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Publicitário Duda Mendonça morre em São Paulo aos 77 anos

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

16/08/2021 07h51

Conhecido por comandar campanhas políticas vitoriosas, o publicitário baiano Duda Mendonça morreu em São Paulo aos 77 anos. A informação foi confirmada ao UOL por pessoas próximas a ele.

Duda Mendonça estava internado no Hospital Sírio-Libanês, na região central de São Paulo, desde junho. Ele deixa cinco filhos e a esposa, Aline Mendonça.

Essa era a segunda vez este ano que o publicitário passava pelo Sírio. De acordo com a GloboNews, ele tratava um câncer no cérebro e foi diagnosticado com covid-19.

Por enquanto, o hospital não confirma a morte do publicitário por recomendação da família, que desde a internação proibiu a divulgação de boletins médicos.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manifestou pesar pela morte do publicitário, "um gênio da comunicação política".

Duda Mendonça foi um gênio da comunicação política. O seu trabalho na campanha de 2002 já está na história como uma das campanhas mais bonitas e sensíveis da nossa história."
Lula sobre a morte de Duda Mendonça

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), também comentou a morte de Duda Mendonça:

Projeção nacional

duda mendonça com maluf - Rogerio Assis/Folhapress - Rogerio Assis/Folhapress
01.10.98 - De boné, o publicitário Duda Mendonça conversa com Paulo Maluf antes de debate entre candidatos
Imagem: Rogerio Assis/Folhapress

Duda ganhou fama em 1992, quando repaginou a imagem de Paulo Maluf (PP) e o levou a uma campanha vitoriosa à Prefeitura de São Paulo. Mas é conhecido principalmente por ter comandado a primeira campanha eleitoral à Presidência da República vencida por Lula, em 2002, com o slogan "Lulinha, Paz e Amor".

Mas Duda também fez história em campanhas com Ciro Gomes (PDT), no Ceará, Miguel Arraes, em Pernambuco, Paulo Skaf (MDB), em São Paulo, e até com o ex-primeiro-ministro de Portugal Pedro Santana Lopes.

Mensalão

duda mendonça lula - 	Alan Marques/Folhapress - 	Alan Marques/Folhapress
24.04.2002 - O publicitário Duda Mendonça (à direita) dirige Lula, então pré-candidato do PT à Presidência, em gravação de programa eleitoral
Imagem: Alan Marques/Folhapress

A imagem de Duda acabou arranhada durante o escândalo do mensalão, ainda no governo Lula, quando foi acusado de usar uma offshore nas Bahamas para receber pelos serviços prestados ao PT.

Em 2005, ele confessou à CPI dos Correios ter recebido, via caixa 2, um total de R$ 10,5 milhões pela campanha que elegeu Lula. O crime, no entanto, seria o de sonegação fiscal e não o de lavagem de dinheiro, segundo sua defesa. Por essa razão, pagou ao fisco R$ 4,8 milhões.

Embora tenha virado réu, terminou absolvido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2012 por falta de provas de que ele teria conhecimento sobre a origem do dinheiro. Também não ficou provado que ele tivesse a intenção de ocultar a verba.

O nome do marqueteiro voltaria às manchetes em 2016, quando acabou envolvido na Operação Lava Jato. A suspeita, delatada por executivos da Odebrecht, era de que ele teria recebido R$ 10 milhões para o grupo político do então presidente Michel Temer (MDB).

No ano seguinte, ele assinou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Suas revelações trataram de supostas irregularidades na contratação de gráficas que prestaram serviço à campanha eleitoral de 2014 de Dilma Rousseff (PT) e Temer.

Ex-corretor de imóveis

duda mendonça - Victor Moriyama/Folhapress - Victor Moriyama/Folhapress
12.06.2013 - Duda Mendonça em entrevista exclusiva para o UOL e Folha de S.Paulo
Imagem: Victor Moriyama/Folhapress

Antes de trabalhar com marketing político, Duda Mendonça chegou a cursar administração na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Ele acabou abandonando o curso para trabalhar como corretor de imóveis. Suas ideias para promover as vendas acabaram despertando nele o interesse pela publicidade.

Em 1975 ele finalmente cria a agência DM9 Propaganda, quando passa a atender justamente a imobiliária para a qual havia trabalhado. Ele iniciou no marketing político em 1985 ao cuidar da campanha de Mário Kertész para prefeito de Salvador usando um coração como símbolo.

Após receber diversos prêmios nos anos seguintes, Duda aceita Domingos Logullo e Nizan Guanaes, ex-estagiário da agência, como sócios em 1988, quando abre um escritório em São Paulo.

Em 1990, ele aproveitou a mesma ideia do coração como símbolo na campanha de Maluf para governador de São Paulo. A vitória da dobradinha, porém, ocorreu apenas na disputa seguinte, para a Prefeitura de São Paulo, em 1992, quando o marqueteiro usou quatro corações para criar um novo símbolo para Maluf, um trevo.

Ao vencer a eleição, Duda Mendonça ganha projeção nacional. Sua ascensão, porém, chega ao auge em 2002, quando leva Lula à vitória eleitoral depois de amargar três derrotas consecutivas.

Antes de ter seu nome envolvido no mensalão, Duda Mendonça foi preso em outubro de 2004 em uma operação da Polícia Federal contra rinhas de galo em um sítio na zona oeste do Rio de Janeiro.

O flagrante —que surpreendeu 200 pessoas, incluindo o marqueteiro— repercutiu na campanha que ele desenvolvia para a reeleição de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo, que acabou derrotada.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que informava a reportagem, Duda Mendonça deixa cinco filhos, não quatro. A informação já foi corrigida.