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CNBB pede punição a deputado bolsonarista que atacou papa Francisco e bispo

Do UOL, em São Paulo

18/10/2021 09h00

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pediu, em uma carta aberta, que a Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) adote medidas contra o deputado estadual Frederico d'Avila (PSL-SP), que em discurso na tribuna da Casa atacou a instituição, o papa Francisco e o arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes.

Diante da repercussão do sermão de Brandes na missa para celebrar o dia de Nossa Senhora Aparecida, o deputado chamou o bispo de "vagabundo" e "safado" e estendeu as ofensas ao papa. Ele ainda disse que a CNBB era um "câncer que precisa ser extirpado".

"Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade - sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada", diz a carta aberta da CNBB, endereçada ao presidente da Alesp, Carlão Pignatari (PSDB).

No dia 12 de outubro, Dom Orlando Brandes disse durante missa no Santuário de Nossa Senhora Aparecida que, para ser pátria amada, o Brasil "não pode ser pátria armada". A fala ocorreu antes da visita de Jair Bolsonaro (sem partido), defensor do armamento, à cidade.

Deputado defensor de Bolsonaro

Frederico d'Avila é defensor de Bolsonaro e, durante a semana, subiu à tribuna da Alesp para comentar o caso, fazendo ataques ao bispo.

"Seu vagabundo, safado da CNBB, dando recadinho para o presidente [Jair Bolsonaro], para a população brasileira, que pátria amada não é pátria armada. Pátria amada é a pátria que não se submete a essa gentalha, seu safado. Você se esconde atrás da sua batina para fazer proselitismo político, converter as pessoas de bem, da sua ideologia, a ultima coisas que vocês tomam conta e da alma e da espiritualidades das pessoas", disse.

Na sequência do discurso, ele ampliou as ofensas. "Seu vagabundo, safado, que se submete a esse papa vagabundo também. A última coisa que vocês tomam conta é do espírito e do bem-estar e do conforto da alma das pessoas. Você acha que é quem para ficar usando a batina e o altar para ficar fazendo proselitismo político? Seus pedófilos, safados. A CNBB é um câncer que precisa ser extirpado do Brasil", disse.

"Lamentável espetáculo"

Na carta aberta, a A CNBB, chamou o episódio de "lamentável espetáculo" e disse que as "ofensas e acusações proferidas pelo parlamentar serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas" na Justiça.

"Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar", diz a carta.

"Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz", completa.

A CNBB ainda reafirma o "respeito incondicional ao Papa Francisco " e solidariedade a todos os bispos do Brasil e pede para entregar a carta pessoalmente ao presidente da Alesp.

"A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência - postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres", disse.

O UOL entrou em contato com a Alesp e espera um posicionamento sobre possíveis medidas. A reportagem também tenta contato com deputado.

Em seu primeiro mandato, Frederico d'Avila tem se envolvido em polêmicas desde que assumiu o cargo. Em setembro deste ano, ele foi condenado pelo TJ de São Paulo a pagar uma indenização de R$ 8 mil ao PSOL por fazer um post em suas redes sociais dizendo que o partido tem "estritas ligações com o narcotráfico" e que haveria mais de 500 fotos de militantes da legenda "sentados ao lado de criminosos das Farc" (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Já em 2019, o deputado tentou organizar uma homenagem ao ditador chileno Augusto Pinochet, mas diante da repercussão a iniciativa foi impedida pelo presidente da Casa na época, Cauê Macris (PSDB-SP).