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Empresa familiar de Tolentino recebeu 96% de pagamento da Precisa, diz CPI

O advogado e empresário Marcos Tolentino da Silva ao prestar depoimento à CPI da Covid - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O advogado e empresário Marcos Tolentino da Silva ao prestar depoimento à CPI da Covid Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

14/09/2021 18h36Atualizada em 14/09/2021 18h40

A empresa Brasil Space Air Log, da família de Marcos Tolentino, recebeu do FIB Bank o equivalente a 96% do que a Precisa Medicamentos pagou à instituição para a emissão de uma garantia no negócio da vacina Covaxin com o Ministério da Saúde, informou o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL).

O advogado e empresário Marcos Tolentino prestou depoimento hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito, mas, amparado em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), manteve-se em silêncio diante da maioria das perguntas dos senadores do colegiado.

Ele é apontado como amigo do líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), envolto em suspeitas relacionadas à negociação das vacinas Covaxin e Convidecia com o governo federal, e suposto 'sócio oculto' do FIB Bank por parte dos senadores da CPI. Hoje, Tolentino negou ser sócio do FIB Bank, mas não prestou todos os detalhes sobre sua relação com a empresa ao ser indagado sobre o assunto.

Segundo Renan Calheiros, a transferência de R$ 336 mil do FIB Bank à Brasil Space Air Log aconteceu no mesmo dia em que a Precisa pagou R$ 350 mil ao FIB Bank para que este emitisse uma garantia fidejussória no caso Covaxin e, assim, pudesse levar adiante as negociações com o ministério.

"As movimentações financeiras mostram que a Brasil Space Air Log, empresa que pertence de fato ao senhor Marcos Tolentino, recebeu do FIB Bank R$ 336 mil dos R$ 350 mil no mesmo dia em que esse valor foi pago pela Precisa Medicamentos. Os outros R$ 14 mil foram, portanto - isso aqui está comprovado -, destinados a Wagner Potenza, ex-presidente do FIB Bank", declarou Renan.

O relator da CPI afirmou que "isso tudo está comprovado aqui nos levantamentos" e, por isso, seria imprecisa a informação de Tolentino de que nenhuma empresa dele recebeu algum valor do FIB Bank pela emissão de garantia fidejussória em favor da Precisa Medicamentos.

Na avaliação das alas oposicionista e independente da CPI, o repasse é uma das evidências mais contundentes que reforçam a ligação de Tolentino com o FIB Bank.

As transferências teriam ocorrido em 23 de março deste ano, afirmaram senadores. Nessa época, Tolentino estava internado no hospital devido à covid-19, segundo o próprio.

Isso levou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), a questionar Tolentino quem o representava nos negócios enquanto internado. O depoente disse que, "como são várias empresas", iria permanecer em silêncio, pois não saberia a resposta correta no momento.

Renan disse que Tolentino foi sócio da Brasil Space Air Log entre 2018 e 2020. Após sua saída do quadro societário, a mãe do depoente —de 81 anos— teria permanecido no comando da empresa.

O advogado de Tolentino informou que, ontem, Tolentino voltou a fazer parte do comando da empresa. Ao ser questionado sobre qual gerência exerce agora sobre a Brasil Space, o depoente preferiu se manter em silêncio.

Em outro momento do depoimento, Tolentino disse que a Brasil Space é uma "empresa familiar".

Outro ponto levantado é que a empresa Brasil Space Air Log Conservação Aérea recebeu, ao todo, R$ 1,9 milhão do FIB Bank por meio de 19 transferências bancárias entre 4 de junho de 2020 e 12 de maio de 2021, informaram Renan e o senador Humberto Costa (PT-PE).

Indagado sobre o motivo dessas transferências, Tolentino ficou em silêncio.

A composição societária do FIB Bank é objeto de fortes suspeitas em relação às investigações da CPI. Os parlamentes descobriram, durante a apuração, que a empresa de garantias foi registrada originalmente em nome de pessoas que nunca tiveram quaisquer relações com ela —entre as quais um morador de Alagoas que briga na Justiça para desvincular o seu nome da empresa.

O contrato para a compra da Covaxin acabou sendo cancelado pelo governo federal após série de denúncias envolvendo o caso vir à tona.

Tolentino também relatou ter tido alguns "encontros" "meramente casuais" com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas negou ser amigo do governante.

"Informo que conheço o presidente desde o período em que era deputado federal, mas não possuo nenhuma amizade pessoal ou qualquer outro tipo de relacionamento", disse. "Estive com ele em alguns encontros, meramente casuais. Inclusive, se pegar até as datas em que comecei a voltar para cá, já foi em junho, julho, no marco regulatório das TVs."

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.