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Senadores criticam brincadeiras de Hang após ironias com a CPI da Covid

O empresário e presidente da varejista Havan, Luciano Hang, depõe hoje à CPI - Reprodução/Facebook
O empresário e presidente da varejista Havan, Luciano Hang, depõe hoje à CPI Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

29/09/2021 10h00Atualizada em 29/09/2021 10h32

A CPI da Covid ouve hoje o empresário Luciano Hang, dono da varejista Havan. Há expectativa nos bastidores da comissão de que o depoimento será tenso e marcado por disputas e provocações.

O senador Otto Alencar (PSD-BA), membro da comissão, afirmou que se o empresário que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) brincar com os parlamentares, "vai se dar muito mal".

Na segunda-feira (27), Hang postou um vídeo com ironia em relação à convocação para comparecer ao Senado. Ele aparece algemado e desafiou os parlamentares.

"Eu acho que ele [Luciano Hang] é um empresário bem-sucedido, mas é também uma figura exótica e disse que ia comprar as algemas para dar aos senadores, brincando aqui com o Senado. Não adianta ele chegar aqui com algemas e vestido de verde parecendo um papagaio. Vamos ter que arrumar uma gaiola para ele também. É muito mais adequado do que as algemas. A CPI não é lugar de brincadeira. Se ele vier brincar aqui, ele vai se dar muito mal", disse Alencar à CNN Brasil.

Ao contrário de grande parte dos ouvidos pela comissão, Hang não recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) para pedir um habeas corpus que permita que ele se cale em seu depoimento.

Na manhã de hoje, ele postou uma citação bíblica nas redes sociais e disse que irá sozinho, mas sabe que Deus e seus seguidores estarão com ele.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) disse à GloboNews que a CPI já tem elementos suficientes que induzem responsabilidade de diversas pessoas, inclusive do depoente de hoje.

"Se a presidência constatar que está havendo uma autopromoção, eu acho que seria prudente cancelar o depoimento porque você não precisa de uma confissão, daí o trabalho de investigação", explicou.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, disse esperar que o empresário contribua com informações relacionadas ao caso da Prevent Senior.

"Terá armadilhas do depoente e armadilhas dos colegas governistas para tentar, me permitam o termo, melar no final [os trabalhos da CPI]. Atrapalhar no final. Temos que ter serenidade para superar esses obstáculos. Será um depoimento como tantos outros que vocês acompanharam, mas precisaremos ter um pouquinho mais de cuidado para não recair em provocações", disse Randolfe.

O senador disse esperar que Hang se comporte "conforme reza o Código de Processo Penal sobre depoimentos" e lembrou que o empresário não tem imunidade parlamentar.

Relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse que Hang ensaia uma "pastelão", mas que o colegiado não é um "picadeiro".

"Luciano Hang ensaia pastelão para encenar na CPI. Não adianta; só houve um Joaquin Phoenix no papel do Coringa e não há como imitá-lo. Terá que comparecer quarta-feira, dentro das regras do Senado, e responder pelos crimes de que é acusado. Ali não é picadeiro", escreveu o parlamentar nas redes sociais.

Já políticos governistas criticaram a convocação do empresário. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) manifestou apoio ao empresário e disse que ele só foi convocado por apoiar o governo.

"Se Luciano Hang não fosse um dos principais defensores do governo Bolsonaro, ele jamais seria convocado à CPI. Qual o "crime" do Hang? Avante Hang! Estamos contigo!", escreveu a parlamentar.

O deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) classificou a convocação de Hang como uma "covardia".

"A CPI promove show de horrores utilizando o aparato público para perseguir aliados do Presidente. Agora fazem uma enorme covardia convocando o empresário Luciano Hang. Ele não desviou bilhões da pandemia nem comprou respiradores que não funcionam, ele é apenas apoiador do Presidente."

Prevent Senior e 'gabinete paralelo'

A Prevent é acusada de cometer uma série de irregularidades durante o ano de 2020, no auge da crise sanitária. Entre as quais: ocultar mortes por covid-19 e tentar produzir um estudo clandestino para supostamente criar argumentos em favor de medicamentos do chamado "kit covid".

Em depoimento à CPI ontem, a advogada Bruna Morato, representante legal de 12 médicos que fizeram denúncias contra a Prevent Senior, disse que operadora e pessoas que integravam o chamado gabinete paralelo — estrutura de assessoramento informal à Presidência da República durante a pandemia à revelia das orientações do Ministério da Saúde — fizeram um "pacto" pró-hidroxicloroquina para evitar o estabelecimento de medidas de restrição social pelo país na pandemia.

Hang também será cobrado a responder questionamentos sobre disseminação de fake news e sua suposta participação no gabinete paralelo.

As alegações contra a Prevent fazem parte de um dossiê entregue à CPI por um grupo de 12 médicos e ex-médicos da rede de hospitais da operadora. A empresa nega o teor das acusações, as quais define como "sistemáticas e mentirosas".

O nome de Hang é citado ao longo do dossiê obtido pela comissão. De acordo com os denunciantes, a Prevent teria fraudado o atestado de óbito da mãe do dono da Havan, Regina Hang, que morreu em decorrência de complicações de covid-19. Ela se encontrava hospitalizada em uma unidade da rede, em São Paulo.

Em nota enviada à imprensa, Hang afirmou que a "covid passou, mas ficaram as complicações por conta das comorbidades e, por isso, infelizmente ela se foi".

* Com reportagem de Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral, do UOL, em Brasília

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.