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PSDB usará máquina e 'modelo' de Alckmin para reverter desvantagem em SP

Geraldo Alckmin, João Doria e Rodrigo Garcia: juntos em 2018; separados em 2022 - Patricia Stavis/Folhapress
Geraldo Alckmin, João Doria e Rodrigo Garcia: juntos em 2018; separados em 2022 Imagem: Patricia Stavis/Folhapress

Lucas Borges Teixeira e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

06/10/2021 04h00

Um candidato de fala mansa, perfil técnico, com imagem familiar e religiosa, tradicional na política paulista e com força no interior. Se a descrição serve para o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), pode ser aplicada também ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP).

Com ajuda da máquina de governo, é na aposta deste perfil de gestão e tradição — comum entre os dois e estimado no interior paulista — que o PSDB pretende propagar o nome do atual vice-governador para reverter o quadro amplamente favorável a Alckmin, de saída do partido e pré-candidato a governador.

Para os apoiadores de Garcia, ele é um "excelente produto" e o principal desafio é mostrá-lo cada vez mais ao eleitorado, sempre destacando a força do PSDB no estado. Do lado de Alckmin, a aposta é que a campanha tucana demorará a engrenar e seu nome, eleito três vezes ao Palácio dos Bandeirantes, seguirá mais forte na disputa.

Perfis semelhantes, situações diferentes

Oficializada sua saída, será a primeira vez que Alckmin e o PSDB estarão em lados opostos das urnas. Já Garcia, nome tradicional do DEM desde o antigo PFL, foi filiado em maio, sob a articulação do governador João Doria (PSDB-SP), o que representou a gota d'água na relação com Alckmin — trincada desde 2018, com o BolsoDoria.

A situação eleitoral também é distinta. Alckmin aparece em primeiro lugar com folga na última pesquisa DataFolha, de 19 de setembro, com 26% das intenções de voto. Fernando Haddad (PT) em segundo, com 17%, empatado tecnicamente com Márcio França (PSB), que deverá compor a chapa de Alckmin, com 15%.

No cenário em que Garcia aparece como candidato tucano, Haddad aparece em primeiro (23%), seguido por França (19%). Ele está em quinto, com 5%, empatado com Arthur do Val (Patriota).

Entre os tucanos, a diferença é ainda maior: Alckmin tem 48% das intenções de voto entre os simpatizantes do partido e Garcia, apenas 9% — atrás de França e Guilherme Boulos (PSOL).

De um lado, a máquina e a força do PSDB

O cenário desfavorável não parece alarmar o Palácio dos Bandeirantes. A aposta dentro do PSDB é que Garcia tem o perfil certo para o eleitor paulista — o que inclui, por que não, roubar votos de tradicionais eleitores alckmistas.

Em uma pesquisa qualitativa interna, o grupo de Garcia descobriu que consegue transferir até 83% dos votos de quem disse que voltaria em Alckmin. O que é preciso, agora, é trabalhar este perfil.

Garcia tem investido alto em sua imagem nas redes sociais e rodado o interior paulista. Tem dedicado as sextas-feiras a visitar até quatro cidades em diferentes inaugurações. Neste feriadão, deverá fazer outra ronda pelo estado com Doria.

21.jul.2021 - O vice-governador Rodrigo Garcia (à direita), durante a entrega de vacinas da CoronaVac  - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
21.jul.2021 - O vice-governador Rodrigo Garcia (à direita), durante a entrega de vacinas da CoronaVac
Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

A aposta tucana é que não só as agendas de inaugurações como a força do PSDB, que ocupa o governo estadual desde 1995 com Mario Covas, no estado prevalesça.

Além disso, Doria tem uma tropa de choque na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), onde Garcia foi presidente e também tem contatos, que ajuda com lideranças locais.

Do outro, o nome e uma frente ampla

Interlocutores próximos a Alckmin não acreditam na tese de que a candidatura do PSDB, com Garcia na cabeça, irá conseguir reverter o quadro. A expectativa é que o novo tucano só comece a crescer nas pesquisas por volta de setembro de 2022, já na reta final da eleição e que o tradicional eleitor tucano de São Paulo prefira o ex-governador ao PSDB encabeçado por Doria.

Outro argumento entre os alckmistas é que, diferentemente de Doria, que não censura críticas às gestões anteriores, seria difícil para Garcia falar mal dos anos Alckmin, dos quais participou como secretário em três pastas diferentes entre 2011e 2018.

Ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), de saída do partido - GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO - GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO
Ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), de saída do partido
Imagem: GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO

Os apoiadores de Alckmin também observaram que os trejeitos de Garcia têm se assemelhado muito aos do ex-governador, com copia até o jeito de tirar o papel do bolso. Nessa comparação, eles dizem que a população deve preferir o "original".

Ao UOL o ex-governador Márcio França (PSB) — que deve compor chapa com Alckmin para a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes — disse que a expectativa de tucanos é "uma espera angustiante de náufragos".

França disputou o governo com Doria em 2018 e se tornou um dos principais críticos da sua gestão. "No quadro atual, não vão sequer para segundo turno. Doria é uma âncora em São Paulo. Não há esperança sem se soltarem dele", disse França

No grupo de Alckmin, hoje, a expectativa é sobre qual será o destino dele: se o PSD ou o União Brasil, partido que será criado a partir da fusão entre PSL e Democratas — a ser oficialmente anunciada hoje. A segunda opção, que permitira o maior tempo de televisão e mais recursos, é tida como mais provável atualmente. O anúncio para um ou outro deverá ser feito até o meio deste mês.

Sua proposta é formar uma frente ampla em São Paulo, reunindo os apoios dos já citados PSD e PSB, além de Solidariedade e Avante. Também há conversas com o PDT, mas as comitivas nacionais estão esperando uma definição do futuro partido do ex-governador para fechar negócio.