Topo

Aziz diz que Barros mentiu e decide reconvocar deputado para depor na CPI

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

12/08/2021 15h29Atualizada em 12/08/2021 17h02

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), decidiu encerrar a sessão de hoje e afirmou que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), voltará à comissão como convocado. A ação acontece após a cúpula da CPI acreditar que Barros mentiu ao longo do depoimento.

Na avaliação de Aziz, Barros "quer usar a CPI, o mecanismo de investigação, para se defender, não para falar a verdade".

Ainda para Aziz, Barros esteve "desde o primeiro momento defendendo a imunização de rebanho" e ficou "provado" que o líder está no "radar de todo mundo que vende vacina por intermediação". Intermediários estão no centro de negociações investigadas pela CPI.

"Sempre tem uma narrativa, uma desculpa, um pretexto [de Barros]. Posso assegurar: ainda não chegamos nem na metade das perguntas que o [relator] senador Renan [Calheiros] tinha para fazer. Tinha muito mais novidade, perguntas e provas que serão guardados para o próximo dia que vamos marcar porque convocado ele já está."

Os senadores independentes e da oposição também se irritaram quando Barros acusou que a comissão estaria afastando do Brasil empresas que vendem vacinas contra o novo coronavírus. Para esses senadores, esta foi uma das principais "mentiras" ditas por Barros.

"Quero lembrar aos senhores senadores que o mundo inteiro quer comprar vacinas, e espero que essa CPI traga bons resultados para o Brasil, que produza um efeito positivo para o Brasil. Porque o negativo já produziu muito: afastou muitas empresas interessadas em vender vacina ao Brasil", declarou o líder do governo.

A declaração de Barros causou reação imediata de senadores contrários ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que não concordaram com o líder.

Após muito bate-boca, a sessão acabou suspensa por Aziz próximo das 13h20. A sessão foi retomada por volta das 15h15, mas, então, logo encerrada após pedido do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), prontamente atendido por Aziz.

Na condição de convocado, Barros não poderá optar por faltar à Comissão Parlamentar de Inquérito, ao contrário de quando há um convite. No entanto, o próprio Barros vinha pressionando para ser ouvido pelo colegiado. A data e o horário do novo depoimento ficam a critério da CPI.

Inicialmente, Barros já seria convocado, mas Aziz transformou o chamamento em convite por "deferência" a pedido do líder.

Após encerrar a sessão, Aziz disse que a convocação é "para quem a gente perde o respeito" ou "quem desrespeita o trabalho da CPI". Ele negou ter politizado a situação.

A primeira a reagir à acusação de Barros de que a CPI estaria espantando empresas de vacinas foi a senadora Simone Tebet (MDB-MS): "Isso não é verdade". Em seguida, ela foi acompanhada por diversos senadores independentes e de oposição.

Omar Aziz disse que "afastamos as vacinas que vocês do governo queriam tirar proveito, rapaz". O bate-boca continuou e, diante da falta de diálogo e da irritação da maioria dos senadores, Aziz decidiu suspender a sessão.

Quando Aziz já tinha comunicado a decisão de suspender a sessão, Simone afirmou ainda ao microfone que não poderia "ficar calada" ao ouvir Barros, porque, antes de a CPI começar os trabalhos, há menos de três meses, o Brasil já registrava quase 400 mil vidas perdidas para a covid-19.

Senadores governistas rebateram com "aceite a realidade" e um novo bate-boca se formou.

Em coletiva após a confusão, Ricardo Barros disse que estar à disposição da CPI, mas que seu "direito de opinião não pode ser cerceado em nenhum momento".

Ele deu as declarações à imprensa ao lado dos senadores governistas da comissão, como Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Jorginho Mello (PL-SC) e Marcos Rogério (DEM-RO).

Mais tarde, em nova coletiva, Barros justificou que ao menos duas empresas estariam evitando o Brasil por terem descredenciado representantes em território nacional, uma das condições para que possam vender vacinas ao Ministério da Saúde, disse.

A fabricante indiana Bharat Biotech decidiu acabar com a parceria com a Precisa Medicamentos para a venda da Covaxin em 23 de julho após denúncias e suspeitas de irregularidades no processo virem à tona. No entanto, a Bharat afirmou que continuaria a trabalhar junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para obter as aprovações necessárias para a liberação do uso da Covaxin.

Já a farmacêutica chinesa CanSino afirmou que rompeu o acordo com a representante Belcher Farmacêutica, no final de junho, mas seguir interessada em vender vacinas ao Brasil, segundo senadores da oposição. Isso contraria a fala de Barros.

A Belcher é sediada em Maringá, no Paraná, terra-natal de Barros. O líder confirmou ser amigo dos donos da empresa.

"A narrativa de corrupção no governo Bolsonaro é deles [CPI]. O fato concreto é que não tem corrupção nenhuma, o contrato nem foi executado. Estou absolutamente tranquilo quanto às minhas declarações, eu fui ministro da Saúde e sei do que estou falando", disse.

"Entendi tudo [o que aconteceu na CPI], o jogo não estava bom. Ele é o dono da bola, põe a bola embaixo do braço e vai embora, não quer jogar mais", completou.

Barros ainda afirmou que "a narrativa da CPI está perdendo força" e que retornará "para um embate tão bom quanto foi hoje".

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que a comissão consultará o STF (Supremo Tribunal Federal) para saber como proceder "se o deputado voltar aqui e insistir nas mentiras".

Deputado diz que Bolsonaro teria citado Barros em 'rolo'

Em depoimento na CPI da Covid, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro citou o nome de Barros por possível envolvimento em eventuais irregularidades no Ministério da Saúde ao ouvir a denúncia sobre pressão para a importação da vacina indiana Covaxin.

Segundo Miranda, Bolsonaro teria, inclusive, usado o termo "rolo" ao se referir a Barros.

Ricardo Barros nega qualquer envolvimento com supostas irregularidades no processo da Covaxin e afirma não ser o parlamentar citado por Bolsonaro.

A suposta pressão pela importação da Covaxin foi revelada pelo servidor Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda, que atua na área técnica do Ministério da Saúde responsável por autorizar ou não pedidos de importação.

Supostamente pressionado a dar celeridade ao aval para chegada da Covaxin ao país, o funcionário teria se recusado a agir dessa forma e disse que sua equipe havia identificado falhas de documentação e inconsistências no acordo firmado com o laboratório indiano Bharat Biotech e a sua intermediária no Brasil, a Precisa Medicamentos.

Ao lado do irmão, Luis Miranda relatou as supostas reações de Bolsonaro após tomar conhecimento da denúncia em conversa no Palácio da Alvorada. Na versão do deputado, o mandatário reconheceu a gravidade dos fatos e comunicou que repassaria o assunto à Polícia Federal.

No entanto, oficialmente, não chegou pedido à Polícia Federal. O ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, chegou a tentar rebater as acusações dos irmãos Miranda, mas há suspeitas de senadores de que, para tanto, tenha utilizado documento falso. Onyx e Luis Miranda deverão comparecer a uma acareação na CPI na próxima quarta (18).

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.