Defesa de médicos diz que pedido de obediência na Prevent impedia autonomia
A advogada Bruna Morato, que defende os médicos que denunciaram a operadora de saúde Prevent Senior por uso de remédios ineficazes no tratamento da covid-19, declarou ao jornal El Pais Brasil que os constantes pedidos de lealdade e obediência dentro da rede impediam a autonomia dos profissionais. Procurada pelo UOL, a Prevent Senior afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso.
De acordo com denúncia enviada à CPI da Covid, no Senado, a empresa supostamente pressionava os médicos a fazerem o uso do chamado "kit covid" em pacientes com coronavírus em uma espécie de "estudo clínico" mesmo sem autorização dos órgãos competentes.
O kit é composto por medicamentos, como cloroquina, azitromicina e ivermectina, ineficazes contra a doença. O uso desses remédios foi estimulado de forma indiscriminada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao longo da pandemia, na contramão do que orienta a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Morato irá falar amanhã na CPI da Covid, no Senado, seis dias após o depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior. Ela afirma que vai "levar a verdade" sobre o caso ao colegiado e explicou que seus clientes "amam seus paciente e só querem prestar um bom serviço médico, trabalhar com autonomia e dar o tratamento correto".
"Mas, a partir do momento em que existe um conceito arraigado de lealdade e obediência dentro de uma instituição como a Prevent Senior, não existe autonomia", disse a advogada ao jornal El País Brasil.
Além de Batista Júnior, acusado de supostamente constranger os profissionais, de acordo com denúncias encaminhadas à CPI, a Prevent Senior também é apontada como responsável por ocultar as mortes por covid-19 a fim de direcionar a conclusão do suposto estudo e ter impedido o uso de equipamento de proteção individual em suas instalações.
A defesa da Prevent Senior afirmou anteriormente ser vítima de fraude em relação às suspeitas apuradas pela comissão após a divulgação do dossiê com as denúncias. Já a advogada dos profissionais da saúde declarou que a Prevent "caçou" os denunciantes e afirmou que os trabalhadores "estão sendo perseguidos, estigmatizados e desqualificados".
Morato ainda disse ao jornal que em março de 2020 começou a receber informações sobre o uso de medicamentos ineficazes na Prevent e ela afirmou ter demorado "para acreditar e entender a história".
"Obviamente tive que pedir provas, documentos. Busquei pacientes para checar as denúncias. As coisas foram acontecendo como uma bola de neve. Tudo foi duplamente checado", sustenta.
Defesa nega acusações da Prevent
A advogada nega a acusação da operadora de que os profissionais denunciantes acessaram os dados de pacientes que não estavam sob os seus cuidados, o que seria enquadrado como infração.
A CPI aprovou na última semana o requerimento para o acesso aos prontuários completos do médico Anthony Wong e de Regina Hang, mãe do empresário bolsonarista Luciano Hang, que também irá depor esta semana. Ambos morreram na pandemia e a suspeita é de foi de covid-19, embora os atestados de óbito não citem essa causa, segundo documentos obtidos pelos senadores na comissão. Eles haviam sido internados em estabelecimentos sob responsabilidade da Prevent Senior.
"Quando pacientes com certa notoriedade são internados e passam a ser atendidos por um grupo de médicos, esse mesmo grupo de profissionais passa informações para seus colegas", alegou a defesa dos profissionais. "Independentemente do acesso ao prontuário, os médicos começam a comentar entre si que fulano evoluiu de tal forma, está tomando tal medicamento."
Morato ainda declarou que a Prevent não sabe exatamente quem são os 12 denunciantes e apenas "intui" os nomes. A explicação da advogada rebate a fala de Batista Júnior à CPI de que esses profissionais são "médicos [que] foram excluídos da empresa por graves falhas éticas e morais, como invasão de prontuários e tratamento inadequado de pacientes, muitos deles com queixas em compliance".
A defesa ainda explicou que as conversas e mensagens de textos anexadas ao dossiê, divulgado inicialmente pelo canal GloboNews, foram disponibilizadas integralmente, sem qualquer corte ou edição.
*Com informações de Hanrrikson de Andrade, Luciana Amaral e Thaís Augusto, do UOL, em Brasília e em São Paulo
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