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Ministro da CGU chama Simone Tebet de 'descontrolada', e CPI é encerrada

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

21/09/2021 16h32Atualizada em 21/09/2021 19h27

Em depoimento à CPI da Covid, Wagner do Rosário, ministro da CGU (Controladoria-Geral da União), disse hoje em depoimento que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) estava "totalmente descontrolada". A declaração elevou o clima de tensão na sessão, que chegou a ser suspensa por causa do tumulto, e o integrante do governo Jair Bolsonaro foi chamado de moleque por senadores.

Após a confusão, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), encerrou o depoimento. Rosário passou de testemunha para investigado na CPI, que vê indícios de omissão da CGU no caso da Covaxin.

Senadores de oposição e independentes saíram em defesa de Simone Tebet e disseram que Rosário estava sendo machista. O ministro havia sido questionado pela senadora sobre a atuação da CGU ao longo das negociações da Precisa Medicamentos com o Ministério da Saúde, envoltas em suspeitas de irregularidades.

Simone afirmou que a imprensa apontou irregularidades antes da CGU e disse parabenizar o "trabalho do órgão, mas não o trabalho do ministro". Isso porque, a seu ver, Rosário não deveria ter defendido em coletiva um "contrato irregular que está em processo de investigação pela própria CGU".

"Lamento muito o papel que vossa excelência está fazendo, o desserviço para o país, para com o dinheiro público. O senhor não é advogado do presidente da República, do ministro da Saúde nem o advogado na estrutura da CGU. Tem que atuar como órgão preventivo de fiscalização e controle. Então, está invertido. Ao invés de estar na cabeça da CGU uma suspeita que foi denunciada, resolvem fazer o processo de advogado de defesa."

A senadora também disse que o episódio lhe lembrou que "já tivemos um procurador-geral da República engavetador e agora temos um controlador-geral da União que passa pano, deixa as coisas acontecerem".

Ao falar após a senadora, Rosário "recomendou" que Simone "lesse tudo de novo", porque as informações dadas pela senadora estariam incorretas, avaliou. Eles então passaram a bater boca. Simone disse que os dados apresentados foram fruto de trabalho da própria e de assessores de seu gabinete. Fora do foco da câmera da TV Senado, houve senador que chamou Rosário de "moleque".

A tensão no plenário da CPI continuou a subir. Simone disse que Rosário estava "se comportando como um menino mimado". Em resposta, ele disse que a senadora estava "descontrolada".

Não me chame de menino mimado, eu não lhe agredi. A senhora está totalmente descontrolada."
Wagner Rosário, ministro da CGU

A partir daí, os ânimos se exaltaram mais ainda, com a maioria dos senadores criticando a fala de Rosário. "Machista", "Está pensando que está onde?" e "Moleque de recado" foram algumas das manifestações contra Rosário. Um dos mais exaltados foi o senador Otto Alencar (PSD-BA).

[Wagner Rosário] Não é um coordenador, isso é um moleque. Um moleque, um moleque, pau mandado [do governo]."
Otto Alencar, senador

Rosário e a maioria dos senadores se levantaram das mesas e passaram a discutir de maneira mais próxima. Omar Aziz inicialmente suspendeu a reunião da CPI e, depois, anunciou que seria encerrada por hoje, não sem antes afirmar que Rosário passará da condição de testemunha para investigado.

Agentes de segurança na reunião estavam de prontidão e se aproximaram de Aziz e de Rosário, quando este se levantou, mas não houve registro de violência física.

Os senadores Leila Barros (Cidadania-DF) e Marcos Rogério (DEM-RO) ainda ficaram batendo boca ao microfone, até que este foi cortado.

Após o tumulto, no corredor do Senado em que ficam as comissões, Simone disse ter conversado com o ministro e que o episódio é "página virada".

Ele fez um pedido [de desculpas] privado, embora devesse ser público, e para mim é página virada."
Simone Tebet, senadora do MDB-MS

A senadora afirmou que o ministro da CGU, depois de ambos conversarem, "demorou", mas "entendeu que se exaltou".

"Foi muito tenso. E faço aqui um pedido para os próximos depoentes. Não venham armados. Venham desarmados, prontos para responder, porque esta é uma Casa que sabe tratar com respeito qualquer depoente, qualquer pessoa que esteja na mesa de uma CPI. Mas esta é uma Casa que não aceita desrespeito, arrogância, petulância e não aceita mentiras", disse.

O senador da tropa de choque bolsonarista na CPI, Marcos Rogério saiu em defesa do ministro da CGU, disse que ele foi provocado e afirmou que a declaração contra Simone foi "fora do tom".

"[Rosário] foi o tempo todo provocado. Foi chamado de prevaricador pelo presidente da CPI. No final, durante fala da senadora Simone, durante provocação que ela fez, comparando ele ao 'engavetador-geral', ele deu uma resposta fora do tom. Não é adequado. Não só por ela ser uma mulher, por estar na CPI. Não pode-se fazer com nenhum senador. Acho que foi uma reação fora de tom, desnecessária", disse.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.