Mourão: Não há clima para impeachment e governo tem base no Congresso
O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) minimizou hoje o risco de um impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), dizendo que "não há clima" nas ruas e que o governo tem base no Congresso para barrar processos contra o mandatário.
"Eu não vejo que haja clima para o impeachment do presidente, tanto na população como um todo como dentro do próprio Congresso. Acho que nosso governo tem hoje uma maioria confortável, de mais de 200 deputados, lá dentro. Não é a maioria para aprovar grandes projetos, mas é uma maioria capaz de impedir que algum processo prospere contra a pessoa do presidente da República", afirmou o vice antes do embarque para mais uma viagem a Amazônia.
Depois dos discursos de Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, durante os atos de 7 de Setembro, diversos partidos passaram a falar mais claramente na possibilidade de apoiar processos de impeachment, entre eles, o PSDB, o Cidadania, e o PSD.
Existem hoje 130 pedidos de impeachment contra Bolsonaro sob a guarda do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Cabe a ele decidir sobre a aceitação e abertura de processo contra o presidente. Até o momento, Lira não se manifestou sobre as falas de Bolsonaro ontem.
Na manhã de ontem, na capital federal, Bolsonaro participou de um ato, com discurso abertamente golpista, em que ameaçou o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux. À tarde, na capital paulista, o presidente declarou abertamente que não respeitará "qualquer decisão" do ministro Alexandre de Moraes, incitando seus apoiadores contra o STF. O mandatário ainda xingou o magistrado de "canalha" e pediu sua saída diante de cerca de 125 mil pessoas, segundo a Polícia Militar.
Na avaliação de juristas consultados pelo UOL, ao declarar abertamente que não cumprirá "qualquer decisão" de Moraes, Bolsonaro comete crime de responsabilidade por desrespeitar os outros Poderes.
Depois de ter dito que não compareceria às manifestações, Mourão esteve ao lado Bolsonaro no ato do Dia da Independência e ouviu as ameaças do presidente contra o Supremo. O vice considerou as manifestações "expressivas", mas não quis comentar o discurso alegando uma questão ética.
Vice critica inquéritos conduzidos por Moraes
Mourão criticou os inquéritos conduzidos por Moraes que, por se aproximarem de Bolsonaro e de seus filhos, tornam o ministro alvo preferencial do presidente.
"Na minha visão existe um tensionamento principalmente entre o Judiciário e o Executivo. Eu tenho a ideia muito clara que o inquérito que é conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes não está correto, juiz não pode conduzir inquérito. Eu acho que tudo se resolveria se o inquérito passasse para a mão da PGR [Procuradoria-Geral da República] e acabou. Isso aí distensionaria todos os problemas", alegou.
Moraes é responsável por inquéritos que apuram o financiamento e a organização dos atos antidemocráticos realizados por aliados do presidente neste 7 de setembro, feriado da Independência. O magistrado também conduz a investigação que apura ameaças e notícias falsas que miram os integrantes do STF.
No entanto, parte das medidas determinadas recentemente pelo ministro, e que miravam apoiadores do presidente, foram feitas a pedido da própria PGR, como as operações de busca e apreensão contra bolsonaristas que organizavam parte do protesto de ontem, com ameaças contra o Congresso Nacional e o Supremo.
* Com informações da Reuters
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