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PDT diz que "quem apanha não esquece" e que Lula é omisso contra Bolsonaro

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

15/10/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Ciro Gomes (PDT) foi alvo de petistas após criticar os ex-presidentes Lula e Dilma
  • Presidenciável havia sugerido trégua em razão do movimento contra Bolsonaro

A troca de críticas entre a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) chamou a atenção após o pedetista ter anunciado uma "amplíssima trégua" visando uma união em torno do impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido), atual ocupante do Palácio do Planalto.

O PDT, porém, diz que a trégua nunca significou que Ciro diminuiria o tom em suas falas quando o assunto não fosse o presidente da República. "Foi trégua de palanque. Trégua pelo impeachment de Bolsonaro. Ninguém pode censurar nossa opinião", disse ao UOL Carlos Lupi, presidente nacional do partido.

É a unidade contra Bolsonaro. Você acha que o Roberto Freire [presidente do Cidadania] fala coisa bonita sobre o Lula? Aí vai ter Partido Novo, vai estar o Doria [João Doria, governador de São Paulo, do PSDB]... As divergências que existem entre nós não nos impedem de estarmos no mesmo palanque."
Carlos Lupi, presidente do PDT

"Chumbo trocado"

O embate entre Dilma e Ciro surgiu após o pedetista ter dito, em entrevista a um podcast do jornal O Estado de S. Paulo, que estava seguro de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conspirou pelo impeachment da petista.

Foi o que bastou para Ciro e PT voltarem a trocar farpas uma semana e meia após a "trégua" sugerida pelo presidenciável, que foi alvo de ataques e tentativa de agressão no protesto contra Bolsonaro em São Paulo, em 2 de outubro.

Dilma reagiu dizendo que Ciro mente de maneira descarada. Depois disso, o pedetista e ela passaram a tarde usando o Twitter para trocarem críticas.

"Ele tomou um retorno da Dilma muito pesado. Aí, você sabe, chumbo trocado, não dói", disse Antônio Neto, presidente do PDT paulistano. "Parece que não pode fazer qualquer crítica substantiva aos erros cometidos pelo governo do PT, que, na nossa opinião, pariram Bolsonaro."

Reflexos do impeachment

Ciro atuou contra o impeachment de Dilma. Seu ponto de crítica é a reaproximação do PT com partidos que atuaram para tirar a petista do Planalto em 2016.

"Nós fizemos passeata dizendo que não iria ter golpe. E agora você vê aliança do ex-presidente com os golpistas", disse Neto. Lula não fechou aliança com partidos que apoiaram o impeachment, mas tem dialogado com alguns deles, como o MDB. "Vai fazer a mesma aliança? Você plantou bananeira, vai colher banana. Não vai colher jaboticaba", disse Neto.

Ontem, quem entrou na discussão foi Lula, com ataques à inteligência do ex-aliado. Nas redes sociais, o ex-presidente ainda ironizou quem cobra que o PT faça uma autocrítica sobre seus governos. "Para que eu vou fazer autocrítica se vocês podem me criticar? É mais saudável. Se eu ficar me criticando, o que vai sobrar para os outros falarem?", escreveu.

"Mágoa eterna"?

lupi - 2.out.2014  - Marcelo Sayão/EFE - 2.out.2014  - Marcelo Sayão/EFE
Presidente do PDT, Lupi já esteve em campanha com Lula e Dilma
Imagem: 2.out.2014 - Marcelo Sayão/EFE

No PDT, o novo entrevero apenas reforçou que não se pode esperar união quando o tema for outro que não o impeachment de Bolsonaro. As lideranças do partido lembram que o PT, em certas ocasiões, se recusou a apoiar Leonel Brizola, referência histórica do PDT.

"Eu tenho memória. Esse pessoal pode não ter, mas eu tenho. Isso é dizer que tem mágoa eterna? Não. Estou constatando uma realidade histórica. E o PT só lembra das coisas quando é atingido", disse Lupi. "A minha avó dizia assim: Quem bate não lembra. Quem apanha não esquece."

Neto diz que, mesmo com a trégua em torno do desejo de retirar Bolsonaro do Planalto, Ciro e o PDT não vão "deixar de colocar o dedo nas feridas" quando o debate for sobre a eleição de 2022.

"No mínimo, omissão"

Sobre os movimentos contra o atual presidente da República, o PDT faz uma provocação a Lula, que não participou dos protestos de rua até agora. Quando perguntado sobre a possibilidade de o comportamento de Ciro dificultar a união pelo "fora, Bolsonaro", Lupi questiona: "será que não racha mais a ausência do Lula nos movimentos?" "Acho que a ausência do Lula mostra, no mínimo, essa omissão."

Para o PDT, a trégua é importante para trazer para os atos contra Bolsonaro partidos de centro-direita, "que têm voto no Congresso", disse Neto.

"Preciso atrair PSDB, PP, todos os partidos, os dissidentes deles, para que possam estar juntos nesse processo e se possa fazer o impeachment. Senão, é brincar com o jogo, fazer auê", completou o político, que reforça a disposição do partido de participar de todos os protestos contra Bolsonaro.