamente pressionado a dar celeridade ao aval para chegada da Covaxin ao país, o funcionário teria se recusado a agir dessa forma e disse que sua equipe havia identificado falhas de documentação e inconsistências no acordo firmado com o laboratório indiano Bharat Biotech e a sua intermediária no Brasil, a Precisa Medicamentos.

Ao lado do irmão, Luis Miranda relatou as supostas reações de Bolsonaro após tomar conhecimento da denúncia em conversa no Palácio da Alvorada. Na versão do deputado, o mandatário reconheceu a gravidade dos fatos e comunicou que repassaria o assunto à Polícia Federal.

No entanto, oficialmente, não chegou pedido à Polícia Federal. O ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, chegou a tentar rebater as acusações dos irmãos Miranda, mas há suspeitas de senadores de que, para tanto, tenha utilizado documento falso. Onyx e Luis Miranda deverão comparecer a uma acareação na CPI na próxima quarta (18).

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.