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PT oferece apoio a Boulos em 2024 para ter PSOL na chapa de Haddad em SP

Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT), pré-candidatos ao governo de São Paulo - Ricardo Stuckert
Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT), pré-candidatos ao governo de São Paulo Imagem: Ricardo Stuckert

Lucas Borges Teixeira e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

09/10/2021 04h00

O PT quer tirar Guilherme Boulos (PSOL) da corrida ao governo de São Paulo para formar uma frente única de esquerda no estado em 2022. De olho no Palácio dos Bandeirantes, o partido ofereceu apoio a uma eventual candidatura do psolista à Prefeitura de São Paulo em 2024. Em troca, o partido deve desistir do pleito para integrar a chapa de Fernando Haddad (PT).

Segundo fontes ligadas aos dois partidos, a proposta está em aberto há pelo menos dois meses. O PSOL nega negociação e alega que os petistas não entenderam que a última eleição mostrou uma mudança de forças. Além disso, argumentam que 2024 está "muito longe".

O PT, que se acostumou a liderar o campo da esquerda nas últimas eleições, viu o PSOL começar a tomar esse espaço a partir do desempenho de Boulos na corrida paulistana no ano passado. Agora, ambos querem ter suas candidaturas para o Palácio dos Bandeirantes. E as pesquisas têm mostrado avanço dos dois partidos, com vantagem para Haddad.

O ex-prefeito aparece com 17% das intenções de voto. Já Boulos, com 11%. Na margem de erro, essa diferença pode cair para até dois pontos.

Embora não fale sobre as propostas abertamente, o PT avalia que o caminho para enfrentar o ex-governador Geraldo Alckmin, que deve sair do PSDB em breve, e o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) fica muito mais fácil se os dois partidos estiverem do mesmo lado, e quer liderar essa frente, com um vice ou um candidato ao Senado psolista (sendo Boulos ou não).

A avaliação interna é que, mais perto da eleição, os campos de esquerda e centro-esquerda deverão escolher apenas um dos dois —e deverão pender para Haddad. Um dos interlocutores disse que seria o "efeito Jilmar Tatto ao contrário", em referência ao candidato petista à Prefeitura de São Paulo em 2020, que viu seu eleitorado migrar para Boulos à medida que se constatou que o psolista tinha mais chances na disputa.

Haddad, que comandou a capital entre 2013 e 2016 e acabou derrotado pelo governador João Doria (PSDB), tem focado sua agenda no interior do estado, tradicional reduto tucano. Oficialmente, ele ainda não se diz candidato, mas o nome no partido está fechado.

Potencial de voto

Em pesquisas internas, os petistas dizem que o ex-presidente Lula (PT) tem mais de 50% das intenções de voto na periferia da capital paulista e que o potencial de voto de Haddad cresce cerca de 10 pontos quando sua foto é mostrada ao lado do ex-presidente, que deve concorrer ao Planalto.

No PSOL, essa proposta é mais do que rejeitada. Para o partido, ela não faz sentido algum. O PSOL, pela primeira vez desde a eleição de 2006, deve abrir mão de uma candidatura ao Planalto para apoiar Lula e o PT no primeiro turno —o que já gerou divergências internas.

Sem a visibilidade de uma corrida nacional, o partido conta com o palanque próprio no estado para reforçar suas candidaturas à Câmara em uma eleição em que a cláusula de barreira cresce, um desempenho que será fundamental para o PSOL garantir acesso ao dinheiro público e a tempo de televisão nas próximas disputas.

Para o presidente estadual do PSOL, João Paulo Rillo, o PT "lançar possibilidades irreais como fato político concreto é uma tática pouco inteligente e de certa forma desrespeitosa". "Não contribui em nada pra nossa unidade nacional."

Em nota, o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, reafirmou que Boulos "é candidato a governador por decisão soberana do nosso congresso em São Paulo e não cogitamos uma retirada". "Levantar essa hipótese é uma falta de respeito conosco. Essa postura pode colocar tudo a perder."

Além disso, o PSOL desconfia da promessa para 2024. Membros do partido dizem que a eleição municipal ainda está "muito longe" e que, caso Lula volte ao Planalto, todo o cenário muda.

Boulos tem realizado agendas pelo estado. Na quinta (7), por exemplo, esteve em Guarulhos, na região metropolitana. O político também já dialoga com outros partidos, como PCdoB, Rede, PDT.

Na Câmara, oito cadeiras do PT e seis do PSOL

Interlocutores do PSOL ficam mais abismados com a possibilidade de o PT atuar contra a candidatura de Boulos em razão do desempenho do partido na última eleição na capital paulista. Na Câmara paulistana, o PT tem oito cadeiras contra seis do PSOL, a menor distância entre os dois partidos.

Uma eventual proposta para o PSOL abrir mão de Boulos seria vista como mais uma tentativa do PT de querer se portar como um partido hegemônico, sem fazer concessões.

"O nome mais capaz e preparado para defender uma mudança radical e estrutural em São Paulo é Guilherme Boulos. Isso ficou evidente em 2020", disse Rillo. "Inclusive, consideramos o Haddad um bom vice em nossa chapa."

Do lado petista, a hipótese reversa também é descartada, com a garantia de que Haddad concorrerá ao Palácio dos Bandeirantes.