Com flores e bandeiras, ato em SP contra Bolsonaro mira combate à fome
Sob um sol forte, o ato contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reuniu manifestantes no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Ao mesmo tempo, apoiadores do presidente ocuparam a avenida Paulista, a pouco mais de 3 km dali. Segundo estimativa da Polícia Militares, foram 125 mil na Paulista e 15 mil no Anhangabaú. A organização do ato no centro falou em 50 mil participantes.
A maioria usava máscara e álcool gel como medida de proteção contra a pandemia da covid. Com mais manifestantes chegando ao evento, no início da tarde, não foi mais possível manter o distanciamento social entre as pessoas. Mas um carro de som orientava no uso da medida: "A máscara tem que cobrir o nariz", anunciava.
Militantes do MTST, da CUT e representantes religiosos abriram os discursos com foco no combate à fome e na defesa pela liberdade. Por volta das 15h, começaram a chegar lideranças da esquerda.
A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT, considerou que os atos a favor de Bolsonaro em Brasília foram menores do que o presidente esperava. "Nós fazemos manifestações do Grito dos Excluídos há 27 anos. Os atos do Bolsonaro ficaram aquém do que ele esperava, a população não se sente representada", disse ao UOL.
Questionada sobre uma reunião que Bolsonaro anunciou que fará amanhã com representantes de outros Poderes, a petista disse não ter sido informada sobre nada a respeito.
"O que a vida quer da gente é coragem", disse Guilherme Boulos (PSOL), evocando a frase de Guimarães Rosa em "Grande Sertão Veredas" para pedir que a população lute pela democracia.
"A rua não é dos fascistas. É de quem representa a maioria do povo brasileiro", disse. "O Brasil não quer saber de ataques às urnas eletrônicas. O Brasil quer saber do combate à fome, do preço do feijão, e não do fuzil."
Ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) declarou que o projeto político de Bolsonaro consiste em defender os filhos e que "por 28 anos desviou dinheiro público e enriqueceu".
"Bolsonaro conseguiu uma coisa inédita, que foi dividir os brasileiros no dia da independência", disse ele. "Temos um ato na Paulista de gente defendendo o fascismo e a tortura."
Houve muitos gritos de "Fora, Bolsonaro" e "Fora, Doria". Uma grande faixa com as cores da bandeira brasileira trazia também o pedido de impeachment de Bolsonaro. Ela ia da entrada do vale até a praça das Artes.
Também estiveram presentes os deputados federais Orlando Silva (PCdoB) e Paulo Teixeira (PT), o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) e a deputada estadual Isa Penna (PSOL).
Enquanto o ato se encaminhava para o final, organizadores pediram que manifestantes tirassem adesivos e mantivessem abaixadas as bandeiras contra Bolsonaro para evitar conflitos no metrô. "Pessoal, muito cuidado. Vão em grupo, não aceitem provocação", diz um dos organizadores.
A reportagem não viu cenas de intimidação nem de violência até o final do ato, que acabou no horário combinado com a Polícia Militar, às 17h.
Religiosos falam de fome
"Quem tira o pão do pobre é assassino", afirma o padre Antônio Alves no trio elétrico.
A fala do padre Antônio foi precedida por Simone Dias, da coalizão evangélica. "A classe trabalhadora vai exorcizar Bolsonaro do Brasil."
Também discursou no ato Katia Dias, representando religiões de matriz africana.
Próximo ao carro de som há barraquinhas distribuindo alimentos à população em situação de rua e pessoas em necessidade.
Samuel Oliveira, 24, assessor de imprensa, se disse evangélico, mas distante de Bolsonaro.
"A minha fé combina com justiça, com vida e com amor, e o Bolsonaro representa o inverso disso tudo. As mesmas pessoas que mataram o meu mestre Jesus são as pessoas que hoje seguem Bolsonaro."
Um frade franciscano ecoou a fala. "Todo ato que luta pela justiça é um ato pela causa do reino de Deus, porque Deus promove a justiça. Todo aquele que vai contra a justiça e a democracia está longe da vontade de Deus", disse frei João Paulo da Luz, 24.
Flores e bandeira
Entre os participantes, em sua grande maioria com camisetas e bandeiras vermelhas, representando movimentos sociais e partidos políticos de esquerda, era possível avistar um jovem enrolado com a bandeira do país, símbolo hoje fortemente atrelado aos apoiadores do governo Bolsonaro.
Para o publicitário Yuri Esteves, 27, trajar a bandeira brasileira era importante: "A bandeira nacional é a representação de todo o povo brasileiro e de sua história. Ela sempre teve presente em todas as reivindicações populares. Estar com ela hoje significa ressignificar e disputar no imaginário que a bandeira é do povo não é só de um campo político".
A geógrafa brasiliense Dora Sugimoto, 68, e a professora paulista Alfredina Nery, 70, do Coletivo Flores pela Democracia, que entregavam flores feitas de papel para os manifestantes presentes: "O nosso coletivo se opõe a essa política opressora, se colocando a serviço da democracia e defendendo pautas como o não ao Marco Temporal das terras indígenas", afirma Dora.
Policiamento reforçado
Os policiais se concentraram nos principais acessos do Vale do Anhangabaú para monitorar a chegada das pessoas. E grupos de três ou quatro PMs circulavam entre os manifestantes.
O policiamento da Tropa de Choque ficou concentrado no Largo Paissandú, a postos para uma intervenção rápida em caso de um tumulto.
A reportagem do UOL flagrou poucas revistas pessoais. Um manifestante teve uma lata de spray de tinta apreendida. O policial alegou que era um produto inflamável. Também postou nas redes sociais a apreensão de um kit molotov, sem incidentes relacionados.
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