'Queiroga se bolsonarizou e deixou claro de que lado está', diz professor
Em conversa com jornalistas hoje, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse ser "absolutamente contrário" a leis que obrigam uso de máscaras e a exigência do passaporte de vacina contra a covid-19. Na análise do professor e cientista político do Mackenzie Rodrigo Prando esse é um sinal de que Queiroga se "bolsonarizou".
Analisando o trabalho dos ministros à frente da pasta desde o início da pandemia, Prando falou que havia expectativa sobre a gestão de Queiroga. "Por ser médico e um cardiologista reconhecido, se esperava que ele fosse uma moderação e abraçasse a ciência e os protocolos reconhecidos. Ele foi se 'bolsonarizando' e deixou claro com gesto a manifestantes em Nova York de qual lado ele está nessa história", disse ao UOL News.
No mês passado, Queiroga foi aos Estados Unidos para acompanhar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em um evento da ONU (Organização das Nações Unidas). A viagem foi marcada pela falta de vacinação do presidente, um gesto obsceno feito pelo ministro quando a comitiva encontrou manifestantes contra Bolsonaro e a contaminação de Queiroga por covid-19.
Na avaliação de Prando, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) "foi defenestrado do governo" pela boa aceitação do público sobre como ele queria lidar com a pandemia, na época recém-chegada ao Brasil "De repente, o ministro que ia a público com informações tinha mais popularidade do que o presidente", lembrou.
"Depois Nelson Teich entra e, em entrevista, ele nem sabia o que estava acontecendo, o presidente ultrapassou o poder do ministro. Pazuello sabemos o que foi", disse o cientista político.
Críticas divergem de orientações médicas
Hoje, no dia que o Brasil chegou a 600 mil mortes causadas pelo coronavírus, Queiroga falou que obrigar o uso de máscara não faz sentido. "Essa história de lei para obrigar qualquer coisa é absurda, primeiro que não funciona. O que temos que fazer é as pessoas aderirem às recomendações sanitárias, o cuidado é individual, o benefício é de todos", declarou.
"Passaporte disso, passaporte daquilo, a população brasileira em breve vai estar toda vacinada", disse. O discurso do ministro da Saúde vai contra o que especialistas da área têm reforçado: é preciso sim se imunizar completamente, mas não é hora de abandonar outros cuidados, como uso de máscara e higienização frequente das mãos.
Essa não é a primeira vez que Queiroga critica ações semelhantes. No mês passado, ele já havia dito que o passaporte da vacina "não ajuda em nada". "Somos contra isso. O povo brasileiro é livre, queremos que as pessoas exerçam de acordo com sua consciência", afirmou.
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